segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Adeus ano velho, feliz ano novo!

2007 já acabou. Pelo menos em Sidney. E para mim também. E tudo que eu sinto é calor.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Resoluções de Ano Novo - I



Como me afoguei sem entrar no mar

Tento respirar. Mas o ar está parado. Os edifícios a beira mar estancam tudo que vem de lá. Paralisam Iemanjá. E ainda construíram um prédio maior do que os outros. É como se ele gritasse ali. Como um pavão que abre as asas no meio de pombas pobres. E é feio. É um pavão bege neoclássico. Uma ofensa.

No mais, são as mesmas pessoas, nos mesmos lugares, nos mesmos trajes, com os mesmos assuntos e companhias. Não gosto. Aprendi um caminho seguro por entre essas vidas passadas e ultrapassadas. Ando em linha reta até a Pedro Taques se transformar em Epitácio Pessoa. Sem olhar para os lados. Sem ver quem dirige os carros apressados e com ar-condicionado que circulam nas ruas resfolegantes do verão. E chego onde preciso. Não vou ao shopping. Não vou tomar sorvete. Não vou até ali. Talvez uma solitária água de coco. Sem sorrisos. Sem gentilezas. Só eu e minha vida.

Impossível suportar dias abafados. Nem meus gritos saem. Nem minhas lágrimas. Evaporam com o calor. Impossível agüentar essa passividade. E sinto toda a perda de tempo do mundo naquelas ruas. Sinto os sonhos precários. Os sonhos daqueles que não sonham. Ou sonham pouco. Ou mal. E paradoxalmente vejo estampada a tal da felicidade nesses rostos passivos. Incompreensível para mim.

Almoçando sob o sol da capital – igualmente quente e sufocante – lembrei do homem que corria na praia sem uma das pernas. Uma geringonça metálica o fazia se movimentar normalmente. Naquele homem não vi sonho precário. Vi algo maior do que a cidade pode suportar. Ou eu. E entendi assim – entre uma garfada de alface e filé bem-passado – que não é o lugar. Sou eu.

Porque eu quero mais. Mais do que ver o sol se pôr. Mais do que areia entre os dedos aos sábados. Mais do que um casamento tolo. Mais do que um chopp no bar de sempre. Mais do que aquelas ruas. Mais mais mais mais. Quero mais ar. Quero o mundo para respirar.

Se o mundo inteiro me pudesse ouvir...

Nunca fui fã. Aquele gordo de voz grave e suado me deixava aflita. Uma amiga insistia em cantar suas músicas em karaokês. Era meio deprê. E eu, sem saber o porquê, sempre me lembrava de alguém no meio de seus versos e refrões.

Mas lendo sua biografia, entendi. Tim Maia era libriano. E nasceu em setembro.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Todo meu vazio

Chove. E eu preciso andar três quadras. Só três quarteirões para encontrar você. Paro embaixo da marquise, na frente da farmácia. Os bêbados do boteco ao lado me olham estranho. Meu rímel borrou com a chuva. Minto. Foram as lágrimas. Quem se importa? Minha blusa branca encharcada de chuva está gelada. Minha pele arrepia. Estou sozinha embaixo da marquise esperando a coragem chegar. E os bêbados me acham gostosa. Ou puta. Ou drogada. Falta uma quadra e uma avenida e mais uma quadra. Ou quase. Penso em parar e falar com a menina bonita que é atriz e mora no prédio da esquina. Preciso pedir ajuda. Mas acho que ela não está. Nem tenho intimidade. Meu cabelo já está sem cor. A tinta escorreu com a chuva. Minha blusa está manchada e transparente. Vejo embaçado. Sinto dor. Dentro. Quero voltar. Mas não posso. Quero avançar. Mas minhas pernas não têm forças. Nem minha alma. Preciso de uma vodca.

Lembro do casal de trapezistas que vagava clandestinamente por esses quarteirões. De mãos dadas com o futuro incerto. Deserto. Quero uma mão para segurar a minha, um ombro para encostar a cabeça. E uma toalha quente, branca e felpuda para me secar da chuva. Para secar meu choro. Por que não pode ser você? Porque eu não choro? Mas eu choro e grito e brigo e bato e me suicido se você quiser.

Não vou sair do lugar. Não consigo. A água da chuva entope o bueiro. A enxurrada avança até meus pés. Tenho medo. E se nunca conseguir sair do lugar? Stop waiting, dizia o filme de ontem.

Entre o peito, um espaço que arde. Vácuo que explode em lágrimas. Distância infinita. Para o infinito, basta virar a esquerda e seguir em frente. Começa na minha rua e termina na sua. Descobri isso essa semana. O táxi passou em frente ao seu prédio. Senti frio. E passei gloss. Para ficar bonita.

Distante posso ter você próximo. Guardo a vontade. Acarinho a possibilidade. Próximo, você está longe. E aperta o peito e arde. Congela. Perto, você é todo meu vazio.

P.S.: I love you

Era só um filme. Mas podia ser minha vida. Ou sua. Ou dela. Ou nossa.

Uma mulher, duas amigas. Uma casava e a outra engravidava.

Ele morria. Também dizem que a pessoa parte quando morre. Então, ele partiu. Para não voltar.
Ela o conhecera aos 19 anos. Quando tudo era mais fácil. Mais espontâneo.

Mulheres amam sapatos. E querem homens que as façam rir.

Frase do filme: stop waiting! E comecei a pensar em você...

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Verdade de hoje

Não importa o que aconteça. Sempre terá um fotógrafo para me levar para casa.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Para você que tinha um carro azul e um morcego branco

Passei os últimos meses esperando você voltar. Retornar da cidade que quando fui, esqueci de você. E lembrei a todo segundo. Você finalmente chegou, mas eu nem sei. Perdida nos meus devaneios de ontem à noite, descobri um impulso verborrágico dentro de mim e preciso te dizer. Ou pelo menos, escrever. Mesmo que você não leia. Mesmo que você não se importe. Tudo bem. Eu preciso dizer. E nem tenho certeza se ainda sei ser só sincera, só emoção. Não tenho mais 19 anos.
Eu gosto de você. É simples. Um amor que acostumei a amar sem tocar. Um amor maior do que a realidade. Um amor que continuaria vivo mesmo se você aparecesse na minha frente com duas tetas de silicone dizendo que agora seria trava. Eu ainda te amaria.
Hoje, já não te acho mais tão bonito. Nem o mais inteligente, nem o mais instigante. Hoje, você é você. E eu amo. Mesmo quando é frágil, influenciável, comum, desinteressante até. Mas amo-te assim. Confuso e decidido ao mesmo tempo. Distante e próximo. Capaz de me seduzir com uma piscadela. Um olhar, um jeito de tragar o Marlboro diferente. Um jeito de pedir um Trident verdinho.
Não. Você não é como os outros para mim. Seria melhor se o que eu sentisse agora fosse só um engano. Efeito colateral de uma noite regada a vinho em copo de requeijão e filme francês. Mas não é. Piegas, ou não, para mim, é diferente. Não planejo gemidos, não penso nos toques. Sou só eu. Você. E minha pele. Não sei o que é isso. Mas não é igual. Aos outros.
Então, ficamos assim: meu brinco, pode jogar fora. Eu vou levando minha vida. Continuarei com vontade de dividir cada novo projeto com você - e às vezes vou te mandar um e-mail - mas é só. Não vamos nos ver. Você vai continuar me chamando no msn, mas prometo que não vou achar que sou importante - de alguma forma - para você. Não vou confundir as coisas. Não vou nem pensar. Porque quando penso que te amo, penso fundo. E dói. Mesmo quando é bom.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Fim de ano

Nesta época, a humanidade se divide em duas categorias: os otimistas e os deprimidos.

Não existe nenhum outro tipo de ser vivo. Os primeiros acham que tudo é lindo e vai dar certo - como se a vida fosse a música de fim de ano da Globo.

Os últimos não gostam de papai Noel, de árvore, de presente, de neve, de ceia, de comer, de champagne, de trânsito, de shopping cheio. Só reclamam. E alguns se matam no metrô.

Ok, eu tb não gosto muito. Mas, porra, dá para só viver e não encher o saco? Vai passar.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Pílulas do fim e início da semana

1) o Kaká pode até ser bonito, mas me broxa.
2) sobre o mesmo tema: mais vale um Palermo perdendo o jogo, do que o Kaká marcando gol.
3) sonhei tanto sábado que nem sei mais o que aconteceu, o que vai acontecer e o que nunca acontecerá.
4) minha chefe deu para gente uma eco-bag Marc Jacobs de Natal. Amo essa mulher. Juro.
5) vodka boa é vodka cara.
6) alisei o cabelo e fui possuída por um novo espírito. Sou outra, da mesma. Só com outro projeto gráfico.
7) continuo coelhita apaixonada...ai, ai.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Do meu pequeno, sangue do meu sangue


Ele escreve em inglês e fala alemão. E eu tropeço no francês. Que orgulho!

Check In - Check Out

Começou. É a semana das voltas. E chegadas. Partidas, talvez.
Ontem foi o amigo italiano da minha amiga que chegou em Guarulhos.
No fim de semana, é ele que volta. Com ela. Então, nem volta. Só chega. Nem quero mais saber. Nem esperar. Nem querer. Não quero voltar a imaginar um dia que não chega. Nunca mais.
O português da minha amiga que está em Londres voltou para Portugal na segunda-feira. Chegou lá com um CD gravado por ela. E ela volta de Londres na semana que vem. E vai trazer uma meia-calça colorida para eu usar no inverno - que um dia chega.
E eu volto para a cidade dos canais. Apenas por uns dias.

