segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Herança

Lavei o cacho de uva rubi, escorri a água e coloquei em um pires bonito. Levei para a cama para comer enquanto lia Gabriel Garcia Márquez com a TV ligada, como meu pai me ensinou. Mas separei um guardanapo de papel para passar uva por uva antes de levá-las a boca, assim não dá aquela coceirinha, como meu avô me ensinou.

Acho que é por isso que sobrevivemos. As grandes felicidades são voláteis como a acetona que tira meu esmalte vermelho e mancha meus dedos. Às vezes é mais fácil descascar. Puxando com força a lasca que solta. Mas esses pequenos momentos de delicadeza não deixam marcas. Só a do riso cúmplice com a vida no rosto.

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