quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Limite

Sure as I am breathing
Sure as I'm sad
I'll keep this wisdom in my flesh
I leave here believing more than I had
This love has got no ceiling

(No ceiling - Eddie Vedder para Into the Wild)

Sinais

Está na hora de partir. Para frente. E outro lugar. Até dentro de mim. Eu sei. E você me diz. Seus olhos também. Só quero ter para onde voltar. E você numa mesa jogando fumaça de Marlboro em mim. Para sempre. Em qualquer lugar.

Alegria

Ela sorri sem dentes num carrinho de bebê cor-de-rosa . E veste saia balonê.

Antídoto

Sempre me fascinou o fato de que o remédio para o veneno da cobra era o próprio veneno. O que mata, cura. Dependendo do uso. Quando criança, passei algumas tardes durante as férias no Butantã tentando entender porque é preciso se expor duas vezes ao mesmo mal para ficar bem. E ainda não entendi. Me exponho muito mais do que duas vezes. E já morri algumas, eu sei. Sem antídotos azuis em vidrinhos mágicos dos filmes do Indiana Jones para me salvar.

Nesses últimos dias, procurei o último antídoto que precisava. No rótulo, palavras em francês. Só não consigo encontrar o prazo de validade. E isso me corrói.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Sabedoria judaica

"A gente muda – muito. E isso é o melhor da vida: saber que se um dia a gente está angustiada e com medo, no dia seguinte pode estar feliz e cheia de coragem." - by my boss

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Hora de dizer adeus

Ele esticou os braços ainda bronzeados do último verão para abraçá-la. Nem tinha aberto os olhos na cama de lençóis brancos com minúsculas hortências desenhadas, presente da avó que morava no interior de Minas. Mas ela não estava. Pensou que, talvez, ela pudesse estar na cozinha fazendo café. Silêncio. Nem o chuveiro se ouvia. No apartamento duplex do Leblon tudo era silêncio. Depois de se espreguiçar e se contorcer em uma quase ioga matinal, ele coçou a cabeça e foi ao banheiro. Enquanto fazia xixi sentiu falta de alguma coisa, mas não sabia ao certo o que era. Escovou os dentes. Estava muito cedo. 9h45. Era domingo, ele não tinha nada para fazer. Pensou em ir à praia jogar um futevôlei com os amigos. Mas era melhor espera-la voltar. Da padaria, pensou. Ela ficaria brava se não o encontrasse. Ligou a TV.

O controle-remoto estava perdido na mesa onde ainda jaziam as garrafas e taças de vinho da noite anterior. E que noite. Riu. Ela tinha passado o sábado na praia tomando bloody mary do Fasano com amigos gays. Chegou em casa junto com o pôr-do-sol. Linda. E nem sabia. Meio descabelada, com a pele brilhando de suor e marcas de biquíni que destacavam uma pélvis branca de menina perdida em um corpo de mulher. Exalava tesão. Eles transaram assim que ela abriu a porta. Uma foda perfeita. O sal do corpo dela o deixava mais excitado. Ele a lambeu inteira. Ela, meio bêbada, meio mole, o chupou como nunca. Eram as dicas dos meninos gays que ouvira pela manhã, justificou rindo. God save the queens!, ele pensou. Exaustos, ele dormiu. Ela foi tomar banho. Quando acordou, encontrou o jantar perfeito: velas, uma massa com um cheiro maravilhoso saindo do forno e o vinho que mais gostava na mesa. Duas garrafas. Ela pensara em tudo. Não era aniversário. Não era dia dos namorados. Ele não ia pedi-la em casamento. Ao perceber a cara de dúvida dele, ela apenas piscou e disse: “é só para agredecer. À hoje...”. Riu safada.

E como era safada aquela pequena. Desde sempre. Ele se lembrava dela ainda adolescente gemendo no carro prata dele. Sem habilidade. Mas demonstrava um futuro promissor. Ela estudou o riscado. Era boa aluna e gostava de homem. O tempo passou e eles se afastaram. Reencontraram-se. Afastaram-se. Transavam às vezes. Ah, o tempo.