Mas depois do calendário virar a página, depois de brindes e champagne, de fogos no céu e sete ondas, tudo volta ao normal. Ainda bem.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

O texto que não escrevi - mas poderia...

"eu não estou mais no ramo do romance (...) não lembro mais como se faz isso. nem sei mais se sinto falta. vai acostumando. a solidão vira parte de você. (...) fiquei bebendo sozinha até aparecer alguém. e mesmo quando apareceu, mesmo enquanto conversávamos, mesmo enquanto outras coisas aconteciam eu ainda me sentia sozinha. essa solidão é como uma capa. nada mais chega em mim. eu posso até me entregar, posso até tirar a roupa, posso tentar, mas vou continuar sozinha. não sei desde quando isso acontece. de repente era assim fazia tempo. uma solidão crônica. antes eu procurava alguém com quem não me sentisse sozinha. era minha grande busca. agora já não faz mais diferença. acostuma como quem bebe demais se acostuma com a ressaca. faz parte. tenho outros tipos de amor. tenho amor de muitos meninos. mas não é romance, não tem manhãs, não tem mãozinha entrelaçada e pezinho roçando enroscado debaixo do lençol, não tem beijo e abraço, não tem cinema, não tem fazer nada juntos, não tem silêncios confortáveis e nem cabeça no colo. nem lembro como é isso. nem lembro da sensação. acho que o romance morreu em mim. e eu nem notei."

comunicado oficial de solidão crônica , de Clarah Averbuck

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Paixonite

Volto sempre assim... Ainda bem que já sei como funciona: acaba no fim de semana. Ufa!

Vênus de Milo

Petrifiquei. De preguiça. Ou de culpa tardia por ter me lançado ao abismo em noite de música erudita. Mas se digo que é culpa, minto. Sentiram por mim, não eu. E me perdi.

Ou por convívio excessivo com mulheres assexuadas - sim, isso atrapalha. Faz o desejo parecer exacerbado. E não é. Ou o oposto. Mulheres-dragão com cara de gozo até em fotos com crianças. Faz meu desejo menor. Faz-me frígida. E nem sou.

Sou só gelo. Congelada de amor. Passiva. A esperar o cortejo. A esperar algo que não sei o que é. E é a certeza abraçada a angústia que me visitam à noite. Certeza porque sei o que ele queria. E também o que eu queria. E angústia por algo que não aconteceu. Inspiro o ar pesado do tempo que não volta. E expiro aflição.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Para não dizer que não falei de lá

As pedras guardam as memórias de dias não muito felizes. Pisei naquele chão ensanguentado de escravos enquanto procurava a razão e a solução para minha dor. Lembro que as encontrei no pôr-do-sol rosa que invade o céu e a alma no alto da Baia de Todos os Santos.

Anos depois, fui recebida pelo sorriso do vento doce. Cheiro de dendê. Abracei sincera o Destino que veio encarnado numa negra de mãos quentes. Banhada de cravo e canela, percebi que não eram os mesmos pés que subiam e desciam aquelas ladeiras. Era outra. Eu, de hoje. Invadida de sol. E feliz.

As pedras, o calor, o sofrimento de outros povos, a orgia dos trópicos, os odores. Salvaram-me de mim.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Esqueci...

Peter Parker ou Clark Kent?

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Dúvidas que me consomem - ou quando meu lado geminiano grita

1) Orlando Bloom ou Johnny Depp?
2) domingo de sol na praia com uma cerveja bem gelada ou domingo de chuva em casa lendo Garcia Márquez e tomando café?
3) Kill Bill ou O Fabuloso Destino de Amélie Poulain?
4) light ou diet?
5) plataforma ou flat?
6) Sex and the City ou Friends?
7) msn ou sms?
8) biquíni ou maiô?
9) praia ou piscina?
10) ela ou eu?

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

"Nossa"

- mas o canalha tb sou eu?
- é.

Bobo, tanto de mim é você. Tanto daqui é você. Que às vezes nem sei mais. E nem importa. Já está tudo bem. Até quando não é você.

E eu nem vou ver desfile nenhum hoje. Vou para a aula de pilates. Respirar pausadamente e contrair o abdômen. Espero que amanhã ela resolva ir de carro. Eu nunca vou aos churrascos mesmo.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Devora-me

Vou te devorar como um primata destroçava a costela de um mamute. Cada pedacinho de carne arrancado com meus caninos. Cada osso roído e lambido mil vezes até nada sobrar. Só osso. O teu sangue escorrerá quente entre meus dedos. Seus restos serão triturados pelos meus dentes. Você totalmente entregue a meu prazer. Em pedaços. Eu, em êxtase. No céu, só a lua. Na terra, roedores e répteis virão para assistir ao meu banquete.

Até meus olhos amarelos de tesão cruzarem com os seus. Até meu corpo já saciado, mas ainda excitado, se espelhar nas suas pupilas. E eu me vejo refletida. E tremo. Vejo meu desejo no seu olhar. Vejo minha fome. Vejo meu corpo frágil manchado do seu sangue. E, sem palavra alguma, quem me devora é você.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Ele que vai voltar

Tão canalha...Mas eu gosto tanto!

Terra a vista

O cartão chegou. Com uma foto de um arco na rua Augusta, em Lisboa. Dizem que de lá, vê-se o Brasil. Será?

domingo, 25 de novembro de 2007

Quando acordei, chovia.

Chovi tanto em novembro que lavei a tristeza de mim.

Banheiros que eu quero para mim

1) com Jason Schwartzman no trem em The Darjeeling Limited;
2) o de uma casa perto de uma praça perto da rua João Moura - ali, aonde o trem para Jaçanã nunca chega e a música é instrumental;
3) o do trem que sai de uma Milão cheia de neve e chega à ensolarada Barcelona;
4) o que fez o filósofo encontrar com a escritora no Rio de Janeiro;
5) com Asthon Kutcher no avião que vai para NY;
6) aquele de Curitiba de um lugar que já fechou e fica apertado se entrar mais de duas pessoas;
7) aquele quebrado do quinto andar;
8) o do Pelourinho - para momentos de crise existencial;
9 e 10) E, segundo me contaram, os de um hostel em Paris e de um bar na Lapa carioca.

E ainda tem revista fazendo matéria com lista de banheiros que "merecem" ser visitados...ninguém sabe de nada!

Fim de semana

No ônibus com o Peter Parker fui até uma cidade em que os dias são meses. Um fim de semana, dez dias. O sol aqueceu minha pele cinza. E, como phoenix, renasceu. E eu também. E também teve aquela que guiou meus passos com uma nova vida dentro de si. Logo ela que pisara nas mesmas salas e tivera os mesmos professores que eu. Turmas com nomes de rock stars. E Kelly Slater. Estava em casa mesmo que longe de tudo.

Novo amor

Posso jurar amor eterno ao Jason Schwartzman?

Acho que troco o Ethan Hawke e o Ashton Kutcher por ele. Só pode ser amor...né?

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Diálogo com a minha tristeza

- oi.
- oi.
- saudades.
- eu tb.
- é.
- é.
- tudo bem?
- tudo. e vc?
- tudo.

(pausa)

- ah, já vou
- tá. até.
- é.

Tee

Acho que preciso desta camiseta. E vou comprar uma para ela também.


Agenda

Já tenho uma agenda 2008.
Aquelas folhas branquinhas pedem por uma vida nova. Tudo diferente e igual. Com cheiro de volta às aulas. Promessas. E cara de descanso.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Fechamento

Eu fecho
Tu fechas
Ele fecha
Nós fechamos
Vós fechais
Eles fecham

Já as revistas, nunca fecham...

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Cheiro de lavanda

Dias como ontem são dias deslocados no tempo.
Quando não sabemos se é terça ou sexta-feira. E não faz diferença.
Textos terminados. Gim, cerveja, vodka.
Fotógrafo, jornalistas e publicitários. Xadrez e carioquês. Diálogos e risos.
Livraria e inferninho. Borboletas voando pelas estrelas de meu corpo.
Tudo ao mesmo tempo. Eu fico no centro.
Vejo. E desejo. Desejam-me. E vice-versa.
Acordei zonza. Boca seca. Tomei café e banho, bem devagarzinho.
De mansinho, passei lavanda Johnson´s e fui trabalhar.
É esse perfume que me faz sorrir. E me espreguiço bem gostoso.

Namastê

Tenho leitores na Índia. Por que?

Testosterona

Please, God, give me!

I love it.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Das coisas que anunciam o apocalipse - X

Eu ensinar via msn a minha amiga grávida como fazer carne moída. Só não sei ainda qual é realmente o sinal do fim do mundo: ela grávida ou eu ensinar alguém a cozinhar...

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Dele que me conhece desde criança

- só quero saber se você está bem de verdade
- de verdade? defina verdade...
- você tá BEM? não tá triste por nada?
- não vou me jogar pela janela
- já é um começo...
- triste...eu sempre sou, só quando estou muuuuito feliz que não fico triste
e faz um tempo que isso não acontece
mas é fase....
- pare... você tá muito intelectualzinha emo com essas "eu sempre sou triste"...
respeite meu saco
- hahahahaha
emo é foda
xinga, mas não ofende!!
- faça um blog falando das tuas fodas.. é mais legal
- não tenho fodido ultimamente
- mas saudades e solidão são coisas sertanejas demais
- mas é uma constante no mundo dos blogs femininos
- é o cacete
vou ser bem sincero com você
- iiiiiiiiiiiiiii
- em são paulo as pessoas sentem tesão em trabalhar demais, estarem estressadas e tristes
- é. e?
- por favor, não superestime essa merda
você é legal, tem um trampo massa que você gosta, não tem ninguém te fodendo (no mau sentido) e então não encha o saco ho ho ho

2007...

