quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Das vezes que engravidei

Quando eu tinha 15 anos minha melhor amiga na época engravidou. Ela repetiu de ano e não me contou com vergonha, mudou de cidade e teve anemia. A última vez que a vi, ela precisava de um canto para dormir antes de voltar para São Paulo. Tempos difíceis. Ficou no sofá de casa, emprestei um livro que gostava muito, o Diário de Lúcia Helena, e fui dormir. Nunca mais vi. Nem ela, nem o livro.
Depois que saí da escola, uma das meninas da minha turma de oito amigas engravidou. Parou a faculdade de odontologia (depois retomou e hoje trabalha lindinha toda de branco). Fui no chá de bebê na casa que já vira meia dúzia de adolescentes bêbados caindo na piscina. Pintamos a barriga dela com batom e como o tempo não era de máquina digital, tenho guardadas as fotos com muito carinho. Éramos bem bonitas nessa época. Eu ainda acreditava no amor. O menino nasceu, ela casou, ele cresceu, ela separou. Voltou para a casa da mãe – a da piscina. Ela encontrou outro cara legal. E, se não me engano, está bem. Mas eu não a vejo há anos.
Tempos depois, por causa de um telefonema no meio de um plantão, fiquei sabendo que ele seria pai. Também era outubro. Respirei pálida e fui dar um boletim de trânsito. Depois, subi no sétimo andar - que decididamente não era o sétimo andar e meio do John Malkovich - e disse a ele, depois de um beijo triste, que não me procurasse nunca mais. Game over. Lembro bem da expressão que usei. Ele estava de camiseta laranja. Ele separou. Ela casou com outro. A criança nasceu. Não sei se ele registrou. Não sei se a mãe da criança fala com ele - faz bem se não. Ele não vale nada mesmo. E meu ‘nunca mais’ durou até o dia em que ela pariu. E eu nem sabia.
No meio do ano, uma outra amiga da turma de oito também engravidou. Susto. Parecia que iam roubar a nossa juventude, que ainda éramos aquelas de calça bailarina e keds, que não devia. Mas aos 28 anos e depois de um aborto, já era hora. Não a vejo há anos. Mas torço para que seja feliz.
Há três semanas, minha melhor amiga soube que estava grávida. Vai sair do emprego que queria - ou dizia querer - desde os tempos da faculdade. Vai fazer um caminho que não chega na Dinamarca. Na Copa de 2014, ela vai levar o filho aos jogos. Se o santo que a mãe dela reza for bonzinho, ela terá um marido. E ele também irá. De verde e amarelo. E eu pensarei, onde quer que eu esteja, nela lá, pulando e gritando e ensinando o filho a gostar desse troço que é o futebol. E ele já vai saber toda a escalação – incluindo a do Santos nos tempos de Pelé e Coutinho e Mengálvio e Pepe. Eu vou terminar o café amargo que estiver tomando e encontrar minha solidão do outro lado da rua.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ela me falou que conseguiu as coisas que planejou na vida....e as que não planejou também...e que no fundo, ela tá feliz...assustada, mas feliz! E o filho dela vai todo final de semana na Vila Belmiro!