O relógio moderno, comprado em Berlim durante uma viagem, já marcava 20h37. O Faustão se despedia e o domingo estava acabando. Ele não tinha comido nada o dia todo. Estava com fome. Na geladeira, só um pacote de pão integral. Duas fatias. E ela ainda não voltara. Ficou preocupado. Pensou em bala perdida. Nessa cidade, nunca se sabe. Então, lembrou o que faltava no banheiro. A escova de dentes dela não estava lá. Olhou no armário. Nada de roupas. Os livros do Camus também não estavam na estante. Ela não ia a lugar algum sem esses livros – lembranças que carregava de um antigo amante e ele fingia nunca ter existido.

Sentou atônito no puff em frente à TV de plasma desligada. E, de repente, ouviu da memória apagada pelo vinho: “eu te amo, mas há outro”. Um raio cruzou a sala e queimou a história dos dois em segundos. Ele não tinha sonhado. Ela falara essa frase bem baixinho, ao pé do ouvido, antes dele adormecer. Com medo. Ela tinha ido embora.

Por que? Porque ele não a amava. Ele sabia. Ela sabia. Era bom. Mas não era amor. E ela queria amor. Queria ser conquistada. Então, demorou, mas ela foi. No fim, ele nem sentiu muito. Vestiu um jeans e uma camiseta e foi para Santa Teresa beber com os amigos. Solteiros. Ela? Estava na Lapa com uma amiga do ABC que visitava a cidade para os desfiles de moda.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Wrong

Se o certo é não fazer errado, o que diabos eu tenho errado tanto?

Into the wild

Eu andei. Não, corri. Corri por toda Itacolomi, molhada de chuva. Respirando sua juventude. Imaginando seus retornos embriagados no terceiro andar daquele prédio. Nos meus lábios, o roxo de um vinho francês do restaurante de esquina. No celular, uma mensagem que nunca chegou. Cuidado. O outro me respondeu, com louvor. No coração, um amor que transborda de mim. Alaga a zona norte. Um amor que não suporto. Meus olhos enchem de lágrimas e ainda estou na esquina com a Piauí. E penso no filme que vi. Tão você, e tão eu. E ele. E me confundo. E me isolo. Nas ruas vazias de um domingo à noite chuvoso e com o Oscar passando na TV, só minha respiração é ouvida. Forte. Quase um pedido de socorro. Passo pela casa de minha chefe. E tudo está escuro no quinto andar da mulher mais feliz que conheço. E tudo está escuro em mim também. A lua decrescente ilumina meu caminho perto da santa e suas velas. A luz do posto na Jaguaribe me cega. E eu só penso em você. Penso que sei. Eu amo sozinha e queria sugar de você todas as suas aflições. Porque amar é isso. É guardar em si as aflições do outro. Mas quem vai tirar as minhas? Em qual ombro vou recostar minha cabeça e dormir tranquila? Podia tanto ser você...
Happiness is only real when you share...

A chuva e a minha janela



Chove cinza na minha janela. E Amy Winehouse grita pelo meu apartamento. Louca, descabelada e intensa.
Um domingo para me deixar feliz. Como os domingos devem ser.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Sessão da tarde

Eu já assisti a Casamento de meu melhor amigo umas 23 vezes. Mas, hoje, na TV, entre uma colherada de Häagen-Dazs e outra, nem notei o vestido lilás que gosto tanto da Julia Roberts. Nem prestei atenção na trilha. Só martelou na minha cabeça o tempo que Julia somava: nove anos, nove anos, nove anos.

Credo! Parece até sinal...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

22 de fevereiro

Eu nunca disse “eu te amo”. Para ninguém. Minto. Para meu avô e meu irmão já falei. Meus dois librianos. Dois homens azuis. Que me trazem paz. Para você já escrevi. Em um recibo de farmácia. Acho que era 2000. Até corações desenhei. Nunca falei. Nem te entreguei o papel, claro. Rasguei em um dia que limpei algumas gavetas. Algumas encarnações depois. A primeira vez que tentei segurar sua mão, senti de uma só vez seus dedos esticados e gelados do copo de vodca. Estávamos numa estrada a beira mar e eu vestia uma blusa azul. Turquesa. O frio do gelo perfurou meus ossos em segundos. E, por reflexo, soltei sua mão. Cambaleei no salto alto. Mas segui a seu lado. Você, em outro planeta. Desde então, sigo pela mesma estrada a beira mar com cheiro de peixe podre. Um universo paralelo. Eu, de mãos vazias. Ao seu lado. Mesmo quando você não me vê. E você nunca me vê. E lá se vão quase dez anos.