Quero que este ano acabe logo.
Para ela parar de esperar.
Para você voltar.
Para ir embora.
Para eu voltar.
Vou pular onda e beber champagne.
Só uma desculpa para o champagne. Sem ser SPFW.
Quero ver 2008 nascer no céu da baia de Guanabara e, então, vou fingir que a mensagem que recebi este ano era, na verdade, para o próximo.
E farei tudo. De Ipanema a estátua da Liberdade.
E 2007 dormirá para sempre na lembrança dos anos que não existiram.

sábado, 17 de novembro de 2007

Para, quem sabe, chamar a sorte

The moment I wake up, before I put on my make up
I say a little prayer for you
While combing my hair now
And wonderin' what dress to wear now
I say a little prayer for you

Forever and ever you'll stay in my heart
And I will love you foverer and ever
We never will part and I will love you
Together, together that's how it should be
To live without you could only mean heartbreak for me

I run for the bus love, while riding I think of us, love
And say a little prayer for you
At work I just take time, and all through my coffee
break time
I say a little prayer for you

Sábados de primavera

Houve um tempo em que os sábados eram só dias felizes.

Era assim: eu esperava minha amiga Li ligar para confirmar o horário que passaria em casa. 21h ou 21h30. Tomava banho - muitas vezes ainda bêbada da noite anterior. Cantarolava uma música do filme "O casamento do meu melhor amigo" porque eu achava que essa música me dava sorte. Vestia uma saia preta. A mais curta. Colocava um top. A marca do biquíni escorria pela minha nuca e era estrategicamente coberta pela alcinha da blusa. Ou não. Delícia. Passava meu perfume Allure - que também me dava sorte - nos pulsos, entre os seios e na nuca. E ia para varanda esperar o carro que chegava buzinando e sem querer chamava a atenção dos vizinhos entre 26 e 30 anos. Inocência?

Nunca perdi a viagem. Nunca fiquei totalmente lúcida. Nunca fui tão apaixonada. Nunca tive tanta coragem. Nunca quis parar o tempo. Devia.

Não é por nada. Talvez um pouquinho de melancolia, mas é que lembrei desses sábados. E fiquei com saudades das minhas amigas que não cheiravam cocaína.

Subconsciente

Acordei de sobressalto e sentei na cama com a respiração acelerada. Sonhei que estava na minha colação de grau da universidade. Mas sem discursos ou diplomas ou abraços. Sem beca. Minha roupa era bonita, até. Era apenas um monte de gente sentada esperando alguma coisa. Não sei o quê. Mas sabia que era colação porque nos sonhos, às vezes, sabemos essas coisas. E depois só comemoramos como se comemora um gol de futebol de praia. Ninguém chorou ou se tocou. Vazio.

Eu só olhava para uma porta em arco (não era bem uma porta, era mais uma entrada, uma passagem, digamos assim). Eu olhava e meu olho enchia d´água. Esperava você passar. Esperava e sabia que você não passaria. E nem eu. Não passaria mais. Aperto que já senti. Lembro bem, mas foi na sua colação e a porta nem era em arco. Triste. Muito triste.

Abri os olhos e vi meu apartamento azul de braços abertos para mim. Não passaríamos mais naquela porta porque já passamos. Ufa. E eu ainda te vejo chegar. Mesmo que em cima da hora do filme começar.

Tropeços e meus e-mails

Minha caixa postal virou a principal maneira das pessoas avisarem que caíram. Primeiro minha mãe quebrou o pé. E não pegou o telefone, mandou um e-mail. Agora, meu pai escorregou em Portugal. E não esperou chegar para contar, mandou um e-mail.

O que está acontecendo com esse mundo dos adultos?

Enquanto isso, vou tropeçando entre linhas de e-mails que não escrevo com declarações que não tenho mais coragem de fazer.

E você nem lê este blog.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

O eterno retorno sou eu

Fazer, refazer
Liquefazer
Criar, derreter
Escorrer
Procriar, nascer
Derreter

Eu escorro.
Ela procria.
Acho que vai nascer em junho:
Escapar, cortar, chorar

E eu ainda vou escorrer

Mulheres, estranhas. Entranhas.

Criamos e recriamos todos os meses. Morremos e nascemos a cada quinze dias para voltarmos a morrer ao fim de 28 dias. Como a lua. Cresce, seduz, recua, some e cresce, seduz, recua...
Até o corpo parar. Até o corpo secar. Até o mundo acabar. Cansadas. Liquefeitas.

E quem fez a teoria do eterno retorno foi um homem. Não sabia nada esse Nietzsche.

Paredão

Se um dia eu pudesse eliminar as pessoas, começaria por aquelas que usam perfume doce. É como uma lei matemática: perfume doce é diretamente proporcional a quem não tem controle da mão e borrifa três mil vez mais do que seria permitido pela lei da invasão espacial (aquela do Dirty Dancing: "meu espaço de dança, seu espaço de dança").
Depois, eliminaria os adolescentes. São bem chatos. Mais chatos do que as crianças. Seguindo em frente no meu dia de limpeza mundial, acabaria com quem pede camarão frito para comer na praça de alimentação em um feriado chuvoso. Sério, o cheiro é insuportável. E grudam em quem está sentado ao lado tentando comer uma massa integral saudável com brócolis e ervilhas. Camarões fritos foram inventados para comer na praia, à beira-mar (assim o vento disfarça o fedor daquilo).
E, por fim, acabaria com as praças de alimentação. Imagina, sem mulheres com perfume insuportável, adolescentes e comensais de pratos fétidos, para quê serviriam?

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Por que faço assim

Cai do aviãozinho do brinquedo no parque de diversões quando era criança. Acho que bati a cabeça. O efeito colateral foi que desde então é meu coração que pensa e meu cérebro que pulsa.

Sorte sua.

Frases, lembranças e espera

Bastou uma frase. Senti tudo tremer dentro de mim. Eu esperando você voltar. Eu sentindo sua pele. Suas pernas perdidas entre as minhas. Bastou uma frase. Meu coração perdido em suas mãos. Minha cabeça perdida em mim. Um cheiro de serra, Marlboro, capuccino e Trident, brotou do asfalto. Fui levada por essa bruma até minha casa. Pensando em suas palavras. Pensando em seus olhos pequenos de embriaguez. Voltei aos 19 anos e àquela porta que um dia encontrei em Notting Hill e decidi que lá viveríamos. Por uma frase, esqueci de mim. Lembrei de você. Em mim. E me perdi.

Por uma frase, entreguei os pontos. Cortei os pulsos da sensatez. Agora só espero. Sou Penélope. Você, Ulisses.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Correio

Está vindo lá de Lisboa um cartão postal para mim. Recebi um e-mail avisando. Um cartão para guardar na malinha antiga junto com as outras recordações. Um cartão para esperar o correio chegar.

Herança

Lavei o cacho de uva rubi, escorri a água e coloquei em um pires bonito. Levei para a cama para comer enquanto lia Gabriel Garcia Márquez com a TV ligada, como meu pai me ensinou. Mas separei um guardanapo de papel para passar uva por uva antes de levá-las a boca, assim não dá aquela coceirinha, como meu avô me ensinou.

Acho que é por isso que sobrevivemos. As grandes felicidades são voláteis como a acetona que tira meu esmalte vermelho e mancha meus dedos. Às vezes é mais fácil descascar. Puxando com força a lasca que solta. Mas esses pequenos momentos de delicadeza não deixam marcas. Só a do riso cúmplice com a vida no rosto.

domingo, 11 de novembro de 2007

Because I smiled yesterday

"When you first left me I was wanting more
But you were fucking that girl next door,
What you do that for
When you first left me I didn’t know what to say
I've never been on my own that way, just sat by myself all day
I was so lost back then

But with a little help from my friends
I found a light in the tunnel at the end
Now you're calling me up on the phone
So you can have a little whine and a moan
And it's only because you're feeling alone

At first when I see you cry,
yeah it makes me smile, yeah it makes me smile
At worst I feel bad for a while,
but then I just smile
I go ahead and smile"

Hoje, serve para o limbo que agora me persegue ao lado da Angela Ro Rô.
Mas poderia ser para você, para ele e para o próximo. Assim, já fica avisado e não faz merda.

Das coisas que anunciam o apocalipse IX

Lasanha que fica pronta em um minuto. Nada é tão ruim. Impossível. Nem barata empanada.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Cartão postal

Quando eu era pequena, recebi do meu pai um cartão postal da Espanha. Era um castelo em noite de lua cheia. No texto, ele dizia que parecia o castelo da Bela Adormecida e, por isso, escolheu aquele para me mandar.
Hoje, ele está em Portugal. E eu mandei um e-mail pedindo um outro cartão postal. Acho bonito aquele pedaço de papel não muito grande com uma foto de um lado e palavras de carinho escritas atrás.
Nos cartões do meu pai, sempre vem explicações sobre a história do local fotografado - ele é professor de história. E eu me sinto meio lá. Meio história. Meio filha. Meio princesa.

Because I feel you tonight

"Night clubs help you grow up"
by Judy Blame

Fashion world

Eles olham e sorriem para mim. Alguns se deslocam para falar "oi". Todos eles. Todos. Os importantes.
Eu respiro. Sorrio de volta. E para dentro de mim.

