sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Hiato

(pausa no chororo para conversar com o grego no facebook. Because:
"I want to give some love to the world. It´s important to give love. Love is the answer. It's important to have love even if it is painfull")

Amor é a resposta.

Stevan, Stefan, Stephan, Steffen, Ste van ou como Berlim me arrebatou de vez numa noite de Réveillon

A cidade é cinza no inverno. E os olhos dele também podem ser cinza. Ou azuis. Ou verdes. Eu duvido um pouco porque o gene do olho verde não pode deixá-lo azul, ou é um ou é outro. Mas ele interrompe o raciocínio em genética avançada com um beijo. Tão quente que poderia ser carioca. Mas não era. Nem grego. Nem francês. Era um beijo com sotaque alemão.

Tomei mais um gole de Augustiner e entrei no metrô. Em Senefelderplatz. Desci em 2012. Acordei em Neuköll.

Berlim é a cidade que abriga os desajustados. Os sem família, os que fazem sua própria família. Ela mesma uma cidade órfã. Sua mãe já foi a Prússia. Depois de um período nebuloso e um divórcio confuso, um casal lésbico cuidou dela. Duas alemanhas, gêmeas e incestuosas - Ruth e Raquel, comunista e capitalista. Quem não cabe, não se encaixa, não se entende, se encontra lá. Juro. A cidade, ela mesma, não se entende. Mas não derrapa. Não atrasa. Não se atrapalha. Uma cidade de caixas de banco punks, bichas felizes, anarquistas tatuados. Uma cidade para quem sabe a dor de ser o que é. Berlim é a delícia.

Em Berlim não precisa ter natal, mas precisa ter glüwein. Não precisa ter passado. Ela se reinventa a cada obra. A cada demolição. Uma nova Berlim dentro da antiga Berlim. Aquela que ainda é da Prússia. Aquela que tem 23 anos. Aquela que pariu meu nome do meio. E também aquela que está à frente do resto do mundo. Replicante mutante.

Em Berlim, eu teria filhos. E, por isso, quatro anos de ajuda do governo. Em Berlim, tudo seria diferente, aquele me disse um dia. E é verdade. Em Berlim eu sou eu. E basta. Em Berlim eu bebo e não acordo de ressaca. Em Berlim eu dou.

Berlim guarda a desgraça e os mármores da Grécia e também sua salvação nos cofres de Angela Merkel. Em Berlim os metrôs te levam aonde você quer.

E eu quero ir para Neuköll. Para aquele homem de 1,92m, com tatuagem no ombro esquerdo, que joga vídeo game e tem olhos que não decidem a cor. Aquele que só sei o primeiro nome, ou nem isso. Que nunca mais vou ver e que fugi como se fosse meu vizinho.

Eu quero Berlim. Agora. Aqui na Vila Buarque. Quero abrir a janela e sentir o cheio da Alexanderplatz.

Quero ir embora. Quero viver.