É bem entre os seios, naquele espaço que o osso divide, que aperta. É onde a lua cheia ilumina e se esconde quando é nova. Ali, sinto o mundo girando – principalmente no sentido anti-horário. E você partindo. E eu sufocando. E o ar faltando. E Hiroshima explodindo. Ali você mora. E rompe. E parte. Me reparte ao meio. Me mata e me une. E nem posso dizer nada. Nem adeus.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Neblina

Os meus olhos enxergam tudo sob as lentes degradé dos meus óculos vintage. Que me escondem e me protegem. A menina alta, de cabelos castanhos claros e rasteirinha metalizada, carrega Crime e Castigo no ônibus lotado. Outras mulheres se enfeitam. Brinco de florzinha, grampos de strass. A Terra encobre a Lua com sua sombra soturna e pesada. Madrugada. Eu suspiro. Inspiro e expiro na aula de pilates. El comandante renuncia. Você não vem me ver. Eu renuncio. O futuro é turvo. Como a neblina que impede a balsa de fazer a travessia Santos-Guarujá. Não vejo. Eu me perco na bruma. Tento acender uma lanterna velha que veio do Paraguai, mas as pilhas vazaram lá dentro. Não funciona. Meu pai desdenha a neblina que tem no pulmão. E você desdenha a minha solidão sob as lentes degradé dos meus óculos vintage. Que tudo vêem. E os homens que me rodeiam viram fumaça. E quem não respira sou eu.

17min32

Um ligação ontem. Antes da chuva. Para diminuir a saudade. Para falarmos de tudo. Filmes que preciso assistir. Destilamos veneno ao mundo. Ele, ao meu. Foram 17min32 para ele dizer que é eterno em mim. Até gostei. E sorri numa Bela Cintra escura e molhada. Às 22h07 o alerta de mensagem sms tocou. Era ele pedindo para eu sintonizar uma estação de rádio. Rápido. Os acordes tão íntimos de nós dois explodiram. Thoughts arrive like butterflies. Senti falta de um tempo em que conhecia o caminho por onde passava. Tranquilo. Sem amor, sem ansiedade. Só um caminho.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Sobre a onça que há em mim

Cresci olhando a foto de uma onça pintada. Temos o mesmo nome. Eu e a onça. Ela nadava - ou se defendia da força das águas - na Amazônia. Hoje, achei no site do Araquém Alcântara (o responsável pela fotinho que tanto amo) a seguinte explicação:

"Avistou-a logo, majestosa, brincando de morder os troncos dentro d´água. Era uma onça com problemas. Fugida de um hotel para onde não queria voltar, fora, ao que parece, meio rejeitada entre as onças da alta floresta. Então vivia por ali, como todos os desadaptados, pelas beiradas."

Eu entendo. Tudo.

Coisas que mudam

É a voz suave de Jeanne Moreau que ecoa dentro de mim:

Le tourbillon de la vie
Le tourbillon de la vie
Le tourbillon de la vie
Le tourbillon de la vie
Le tourbillon de la vie
Le tourbillon de la vie
Le tourbillon de la vie
Le tourbillon de la vie
Le tourbillon de la vie

E meu estômago dança como bailarinos vampiros.

Das coisas que anunciam o apocalipse - XI

A renúncia do Fidel.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O fio da vida

Silêncio. Só uns poucos sons do dedilhar nos teclados. O ar falta. E o telefone, no meio da mesa entre seis computadores, toca estridente. Os pensamentos aterrissam. Voltam ao foco. É tênue o limite entre o bem-viver e o eterno lamento. Ele só foi subir na árvore da casa da praia para pegar frutas. E a escada era frágil. Eles só voltaram para o Brasil porque na Alemanha não tinha tantas árvores. Nem casa de praia. Ela só foi ao show de rock com as amigas adolescentes para ver o oco. Mas o espaço entre as paredes do clube era pouco. Não cabia todo mundo. O oco não existe. As sete meninas só estavam voltando para casa. Provavelmente cantando e gritando o nome de seus amores pela estrada. Na contramão. Ele só entrou na piscina para comemorar a faculdade nova. Mas não sabia nadar. E o outro entrou de capuz na sala de aula com uma escopeta só porque era infeliz.