Eles passarão, eu passarinho

Tinha um passarinho morto na calçada da avenida Cidade Jardim, quase na esquina com a Faria Lima.
Hoje, ele estava esmagado. Será que pisaram nele? Andam apressados os paulistanos.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Quando a inspiração ainda está na semana passada...

Se todo mundo fosse feliz o tempo todo, não haveria filosofia, arte e literatura. Só axé music. Puta falta de inspiração quando está tudo bem...

Logo, não tenho nada a dizer. Decidi, então, postar duas flores. Uma chama prenda, a outra, maria sem vergonha. Só porque achei bonito isso.




Think pink!

Sem querer, vesti um macaquinho rosa shocking hoje de manhã. Quando fui à academia, escolhi uma regata na mesma cor e o moletom que coloquei por cima - adivinha?- também era rosa.
Acho melhor não dizer nada...não provoque, é cor de rosa shocking!

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Parece cocaína, mas é só tristeza

Juro que não entendo. O que faz um ser humano levantar da mesa de um restaurante legal, com comida assinada por um chef legal, ir até o banheiro e cheirar cocaína? É digestivo?
Só sei que é triste. E eu odeio.

Chuva de sapos

Estou achando que foram sapas, e não sapos, que participaram do filme Magnólia. As sapas vão dominar o mundo e, pelo jeito, começaram pelos homens que eu peguei. E, depois, pelo bairro que eu moro, e depois, pelas roupas do Marc Jacobs.
Nada contra, mas elas deveriam diminuir a oferta e não aumentar a procura.
Acho que vou costurar essas sapas. E não serão suas bocas.

domingo, 4 de novembro de 2007

Canções de ninar

O jeep do padre fez um furo no pneu
O jeep do padre fez um furo no pneu
O jeep do padre fez um furo no pneu
Co-le-mos com chi-cle-te!

Eu vou ensinar essa música para meu afilhado. Melhor que a tal do boi, boi, boi da cara preta! Só se eu adaptar para: vaca, vaca, vaca da bunda preta! Será que a mãe dele vai deixar?

Here's looking at you, kid

Se 2007 fosse um filme, seria Casablanca. Cheio de partidas, despedidas, reencontros.
E sempre teremos Paris (que nem sempre fica na França).

Por que o céu ficou rosa

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
que eu pensava encontrar

Eu já falei com ele este ano. O vento forte e o céu cor de rosa que se revelaram pela minha janela hoje à tarde foi o jeito que ele escolheu para me responder. E eu entendi.

Domingo lúdico

Tenho uma memória olfativa surpreendente. Como o cheiro da chalá me lembra Jerusalém e pão fresco, Paris (são pães em tudo diferentes, da forma ao significado, assim como minhas recordações), descobri que arroz integral me leva a casa da Bel.
De panela aberta e cozinha quente, levitei até as lembranças da minha primeira infância. Eram muitos os cheiros naquela casa: patchouli, terra molhada, incenso, maconha e aquele azedo de criança. Havia crianças por toda parte. Crianças adultas e infantis. Conta a história que foi a primeira visita que recebi. Macacão jeans e barba. Deve ter sido também o primeiro aroma que senti fora do universo da placenta. O cheiro daquela barba que misturava todos os outros – e assim continuou mesmo depois das mudanças de idade, de casa, de credos e até com o fim da barba. Patchouli, terra molhada, incenso, maconha, azedo de criança e, descobri ontem, arroz integral. Eram esperançosos os adultos no começo dos anos 80. Tempos de abertura política, vontade hippie de paz e amor, passeata pela despoluição do mar (e nem se falava em aquecimento global), os amigos ainda não tinham morrido por causa da AIDS, nem de overdose. Havia amor. Daquele tipo puro, difícil de explicar. Éramos todos crianças brincando do que queríamos ser naquela casa encantada. Eu, bailarina. Corria, pulava, rodopiava. No som, um LP com Gilberto Gil cantando Realce. Na frente, um pau-brasil dava sementes para a gente fazer colares. Na porta lateral pouco usada, morava uma bruxa má. Ao pé da escada, uma foto de John Lennon com os óculos redondinhos tudo via. No forno, o pão integral. Na banheira, três meninas, às vezes mais, tomavam banhos de princesas. Na beira da piscina, um varal que me vazia voar. Era feliz naquele mundo lúdico. Nunca tive coragem de falar para ela o quanto sinto a falta do pai dela. E o quanto me entristeceu a morte dele. Mas como dar os pêsames se nem a gente se agüenta? Alguém que tinha nome de domingo...no plural.
Então, tampei a panela e procurei num CD perdido em meio a outros, a música de Gilberto Gil. Encontrei e, entre parafinas e purpurinas, fiz o jantar mais feliz que essas terras daqui já viram.
Ah, o arroz ficou meio sem sal, meio duro. Mas me alimentou. Como a vida faz.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

A vida como ela é

Não é porque sou ruim. Nem por ser insensível. Prática, talvez. Egoísta, com certeza. Mas sabemos que essa criança sempre será a prova do que a vida é. Por isso não consigo. Ou estarei absolutamente certa com todas minhas teorias e defesas, ou totalmente errada. E ainda não estou pronta para saber a resposta. Não seremos felizes.

Das vezes que engravidei

Quando eu tinha 15 anos minha melhor amiga na época engravidou. Ela repetiu de ano e não me contou com vergonha, mudou de cidade e teve anemia. A última vez que a vi, ela precisava de um canto para dormir antes de voltar para São Paulo. Tempos difíceis. Ficou no sofá de casa, emprestei um livro que gostava muito, o Diário de Lúcia Helena, e fui dormir. Nunca mais vi. Nem ela, nem o livro.
Depois que saí da escola, uma das meninas da minha turma de oito amigas engravidou. Parou a faculdade de odontologia (depois retomou e hoje trabalha lindinha toda de branco). Fui no chá de bebê na casa que já vira meia dúzia de adolescentes bêbados caindo na piscina. Pintamos a barriga dela com batom e como o tempo não era de máquina digital, tenho guardadas as fotos com muito carinho. Éramos bem bonitas nessa época. Eu ainda acreditava no amor. O menino nasceu, ela casou, ele cresceu, ela separou. Voltou para a casa da mãe – a da piscina. Ela encontrou outro cara legal. E, se não me engano, está bem. Mas eu não a vejo há anos.
Tempos depois, por causa de um telefonema no meio de um plantão, fiquei sabendo que ele seria pai. Também era outubro. Respirei pálida e fui dar um boletim de trânsito. Depois, subi no sétimo andar - que decididamente não era o sétimo andar e meio do John Malkovich - e disse a ele, depois de um beijo triste, que não me procurasse nunca mais. Game over. Lembro bem da expressão que usei. Ele estava de camiseta laranja. Ele separou. Ela casou com outro. A criança nasceu. Não sei se ele registrou. Não sei se a mãe da criança fala com ele - faz bem se não. Ele não vale nada mesmo. E meu ‘nunca mais’ durou até o dia em que ela pariu. E eu nem sabia.
No meio do ano, uma outra amiga da turma de oito também engravidou. Susto. Parecia que iam roubar a nossa juventude, que ainda éramos aquelas de calça bailarina e keds, que não devia. Mas aos 28 anos e depois de um aborto, já era hora. Não a vejo há anos. Mas torço para que seja feliz.
Há três semanas, minha melhor amiga soube que estava grávida. Vai sair do emprego que queria - ou dizia querer - desde os tempos da faculdade. Vai fazer um caminho que não chega na Dinamarca. Na Copa de 2014, ela vai levar o filho aos jogos. Se o santo que a mãe dela reza for bonzinho, ela terá um marido. E ele também irá. De verde e amarelo. E eu pensarei, onde quer que eu esteja, nela lá, pulando e gritando e ensinando o filho a gostar desse troço que é o futebol. E ele já vai saber toda a escalação – incluindo a do Santos nos tempos de Pelé e Coutinho e Mengálvio e Pepe. Eu vou terminar o café amargo que estiver tomando e encontrar minha solidão do outro lado da rua.

Socorro

Tem gente que corta os pulsos. Tem gente que engravida. Tem gente que casa. Tem gente que muda de cidade. Tem gente que pinta os cabelos. Tem gente que faz lipoaspiração. Tem gente que muda de sexo. Tem gente que larga o emprego. Tem gente que pula do décimo andar. Tem gente que morre. E tem gente que não vive.

Mais sobre o mesmo - mesmo que não pareça:

eu: já te falei que ele leu meu blog?
ela: NÃO
FALAE
eu: então, ele leu
disse que gostou
mas não tocou em nenhum dos assuntos que eu falei...
ela: TÁ MTO BOM
eu: ele deve ter sacado que tem coisa lá que é ele, né?
ela: não
burrinho
eu: não?
acho que vou desenhar...hahahahaha
ela: acho que vou comprar fralda
eu: para ela?
ela: é
eu: eu não consigo

Carta para meu destino disléxico

"Querido destino,
Quando eu mando alguém para o limbo, é lá que ele deve ficar. No limbo, jogando vôlei e peidando. Bem longe de mim. Entendeu ou quer que eu desenhe?"

Êita semaninha cagada!

terça-feira, 30 de outubro de 2007

O sentido e as razões

Deve fazer sentido. Ele do outro lado da rua no cruzamento da avenida Paulista com a rua Augusta bem na minha frente. Por acaso. Por alguma razão, meu corpo tremeu. Um pouco só. Não gostei da roupa , sem sentido - como faço falta na vida dele! Mas deve também ter alguma razão para ele me chamar para assistir a um filme com o Ethan Hawke e o diabo no nome. Faz sentido? E por outra razão - desconhecida e divina - a sessão já estava esgotada e só ele tinha ingresso. E fez muito sentido eu ir embora sozinha. E, por razões que bem conheço, tomei um banho frio antes de correr para a aula de alongamento. Afinal, estava cheia de razões para estar atrasada.