Como num filme de Iñárritu, tudo se desmancha. Vira pó. Vira nada. E o telefone toca. O cão late longe. Um casal se apaixona. Uma criança morre. E as pessoas calam. E o fio se embaraça. E parte. Como a medula.

Quando me faltam palavras

Eu queria escrever um texto bonito. Um texto de amor. Mas sem falar dele. Queria reunir palavras em perfeitas orações. Ter frases de efeito. Um texto para mudar a vida de quem o lesse. Com metáforas e comparações. Sem hipérboles. Com uma ou outra mensagem subliminar. Minha identidade nas entrelinhas. Queria escrever sem transpirar. Sem dor. Sem fingir. Sem exclamações. Mas hoje sou só aflição. Angústia. As palavras me fogem como a areia que afunda sob meus pés quando a onda recua no mar. Tenho medo. De muita coisa. Mas hoje ouvi de novo: "você, chorando? até parece". As pessoas não sabem. Eu me tranco. Guardo para mim. Só minhas paredes - ora mofadas, ora azuis - escutam meu lamurio. Minha ladainha. Colo adesivos de margaridas por onde passo. Para deixar tudo mais leve. E não adianta. As flores transformam-se em rochas vulcânicas. E eu não sei. Não sei de nada. E os dias passam. E no Arpoador o sol se põe. Eu não vejo.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Virgem

Semana difícil para os virginianos. Guga chora, Ronaldo chora. Ambos sentem dor. Coluna e joelho. E eu me enfeso. Só não choro porque estou sem paciência. E descobri uma tendinite no ombro. Nos dois. O esforço explode a gente. É duro ser o que se quer. Dói. E não só a alma.

Bad hair week, ops, day...all days.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Os fotógrafos estão sempre na frente

- vai ter festa?
- não, sem festinha. sem essa de comemorações
- então, vou dar para vc quando? preciso de uma desculpa...
- é verdade. dar por dar, por vontade não rola. tem que ser algo que obrigue, tipo um perdido do primeiro pretendente, um aniversário, corpus christi, dia da independência americana
- é

O dia em que a tristeza tirou férias

Eles sorriem nas esquinas. Todos coloridos e manchados de tinta guache - daquelas que as crianças levam no primeiro dia de aula e endurecem por falta de uso. São milhões. Jovens. Hoje, é permitido falar com estranhos. Não há medo do contato físico. Eles brotam próximos a faculdades - e alguns, como gremelins, chegam à avenida Paulista. Pedem uns trocados. Tomam cerveja ou pinga de má qualidade. Mas não ligam. Apenas sorriem. E se coçam. Alguns sonham, outros nem sabem de nada, nem pensam. São leves. Quando é trote, ninguém fica triste. Nem eu.

Ônibus

As pessoas fedem. E empurram. Encostam. E falam e falam e falam.

Eu queria morar em outro planeta.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Duas perdidas numa tarde sem graça

Eu: quero ir embora
do país
do planeta
Ela: eu tb
Eu: vamos?
as duas gostosinhas de mochila?
Ela: quero ir pra venus
e morrer queimada
joana dark do espaço
Eu: hahahaha
venus deve ser legal
tem camisinha lá!
(pausa)
...foi péssima, eu sei
Ela: quem gosta de camisinha?
Eu: aquele lá
(ok, na conversa original, escrevi o nome dele. Mas não coloco nem o meu, quem dirá o do dono dos olhos verdes que me trouxe uma maçã do amor numa noite quente de dezembro...)
Ela: hahahahahaha
Eu: haahaha
Ela: alguém que escolhe ser dentista não deve ser normal
Eu: ou é
normal demais
credo!

Debutante

A vida adulta vem em ondas: depilação, cinema sozinha, tirar a cutícula, ob, comprar as próprias verduras e legumes, trocar lâmpada, café o dia inteiro, descongelar o frango (sexo e beijo não - qualquer uma faz).

E, hoje, mais um passo. Um curvex. E foda-se. Parece fútil? Azar. O meu é Shu Uemura. E estou me sentindo ótima.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Wish...

Sabe quando você quer muito uma coisa? Quando deseja muito? Quando sonha acordada pensando no que se quer? Pois é. Um dia pode acontecer...And it is so good!

Céuzinho

Ela procurava muito por uma casa. Um local para poder voltar. Com cheiro dela. Sem mofo, nem cigarro. Sem carpetes. Um lugar onde pudesse pintar uma parede de laranja para guardar as memórias dos passos que deu pelo mundo. Onde pudesse andar nua. Ou vestida dos pés a cabeça. Se assim desejasse. Um espaço para dançar suas músicas preferidas. E gritar. Para chorar em paz. E rir e amar e vomitar, quando precisasse.

Um dia sonhou que era levada pela mão para ver um apartamento. Seria a casa dela. Parecia um sobrado, com escadas que vocês subiram e tinha uma varanda. E, segurando a mão dela, vocês encontraram um jardim. Era o Jardim Botânico das novelas do Manoel Carlos. E, no final, o caminho (que nem era de paralelepípedos dourados, mas poderia) chegava ao Cristo Redentor. A casa dela, judia, teria o Cristo no quintal.

Pode não ser nada. Ela pode nem acreditar. Mas o arquétipo é forte. E ela sabe: desde que entrou na sala no décimo primeiro andar, tudo ficou bem. Demorou. Errou. E, muitas vezes, achou que estava tudo perdido. Mas a verdade é que nada a atinge dentro desse céu. O céu que pediu quanto visitou o kotel. O céu que a fez voar. Para o alto. E de volta, quando precisa descansar.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Modernidades

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...

E eu quero mesmo é te mandar uma carta perfumada com uma rosa seca dentro...para acabar com sua angústia. E te trazer para perto.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O mundo é das mulheres

Vai chamar Sofia. E vai se vestir de cor de rosa. E eu vou contar as histórias de princesas - porque a mãe dela não entende nada de princesas...confunde castelo da She-ha com sapato da Cinderela. E ela vai amar o Vedder. E vai querer dar para ele. Mas eu também vou comprar camisinhas para ela. E ela vai me adorar porque eu sou fashionista!!! Vou ser a tia mais bem vestida.

E ela vai ter um jogo de botão para usar de desculpa e chamar os meninos para irem à casa dela. Ê. Mais uma guerreira no mundo!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Back to the future

Era uma vez uma menina cansada. Muito cansada. Ela não dormia desde 22 de fevereiro. De 1999. Precisava de sossego. Não sabia mais viver assim. Os olhos já choravam sozinhos. E o corpo não obedecia aos comandos cerebrais. Como se ela estivesse entorpecida. Dopada. E viciada.
Antes disso, as noites quentes de verão passavam-se num mundo com sete canais e só uma saída: a rodoviária. No microcosmo, um quarto com piso de taco de madeira e bichos de pelúcia na estante. No som, Shakira e Celine Dion e Guns and Roses e Pearl Jam. E ela jurava que iria ver Vedder quando este pisasse por aqui.
O apartamento ficava no primeiro andar de um edifício antigo e o cheiro de maresia e os pernilongos dividiam as esperanças e temores daquela menina. Ela queria cobrir os desfiles do Morumbi Fashion e ter uma calça jeans da Zoomp, mas gostava mesmo era do cheiro das lojas da M.Officer. Passava às tardes no shopping com as amigas esperando o menino mais bonito do colégio chegar – e ela nem o achava assim “tão” bonito. O Mc Donald´s do canal 6 tinha acabado de abrir e elas pegavam carona na praia para comer um número 4. Aos sábados, voltava para casa com o maço de Marlboro das meninas – os pais delas eram bravos. Prodigy era moderno e libertário. Mila, do Netinho, era ensaiada com coreografia por suas amigas. Ela odiava. E Ivete Sangalo ainda era da Banda Eva. Alicia Silverstone estrelava Clueless – porque ela se recusava a chamar o filme de Patricinhas de Beverly Hills. Gisele Bündchen não era über. No máximo, fazia editoriais na Capricho. Nova York tinha as torres gêmeas e Rudolph Giuliani era prefeito. No Brasil, um sociólogo ocupava a cadeira presidencial. O Google não existia. Barrados no Baile perdia status para Friends e ela sabia que seria a Monica quando adulta. Titanic ganhava o Oscar de melhor filme. O Brasil perdia a Copa por culpa da Nike. Ela alugava filmes do Woody Allen e pedia China in Box pelo telefone. Tom Ford fazia da Gucci referência. E a menina adorava o sex appeal das modelos e o make felino do desfile de Alexander McQueen. E o Startac era o celular mais avançado que só o namorado rico de sua amiga tinha. Ela esperava ansiosa o dia em que iria a Paris – nem imaginava que passaria por Jerusalém antes. Ela queria ser gostosa. E era virgem. E sonhava com o dia em que iria ao supermercado comprar caixas de leite e teria uma árvore de natal dourada como a da revista Cláudia. E filhos, sim, a menina um dia pensou em filhos. Beatriz, se fosse menina. Pedro ou João, se fosse menino. Nomes de santo, como dizia a música do Legião Urbana. A tempestade que chegava sempre tinha a cor dos olhos castanhos da menina. Ah, Renato Russo ainda era vivo. E a faculdade, um sonho. E o trabalho numa revista de moda, um objetivo. E eram as palavras de uma colunista judia num jornal de domingo que alimentavam a vontade da menina de tomar a caipirinha de lichia do Spot. Mas ela queria mesmo se apaixonar. Como as personagens de Fernanda Young. Histéricas. Ela queria mesmo. Ser assim, ser urbana, ser louca. Ser frívola e densa. Ela queria crescer.