Das coisas que anunciam o apocalipse - VIII

O Brasil sediar a Copa de 2014. Hello? Vamos investir um dinheirinho na educação, segurança pública, urbanizar favelas, combater o tráfico, melhorar o transporte público etc etc etc?
Ah, desculpe, não vai dar. Precisamos usar alguns milhões para reformar os estádios de futebol! É de fuder - se não for o apocalipse em si.
Como diria capitão Nascimento: põe na conta do Papa!

Kurosawa

Sonhei que estava beijando você. Aliás, que você me beijava aquele beijo leve, fresco, perdido entre sorrisos e com sabor de Trident verde. Estávamos dentro de um carro com outras duas pessoas improváveis - típicas de sonho - e vínhamos de lugar nenhum para qualquer lugar.
Uma das pessoas me perguntou depois do beijo:
- O que você fez? (porque o beijo não era esperado nem por mim, nem por elas)
E a outra falou enquanto eu corava sem saber o que responder:
- Fez amor!
Acordei feliz até. Era um beijo suave como as férias de verão.

Palíndromo

Vou falar da solidão de um homem de 73 anos. Homem que deu a volta ao mundo, casou com uma Miss Universo, beijou a mão de mademoiselle Chanel, foi recebido por reis, rainhas, presidentes e por todo mundo que interessa. Um homem essencialmente sozinho. Doente. Com a doença da solitude. Mas tenho medo mesmo é da minha solidão.

Nem tudo é mal no Alzheimer. A doença congela o passado dourado e apaga as mágoas do presente. O Alzheimer estaciona o ser onde ele foi mais feliz. Viver em lembranças e não registrar o presente é um privilégio nesses tempos de crise. Pois crises passadas – e superadas pelo tempo – são sempre mais poéticas, sempre mais leves. Nem tudo é mal no Alzheimer.

Ainda depois de um festival de música

Por que será que sempre que estou em um show me sinto como Holden Caulfield abrindo os braços para segurar as crianças que vão cair no abismo?

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

About me

Ano passado escrevi que eu era o palco do Daft Punk. Hoje, sou as cores da Björk. Cores de uma mulher que viu poucas vezes o sol durante a infância.

Depois de um festival de música

Cansei de jornalistas, designers e fotógrafos. Agora só quero rock stars.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Incômodo

pedrinha na sapatilha vermelha com laço de fita, um quadro que não fui eu que pintei, um adeus que não dei, crianças gritando pelo corredor, e-mails com segredos que bisbilhotei, meu vizinho cantando aos domingos às 11h, esperar por alguém, me atrasar todos os dias, o telefone não tocar, o telefone tocar antes do meio-dia, plástico que embala CD, pedir para usarem camisinha, ouvir meu nome errado, um grito que não dei, lavar louça no frio, ônibus cheio, ponto de ônibus, cheiro de ônibus, ônibus, cutícula machucada, a etiqueta da camiseta raspando o pescoço, entrar no banheiro depois de alguém ter feito coco, minha melhor amiga grávida, um homem pelo qual não rastejei, meia molhada por causa da chuva, barulhinhos, alguém me cutucando, Cheddar McMelt com pouco queijo, a distância, o tempo que não volta, o tempo que não passa, minha tristeza crônica, não ser sua...

Do site da Mostra:

HALFAOUINE (ASFOUR STAH), de Férid Boughédir (95'). Falado em árabe. Legendas em francês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: livre.

Não falei?

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Por um batom vermelho

A música fez o chão vibrar. Os corpos sacudiram em transe. Perfumes caros e baratos se misturaram com o cheiro de Marlboro e maconha fumada lá longe, em um cantinho. Os olhos arderam. O rímel quase borrou. E por aqueles minutos não senti falta de nada.

Procura-se Minnie desesperadamente


Ela nasceu na China, mas muito pequena foi para a Flórida. Estava tudo muito bom, até que uma rainha de terras tropicais decidiu adotá-la enquanto passava férias por lá. Era uma Angelina Jolie dos anos 90. Mas loirinha e sem tatuagens. Minnie não foi sozinha. Mickey a acompanhou.
Na casa dos trópicos, ela se instalou numa linda cama de colcha cor de rosa e a promessa era que ela ficasse deitada eternamente em berço esplêndido. A fauna daquele país reunia ursos, macacos, gatos, vacas e hipopótamos. Todos peludinhos. E na calada da noite, ganhavam vida para dançar pelas ruas e avenidas dos sonhos da rainha.
Durante muitos anos, Minnie foi o destaque da bateria. Reinava absoluta e era respeitada pelos outros. A rainha daquelas terras dava a ela prestígio de estrela - e a vantagem de nunca precisar beber suas lágrimas. Essa era a tarefa da gata branca e da hipopótama.
O tempo passou e a rainha começou a explorar outros reinos. Dividia cada vez menos seu tempo com seus súditos. Só nos fins de semana. E Minnie já tinha perdido as contas de quantas vezes dormira no chão enquanto a rainha exalava aquele cheiro de vodca e Coca-Cola pelos poros.
A companhia era a cada dia mais rara e, sem saber ao certo quando, Minnie foi parar dentro de um saco plástico azul. O saco, por sua vez, foi parar no armário do palácio dos antepassados da rainha. A família das árvores. E lá ficou.
Ou não. Anos e anos se passaram até o dia em que a rainha, já cansada de guerra e desapegada desse universo de pelúcia, tirou o saco plástico azul do armário. Para sua surpresa, Mickey estava lá. A hipopótama estava lá. Os macacos também. Mas Minnie, não. Ao que tudo indica, Minnie foi conquistar o mundo com suas próprias pernas ao lado da vaca que é fã da Parmalat – também desaparecida. A rainha nem se importa, mas o Mickey, coitado, sofre muito com a perda da companheira de longa data.
Então, caso alguém encontre com ela por aí, diga que ele sofre muito e a aceita de volta, mesmo que ela tenha piercings e tatuagens por todo o corpo. Mesmo que já tenha comido galinha viva e dormido com mulheres da vida. Mesmo que tenha bebido sangue de urubu ou jogado tranca com o Pato Donald. Ele a aceita até se ela tiver virado adulta.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Faithfull

Soube que era você no meio da multidão por causa das listras Adidas. E pelo ritmo de seus passos. Havia ainda um fone de ouvido que não vi. Mas sei que estava lá. E você me disse que havia também um tênis amarelo. Eu gostava do vermelho. O telefone tocou meia-noite e pouco como em outras épocas. Hoje é 23 de outubro. Hoje é nosso dia. Uma data que nunca aproveitamos, só prometemos. Como também nunca vimos Baisers Volés, do Truffaut. Ou Beijos Proibidos, como nosso jogo de siglas sempre preferiu. Eu assisti. Você também. Mas nunca juntos. E você de férias até o dia 02 para a Mostra. De novo. Como há seis anos. A conversa ao telefone converge para um assunto muito denso para o horário e você pergunta como estou vestida. Minto um pouco. Para provocar, como sempre. Impossível não pensar em você em dias de cinemas falados em árabe e legendados em francês. Impossível não lembrar de você enquanto chove e o céu está cinza. Reminiscências. Mas não há amargo na saliva da lembrança. Talvez um gosto de chá de maçã de um café escondido na Aclimação. Não há nem tristeza mais. De certa forma, orgulho. Não perdemos nossas almas. Fomos fiéis. Se não um ao outro - porque nunca fomos - a nós mesmos. Fiéis a nossa insônia e solidão. Faithfull. Como a música que um dia você ouviu e me ligou para dizer que havia se lembrado de mim. Quando já não éramos mais nada. Conheci São Paulo por seu caminhar. Da Paulista ao Arouche. Dos beijos escondidos no Trianon à indiscrição do toque no meio do trânsito. Segui você que me seguiu também. Decifrou meu corpo como eu as ruas. Não me perco mais. Meu corpo, talvez. Não quero nada de novo. Não preciso retornar nesse eterno retorno que é minha vida. Mas, nesses dias de chuva e Mostra e outubro e trânsito, sinto um pouco de falta de você que me beijava de olhos abertos e, quando os fechava, me virava do avesso.

Eu gosto de dias nublados

I'm only happy when it rains
I'm only happy when its complicated
And though I know you can't appreciate it
I'm only happy when it rains

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Das coisas que anunciam o apocalipse - VII

O Kelly Slater ficar pegando as sobras do Leonardo Di Caprio. Gente! Ele não precisa disso!! É o fim do mundo!

Abeille de Marie Antoniette

Une petite abeille est arrivée chez moi sans demandez rien. Elle est retrouvé le miel. Le miel, comme l´amour, était cristalisé chez moi. Donc, elle est seule. Et elle est morte.

Fin.

Domingo

39°C. Dormi o caminho todo. O céu estava azul como na minha adolescência. As pessoas andavam de shorts com o biquíni por baixo. Sem vergonha das suas vergonhas. Gorduras e corpos caídos expostos sem problema. Pele de anos de sol. Bicicletas. Cheiro de mar. Cheiro de casa. Macarronada e sorvete. Muita falação. Muita vantagem. Muita bobagem. Picolé mais tarde. Meu avô ótimo. Uma queda, uma manha. Tenho medo de quedas. Só as crianças deveriam cair porque se levantam mais rápido. E é assim que deve ser. Uma bailarina de corda e roupa amarela que saiu do esquecimento do armário para borboletear nos sonhos de outra menininha. Melhor assim. Café. Conversa na cozinha. Estrada carregada na volta e uma chuva que me recebeu no alto da serra como comitê de boas-vindas.