Pois é. Essa era a menina antes de te conhecer. E ela precisou listar tudo porque queria saber se vivia antes de você. Porque não lembra da vida antes de amar você. Porque a menina não passou um só dia sem pensar em você. Mesmo quando longe, mesmo quando em silêncio.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Ei...

olha o que ouvi pela manhã quando liguei o rádio:

"Por que está amanhecendo?
Se eu não vou beijar seus lábios quando você se for ..."

Le Tourbillon De La Vie

"...On s'est connus, on s'est reconnus,
On s'est perdus de vue, on s'est r'perdus d'vue
On s'est retrouvés, on s'est réchauffés,

Puis on s'est séparés.
Chacun pour soi est reparti.
Dans l'tourbillon de la vie

...On a continué à toumer
Tous les deux enlacés
Tous les deux enlacés."

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Eu, eu mesma e eu que sou sua

Amo de um jeito tão limpo. E tão transparente. E tão líquido, que é quase injusto amar sozinha. E, lá fora, não é chuva. É meu amor. Que chora. E chove.

Amarelo

Está anoitecendo amarelo em São Paulo. Enxofre demais no ar. Pôr-do-sol nauseado. Doente. Como a fruta que cai do galho e se espatifa no chão. Amarela. Como o suicida que desiste de tudo no décimo sétimo andar. E, no chão, só há o som dos ossos quebrados. E fluídos amarelos escorrendo pela calçada. Como meu amor por você. Amarelo. E a flor sem vida, sem razão, sem vontade e... amarela. Jaz em cima da alma que você matou. Por descuido, por não regar. A noite está amarela porque cansou. E eu também.

Resoluções de Ano Novo - III


A foto é do Sartorialist e peguei porque o nome do post é Flowers, Paris. E fiquei pensando: eu quero alguém que me traga flores. Até se for de mochila. E nem precisa ser em Paris.

Domingo

E, depois de um almocinho mineiro, chuva. Lá fora e aqui dentro. Estou com preguiça de fechar a janela e as gotinhas começam a cair no teclado. Aquele que conheci em outro carnaval, entra no msn. E sinto vontade de puxar assunto. Mas iria falar de quê?

Do notebook sai a voz de Bebel Gilberto cantando manso o refrão I wanna be close to you. E eu deixei o celular no silencioso. Assim, não preciso esperar por você. Não vou ouvir mesmo.

O útero e o carnaval

Na esquina, o bêbado espuma na boca a orgia branca do carnaval. A gorda em um Corsa prata busina para a Kombi que demora a fazer a curva. O calor esquenta o asfalto. E meu útero é só cólica. E meu coração, só cólera. E você, já disse, é todo o meu vazio. Como meu útero. Vazio. E dói.