“Posso nunca ser feliz, mas hoje estou contente.” A frase é da Sylvia Plath, mas hoje poderia ser minha.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Zzzzz...



Sleeping by Day - Ray Caeser

Pecado original

Comi cuidadosamente aquela maçã do amor que chegou a minha porta numa noite quente de dezembro. Tirei o papel celofane sem deixar o açúcar caramelado grudar. Sentei aos pés da cama e cruzei as pernas em pose de índio, como minha professora da primeira série chamava. Tinha um resto de sol que entrava pela janela e fazia um desenho bonito na parede. Mordi. Primeiro doce, depois fresco e, ainda doce, mas um pouco mais suave. Igual ao amor novo. Não lambuzei muito as mãos. Só a ponta do dedo indicador esquerdo. Para apoiar enquanto girava a maçã para mais uma mordida. A mão direita segurava no palito de sorvete, agora, de maçã. Comi tudinho esperando entrar num sono tranqüilo e só acordar com um beijo dele. Ele foi para uma ilha ao sul ver o ano novo nascer e nunca mais voltou. Eu adormeci. E sem ninguém para me acordar, meio que morri.

Dans le marché

Ele estava no caixa do supermercado. All Star branco, jeans e camiseta. Como da última vez que o vi. Eu acho, não lembro se olhei para os pés...também não lembro se foi assim, tão informal. Mas com aqueles olhos de um azul malicioso inconfundível, quem olharia? E não faz diferença agora. No lugar do copo de vodka, as mãos seguravam caixas de leite integral Parmalat e o lança-perfume foi substituído por amaciantes. Daqueles que deixam a roupa cheirosa depois de lavadas. Ele não estava só. Nem magra, nem gorda, nem bonita, nem feia. Normal. Talvez ela nem tenha idéia de quem tem nas mãos e no coração. Ainda bem. Por dois segundo e meio, sorri. E fiquei feliz de vê-lo adulto. Conseqüentemente, eu, também adulta. Mas quando pisei na rua e senti a garoa fria percebi que envelhecemos. E só eu fiquei sozinha.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Amizades

- quem é seu melhor amigo?
- ?
- já expliquei
o meu é o vibrador
- ah
sei lá...
tenho mãos
- bom
- mas acho que tem sido o notebook
ele "me escuta"
- sei
...

Strike a pose

Sinto falta de lá. Muito. Às vezes mais. Hoje é um dia mais. Lá, elas se vestem melhor. Com spencer Chanel e camélia mesmo no calor. Lá, tem as clackers, clackers. E elas, sob efeito de seus remédios para emagrecer, são fofas até. Lá, nunca há folga, nem descanso. Mas toma-se champagne. Lá, as olheiras são mais profundas e os produtos para saná-las são Lancôme. Lá, o diabo é bem vestido. Sinto falta. Apesar de tudo.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Realismo fantástico

Três noites de sono perturbado. No sábado, a pior insônia do ano. Estou como as personagens de Gabriel Garcia Márquez. Uma mistura de Cem Anos de Solidão com O Amor nos Tempos do Cólera. Ninfa profana e pedra. E eu só queria dormir um pouco mais. Dormir numa gaiola dourada pendurada bem alto lá na varanda da casa dos Buendía. Acho que preciso de travesseiros de lavanda.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Num país muito muito distante

Ei, você que está aí na Índia. É, você mesmo do National Law Institute University. Por que lê este blog? Deixe um recado...

Jogo do bicho

Eu estava na rua quando o bicheiro gritou:
- Vai de borboleta? Vai que dá...

Não fui. A borboleta sou eu.

Elite

Tropa de Elite
Osso duro de roer
Pega um
Pega geral
Também vai pegar você!

Obs: estou pensando em cantar esta musiquinha na frente do pit na próxima SPFW.

domingo, 14 de outubro de 2007

Horário de verão

O relógio adiantou e o ponteiro correu para alcançar. O vento mudou o tempo. Mas minhas janelas continuam abertas. Vejo a cidade molhada. Escuto o barulho da água caindo. Respiro. Vou dormir ouvindo a chuva. E trabalhar de galocha amanhã. As nuvens se desmancham e os dois textos que precisava escrever fluíram como enxurrada pela tela em branco. Ctrl C + Ctrl V, send. Pronto. Tudo correndo bem. A chuva molhando o solo. Sementes brotando. Vontade de ter uma horta aqui mesmo no décimo primeiro andar.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Enquanto cozinhava, escutei...

"...nos seus olhos tristes
Guarda tanto amor
O amor que já não existe
Eu bem que avisei, vai acabar
E de tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei para agradar
Agora não sei como explicar
Lá fora, amor
Uma rosa morreu
Uma festa acabou, nosso barco partiu
Eu bem que mostrei, a ela
O tempo passou na janela..."

Minha mentira

Foi tão fácil. Enganei direitinho. Quem acreditaria na minha ladainha? Ela acreditou. E eu sorri por dentro. Livre.

Segue o seco

Parece O Quinze, da Rachel de Queiroz. Não chove há tempos por essas terras. O solo está seco. O ar irrespirável. A vista embaçada. A tinta da parede trincada. Tudo misturado no ar. O vácuo preenchido por resíduos. Horizonte borrado, turvo. Dentro de mim, o Negev. Beleza seca. Nascer do sol dourado e vazio. Pele áspera. Tempo que passa. Pessoas que morrem. Pés e cotovelos sofrendo. Hidratantes e garrafas d’água se esvaziando. Cabelo seco. Bacias de água pelo chão. Nada flui. Seco, como o sangue de um corte de outros tempos. Aridez sem formas de Niemeyer. Garganta em silêncio. Seca. Nunca estive tão sozinha.

Higienópolis

Aqui muita gente tem cachorro. E eles saem para passear quase todo dia. De roupinhas, sapatinhos ou apenas uma boa coleira. As donas costumam grasnar "ele (a) só gosta de ração importada, se não for boa, nem chega perto". Se não é assim que dizem, é parecido. Semana passada, vi um porco. Não era o Pitt, que mora nos Jardins, não. Esse é outro. Não sei o nome. Menor e mais rosa. De chapéu e coleira. Perto de casa tem um shopping. De rico, imagina-se. E tem um mendigo que fica na Veiga Filho. Ele também tem um cachorro, como é regra no bairro. Mas esse vive melhor, come da mesma comida do dono. E dorme ao seu lado todos os dias.
Também tem freiras que cultivam rosas num colégio e minha rua já abrigou o must do underground nos anos 90. Rabinos rezam em sinagogas trancadas e monitoradas. É um bairro de celebridades. Muitos moram por aqui, mas nunca vi ninguém. Aqui venta. E minha janela avisa sempre que o vento muda de lado e traz com ele uma frente fria. Hoje tinha um motoboy estirado na avenida Angélica e algumas pessoas olhavam, outras pareciam esperar o socorro médico. Aquela luta pela vida – e não estou falando da luta contra a morte, mas sim daquela, do garoto que subiu numa moto no feriado porque, provavelmente, ganha por hora e, provavelmente, tem contas a pagar – fez minha garganta travar. Luta danada esta.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Enquanto isso no Rio...

Cow Parade!




Cow me Now e Top múúúodel.
Adoro!!!

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Pensamento do dia

"Quem fica muito no ataque e não faz gol, leva."

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Texto feito com lágrimas

Era uma vez uma menina que morava com a mãe num sobrado de tijolinhos no meio de uma floresta encantada. Ela se chamava Patrícia. Lá perto, tinha um grande lago que separava as duas do Mago. Ele vivia numa casinha feita de doces como nas fábulas das princesas que a mãe de Patrícia contava para ela. Eles eram amigos e sempre que possível se visitavam. Sempre que possível porque Patrícia precisava de um pensamento feliz para atravessar o lago, já que ponte não havia por lá.
Ela se esforçava. Pensava em taças de sorvete colegial de uma lanchonete do interior...e pronto, uma ponte toda dourada de luz se formava a sua frente. Às vezes, pensava no avô e era uma ponte de madeira que aparecia para ela ir lépida e fagueira até a casa do Mago. Lá, tomava chá, comia biscoitos e bolinhos de chuva. Ele emprestava bons livros e falava dos lugares do mundo que Patrícia precisava conhecer. Um dia Patrícia pensou em uma borboleta. E uma bem grande e com asas coloridas de todas as cores do universo apareceu para levá-la nas costas até a outra margem do lago.
Desse pensamento, Patrícia nunca esqueceu e até hoje vive a procurar sua borboleta como seus pulmões buscam o ar para respirar.

Meninas que escrevem

São muito chatas as blogueiras - eu inclusive. Todas abandonadas. Traídas. Tristes. Todas donas do nariz, mas com o coração entregue a outros. Todas perdidas nas distâncias, angustiadas pelas lembranças. Todas querendo o que não têm, mas não enxergam o que grita ao seu lado.
Tatuadas, amargas e chatas. Simplesmente chatas. Todas mascarando o que sentem, mas escrevem para que "ele", seja quem ele for, leia suas entranhas. Todas sentindo como se fossem Clarices e Sylvias. Triste. Que falta faz uma cerveja e futebol com os amigos. Tão simples existir assim.

Juventude

Duas meninas. Uma careca de meia-calça tigrada em rosa e marrom, casaco de pelúcia e um piercing. A outra, cabelos curtos, shorts balonê e casaco 7/8. As duas de All Star. As duas com menos de 18 anos. Não consegui entender bem o diálogo. Elas falavam baixo, mas a conversa era séria. A de meia-calça parecia ser mais velha e tinha colada na bolsa uma etiqueta do aeroporto de Guarulhos. A mais nova, chorava comedidamente. As palavras se misturavam. "Gosto", "você precisa me falar", "vou embora". Podiam ser namoradas, podiam ser irmãs. Fiquei com vontade de falar "calma, vocês são muito novas, as coisas vão melhorar". Mas sei que não vão. Com o tempo, mudam-se os dramas. Mas as tristezas permanecem. A vantagem é que o tempo apaga as mágoas que parecem eternas. O tempo caleja a alma e, assim, fica mais fácil sofrer.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Coisas que (me) engordam

Copo tall de caramel machiatto no Starbucks
Um mês sem colocar os pés na academia
Capuccino da Ofner
Os três táxis que pego durante a semana
Häagen-Dazs de doce de leite
Copo tall de caramel machiatto no Starbucks
Bob´s
McDonald´s (n°1, claro!)
Lanchonete da Cidade
Chantily que comprei para colocar no café feito em casa
Copo tall de caramel machiatto no Starbucks
Horas sentada escrevendo estes textos desconexos
Panini de Polenguinho
Macarrão
Pizza
Copo tall de caramel machiatto no Starbucks

Alguém disse que a vida é fácil?

domingo, 7 de outubro de 2007

Futebol, segundo uma são-paulina

Homens gostam de futebol porque futebol é igual aos homens. E os homens gostam de si mesmos (e eu gosto de futebol e de homens, que isso fique bem claro).

Bom, pela lógica (feminina – ou só minha...), em time que está ganhando, não se mexe. E time que é líder do campeonato, com um bom histórico de vitórias, jogos bem armados, gol fora e dentro de casa – em amistosos ou momentos difíceis de marcação homem a homem – campeão da Libertadores, donos de passes tão memoráveis que até os fotógrafos agradecem etc etc etc, não deveria ser nocauteado (perdão pelo uso de um expressão de outro esporte) por um time que está prestes a ser rebaixado. E ainda aos 40 minutos do segundo tempo.

Mas os homens gostam disso. Gostam porque trocam constantemente a mulher-líder-do-campeonato pela mulher-rebaixada. Trocam porque se comovem com a derrota alheia e se sentem úteis em confortá-las. Trocam porque o atacante do time rebaixado chora quando faz gol. E homens adoram as que choram. Trocam porque a torcida é maior para a rebaixada, sempre.

Mas só um aviso aos navegantes – em homenagem ao meu tricolor que perdeu dois jogos seguidos nos últimos dias: o time líder perde o jogo, mas não a guerra. Quem é rei, meu bem, nunca perde a majestade.

Um mês

Estou com 28 anos há um mês. E o que ganhei? Dois quilos.

Das coisas que anunciam o apocalipse - VI

Iogurtes funcionais - ou a dificuldade de encontrar um iogurte saboroso. Ameixa batida com leite não é bom. Nem a fruta, nem a em calda. Logo, leite azedo (que é o que o iogurte é) batido com ameixa também não vai ser bom! Nunca. Será, no máximo, o que já é: funcional. E nas prateleiras de supermercados não existem mais iogurtes só gostosos. E eu me pergunto: por que preciso pagar pelas dondocas que não conseguem cagar? Só pode ser o fim do mundo.

Suspiro

Sean Penn por Bruce Weber.

Please (pausa!). Fuck me...now?

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Calígula, o imperador

Ao deixar esse frio de outono em plena primavera do lado de fora de casa, senti saudades dele. Daquele que não amei. Aquele que me esperava no metrô de fone no ouvido e me dava um Bis. Aquele que nunca me deu a mão e não me achava romântica.
Senti uma saudade que não era do corpo, nem da distância. Mas do tempo.

Mais cedo em casa

A luz do sol da tarde entra tranqüila pela minha janela. Eu tenho uma xícara enorme de café e chantily e chocolates a vontade e dois textos para escrever.

Podia ser assim todos os dias.

Baco e meus relacionamentos

1) uma noite de outubro perdida no tempo:
- Alô? Oi mocinha!
- A-alô. Oi...Então, te liguei porque estou com um problema muito sério e só vc pode resolver...
- É??? Fala...
- É que comprei uma garrafa de vinho e não posso tomar tudo sozinha, senão vou passar mal. Vc não quer vir aqui me ajudar?

2) uma quinta-feira:
- Vc tem um vinho no seu carro??
- É...

3) depois de assistir a Match Point no domingo de carnaval:
- Gostou?
- Leu Crime e Castigo, baby?
- Li. É. É isso...
- Esse filme me deu uma vontade de tomar um vinho...
- Nesse calor? Sei...

4) No quinto andar, entre a cidade e a serra:
- Acho que seu vinho avinagrou?
- É? Como eu ia saber?
- Não se faz mais intelectuais como antigamente...

5) Entre mulheres, já na segunda garrafa:
- Ih! O saca-rolha quebrou, olha só!
- Dá aqui que eu puxo.
- Ela não vai conseguir, me dá.
(splof!)
- Nossa!! Tá fortona, hein...
....
horas depois:
- Só eu tô bebendo, né?
- Eu tb tô!! (grita do banheiro)

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Esta manhã

No táxi, a caminho do trabalho:

- Vc trabalha muito. Quando casar, seu marido vai reclamar.
- Não vou casar...
- Claro que vai. Logo, logo aparece um cara bonitão e vc vai se encantar.
- Sei. Resta saber se ele também vai "se encantar"...
- Vc é bonita, é carismática. Não tem como não se interessar.
- Sei. Tá rogando praga?

E no jornal, as letras em negrito do Contardo Calligaris diziam:
"Receita do amor que dura: amar o outro não apesar de sua diferença, mas por ele ser diferente."

Acho que amo o Contardo.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Marcas

Estou com uma manchinha no braço. Posso ter esbarrado em algum lugar, batido na porta do armário. Mas me falaram que é melancolia.

Pudor

Ele era levado pela mãe "de cavalinho" e confortavelmente encostava o queixo sobre os cabelos dela. Ela de calça vermelha de boca larga lembrava uma personagem dos anos 70. Estava sol, mas não muito quente. A roupa do menino era bem fininha e, por causa da posição, a calça desceu. Mas pelo jeito ninguém percebeu, nem ele, que vinha de bunda de fora por toda avenida Angélica. Ah, como é bom ser criança.

Astral

"Freqüência da minguante lunar é de equilibrar emoções, cuidando do estômago, que tudo digere no plano físico e também de processar o que você não engoliu emocionalmente - o que dá no mesmo no plano astral. Interiorização e conforto familiar serão essenciais. Amor, só se for incondicional."

Afê!

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Das coisas que anunciam o apocalipse - V

A volta das Spice Girls. E o fato dos ingressos acabarem em 38 segundos. Tenho medo.

Jantar só para mulheres

De uma amiga após sair da sala de cirurgia com as pernas anestesiadas:
- E agora? Como vou fazer para dar uma?

(Obrigada, senhor, por colocar as pessoas certas na minha vida!)

Da mesma amiga, minutos depois:
- Posso te fazer uma pergunta ridícula de mulher apaixonada?
- Pode.
- Se eu oficializei meu namoro no dia 30, como farei para comemorar em fevereiro?
(pausa)
- Em fevereiro é carnaval. Não se comemora esse tipo de coisa.

Bom motivo para ser fashionista

Dior: John Galliano me entende.



Capuccino

Ontem à noite, antes de adormecer, respirei fundo e, sem saber o motivo, achei perdido na garganta um gosto de saudade. Desta vez, veio com sabor de capuccino. Daquele que vinha em uma xícara marrom e era acompanhado das notícias da primeira página da Folha de S.Paulo. Sabor de um tempo em que tudo era apenas uma possibilidade. O frio da serra bateu a minha janela. Olhei com atenção para meu apartamento azul. Sorri. Fechei os olhos e dormi.

Das coisas que anunciam o apocalipse - IV

O fim do msn. Está bloqueado no meu trabalho. Não preciso dizer mais nada. É o fim do mundo.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

De outro lugar sem privacidade

Today's fortune: Stop searching forever, happiness is just next to you.

Eram verdes os olhos de um possível amor

Um dia fui a uma festa com hora para voltar. Não agüentaria tanta erudição e a cerveja era pouca. Mas antes do tédio se instalar em mim, avistei um par de olhos. Verdes. Sentenciei: quero.
Entre rebuliços e duelos, ele foi meu. Um par de olhos verdes para me deixar tranqüila. Um par de olhos verdes que me enforcou, me beijou, me paralisou.
Depois avistei os mesmos olhos entre meus lençóis. Perto da parede laranja com uma maçã do amor nas mãos. Apertados fugindo do sol que nascia. Olhos que se despediram de mim numa manhã de dezembro que começava com meu time ganhando o mundial. Olhos que me cegaram. Para sempre.

Das coisas que anunciam o apocalipse – III

Essa é da minha infância – porque faz tempo que o mundo está acabando! A Gelatto não vende mais o sorvete Furabolo. Pior: o dedo indicador não chama furabolo, chama indicador. E, mais do que pior, nem existe mais Gelatto. O que só me faz concluir que parte do mundo acabou ainda nos anos 80.

Ócio

Espero calmamente pelas informações que faltam para eu escrever a próxima coluna. Acordei cedo e sinto sono. Mais forte do que eu. Os olhos quase fecham e eu me pego a escrever palavras tolas para não despencar sobre o teclado. E finjo fazer alguma coisa. Ócio disfarçado. Ódio. Podia estar em casa dormindo.
Vou pegar um café.

Ela que canta

"Amor que nunca cicatriza
Ao menos ameniza a dor
Que a vida não amenizou
Que a vida a dor domina
Arrasa e arruína
Depois passa por cima a dor
Em busca de outro amor"

(e não sou eu quem diz)

Sobre o blog

(diálogo com ela que escreve melhor do que eu)

Ela: tenho cagaço de saberem o que eu sinto
Eu: eu tb
Ela: nessas coisas maiores, sabe?
mas tá bem escrito, ele vai achar bonito
Eu: hahahah
mas vc sabe que me protejo muito
que não sei ser frágil
Ela: sei
aí mente
é super legal mentir!
Eu: Expor essas coisas é terapêutico. Vai me ajudar.

Mês novo, de novo

Setembro acabou. Open your eyes.

Mas, por favor, nada de perder o trem para Jaçanã.

Das coisas que anunciam o apocalipse - II

O fim do acento em vôo (e o triste fim do trema, mas isso não vou falar. Nunca. Em respeito a tranqüilidade de todos). Agora vai ficar voo. Mas sempre que escrevo o Word acentua automaticamente. E quando percebo a tempo e tiro a maldita pontuação, fica aquele grifadinho vermelho. Odeio. Além disso, voo parece abreviação de vodu. Voodu. É o fim do mundo.

domingo, 30 de setembro de 2007

Das coisas que anunciam o apocalipse - I

(depois de assistir a "A Firma" no SBT de madrugada e ficar pensando banalidades)

Faz tempo. Era fevereiro de 2001 e eu estava no Heathrow, em Londres, quando vi um tablóide anunciar a separação de Tom Cruise e Nicole Kidman. Torci para ser ressaca de mochileira que precisava voltar para casa e não entende mais nenhum idioma. Não era.

Meses depois, as torres gêmeas do WTC caíram e o mundo não foi mais o mesmo. Tom e Nicole separados e Tom casado com Katie representando a família perfeita, a filha perfeita e o cabelo perfeito (o corte caretinha dela é considerado por especialistas da “celebritylândia” como um dos melhores...) fazem parte dos eventos que anunciam o fim do mundo porque não fazem sentido algum. O mundo só pode estar acabando mesmo.

Gravata

Não é um tributo a Marlene Dietrich, nem por causa do desfile do Alexandre Herchcovitch. Quero usar gravata para não ser mais menina. Preciso dela para não precisar seduzir. Antes, pintei os cabelos. E com cabelos vermelhos fui envolvida por boa literatura e chocolates Alpino. Hoje são só reminiscências de um tempo em que também estava cansada.
Por isso, depois do banho, não usei lavanda Jhonson´s ou hidratante de mel L´Occitane. Borrifei o esquecido Fahrenheit e sai para cortar os cabelos. Mais leve.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Uma vez senti tudo isso num dia só

Ele pediu para ficar dentro de mim e quase sem movimento algum senti o mundo inteiro se mexendo: crianças correndo e sorrindo, mulheres amando, homens chorando.

Ele ajeitou o travesseiro sob minha cabeça e cobriu meu corpo satisfeito do prazer e eu me senti como se tivesse voltado para casa.

Fronteiras

Os tempos são de angústia. Angústia que paira sobre as ondas. A modernidade facilitou o trânsito e a comunicação entre os territórios, mas aumentou as dores humanas. É mais difícil ser próximo. Mais tenso. Estamos em contato constante via parafernálias eletrônicas, mas não nos tocamos. As mãos se encostam e rapidamente se retraem. Fogem. Eu fujo. Os olhares se cruzam. Eu coro. Os corpos se misturam e se despedem. Outra fuga. Sinto a coxa quente dele encostada a minha. Quero mais. Mas fujo. Ele está longe. E não corro para pegá-lo. Quero que fique longe. E sinto saudades de quando estava perto. Não sou só eu. Aviões, fronteiras, América e Europa. Outra cidade. Mulheres perdidas entre as construções. Atormentadas longe do amor. Amor que pertence a elas. Mesmo que eles sejam de outras. O amor está sobre nossas cabeças e não o alcançamos. Está misturado a poeira e a poluição do efeito estufa. Sufoca o mar. Impede a brisa. Estanca meu sentir. Não sinto nada, como diz uma música por aí. Nem dor, nem amor. Sinto possibilidades. Me perco em sonhos e pessoas que não existem. Imagino. Mas não sinto. E talvez nem queira sentir mais nada.

Vaidade

Meus cabelos já não são importantes. Nem minha pele. Rímel e gloss, deixo na gaveta. Só penso em tatuar minha borboleta no ombro esquerdo. Um pensamento feliz perto do coração. Um pensamento que voa. Procuro desenhos de Ray Caesar. Mas não encontro borboletas. Tem patas de aranhas e talvez um morcego. Ele era um morcego. Aos 20 anos.

Para o post abaixo fazer sentido

É. Já tenho 28 anos. Há 21 dias e 25 minutos. Ok.
Até que estou gostando...

Tudo que aconteceu este mês e já passou

Quero casar com o Johnny Deep. Quero a sandália nova da Prada. Quero uma nova tatuagem. Quero ir para Paris. Quero um café do Starbucks. Quero acordar às 6h para fazer ioga. Quero as roupas da Stella McCartney para Adidas. Quero um gato. Quero uma máquina de lavar roupa. Quero ser chefe. Quero voltar para lá um dia. Quero férias. Quero um fim de semana no campo. Quero um banho de mar. Quero entrevistar a Cory Kennedy e sair para jantar com a Juliette Lewis. Mas não quero fazer 28 anos.

Quero um novo coração. Mas desta vez, um que segure minha mão e faça carinho e cafuné e leia meus textos e escreva palavras bonitas para mim e me proteja na hora de atravessar a rua e leve minhas sacolas. Desta vez, vou deixar.

What does my heart fell so bad?

Blog

É. Agora tenho um blog. As palavras não cabem mais em mim. Explodo em textos. Menos mal

Presente ou por que sobrevivemos

Para minha amiga Luciana

Foi quando senti a areia fria da noite entre os dedos que minhas lágrimas desabaram. O Destino havia chegado e ficou ao meu lado acompanhando meus passos em direção ao mar.
A água tocou meus pés, molhei nuca e centro da testa como que para pedir permissão para chorar sobre suas ondas. Sempre faço isso.
Precisava gritar e esmurrar a vida. Nada parecia fácil. Sofri toda a tristeza que carrego comigo enquanto buscava o horizonte – que não é nada além do ponto em que a circunferência da Terra transmuta-se em reta (como és grande, mundo!). Mas era noite. E nós, nascidos no mar, sabemos que nessa hora o céu termina não lá, distante, porque a escuridão diminui as distâncias – que digam os corpos apaixonados e perdidos madrugadas adentro! O limite entre terra e céu é a areia e a espuma das ondas. Ao alcance das mãos. Parada ali, estava, então, perto de deus.
E o Destino sem nada falar ou oferecer. Nem um lenço para meu rosto secar. Eu soluçava quando olhei para o lado e vi o Passado se aproximando. Ele trazia no braço a tatuagem das máscaras gregas com as expressões de alegria e tristeza. Parou com a água nos joelhos e apontou a paisagem que jazia atrás de mim. Olhei.
Os prédios estavam iluminados, como sempre. Os canais dividiam a cidade, como sempre. Alguns disputavam uma partida de pelada e crianças fugiam dos pais para brincar no balanço, como sempre. Ele sussurrou:
- Lembras de como eras? Lembras o que desejava? Quer vir comigo?
As lágrimas secaram. Fixei o olhar no Passado por alguns longos minutos e o abracei ternamente para dizer adeus. Ele acarinhou meus cabelos, que nas mãos dele eram de outra cor e comprimento, e disse baixinho novamente: “vá, estarei sempre aqui para lembrá-la”. Então virou as costas e caminhou sobre o mar até sumir de vista.
O Destino, já cansado disso tudo, havia se sentado na areia fofa para me esperar. Caminhei até ele e me sentei ainda recordando as palavras do Passado. Dessa vez o Destino foi simpático e emprestou a camiseta para eu sentar. Uma camiseta listrada. Conversamos um pouco sobre o que eu achava coincidência e o que imaginava ser um plano dele. Tudo errado e inverso. Destino havia planejado minhas coincidências. Arrisquei e perguntei se o Futuro não iria aparecer por ali, talvez para tomar um chopp. Destino calou-se.
Olhei novamente para os prédios. Sabia que eles estavam tão unidos com o Passado, que se eu tivesse um pensamento traiçoeiro, Passado ficaria sabendo e faria intriga para o Futuro não gostar mais de mim. E melhor não mexer com o Futuro. Ele é o mais sensível da turma, uma mísera piscadela pode transformá-lo para sempre.
Levantei-me. Tirei a areia das pernas e da bunda. Respirei fundo e me inclinei para dar um beijo no Destino. Beijo de agradecimento. “Esta tudo correndo bem, não?”, perguntei. Ele não respondeu, nem se mexeu. Eu? Segui para a cidade, já era hora de jantar, e atravessei a avenida de mãos dadas com o Presente.

Ah, e acho que o Destino sorriu timidamente enquanto o sinal ficava verde. Um riso calado de quem sabe de tudo.

(era oito de setembro de 2007)