sexta-feira, 30 de maio de 2008

pensamentos...

Preferia quando você soava perdido em outra capital, muito além de minhas fronteiras, mais perto de meu julho que tarda. Os ecos chegavam mais fracos em mim. E eu até me permitia esperar.

Tenho mais medo do eco de seus passos em terras fluminenses do que dos passos em si. E não posso esperar.

E qual é a explicação para eu ter encaixado você tão dentro da minha vida se não te quero mais? Sinto um sufocamento.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Ainda sobre ecos

"vc é a única pessoa com quem tenho vontade de conversar td dia, nem q seja só para dar bom dia"

Quando a dor acorda

Na cela fria e úmida de um navio negreiro dorme a dor. Lá dentro não há luz. Nem comida. E a dor às vezes se esquece onde está. Os rangidos da madeira velha do casco da embarcação parecem garças voando banhadas de sol em Copacabana e, quando os ouve, a dor pensa que é amor. Ela, então, respira fundo e o limo transforma-se em eucalipto em suas narinas, a escuridão é o sono do amado que a abraça e a fome é o cansaço do sexo. A dor se confunde para sobreviver.

Até que vem a chuva. E a tormenta agita o mar que sacode a dor. Ela bate a cabeça na grade fria. Ecoa o vazio de dentro da alma e sangra. Quando a dor escorre, ela se lembra. E cresce. Acordada, as grades não são nada. A dor ultrapassa o ferro. Rompe o cadeado. Assume o comando e iça as velas. A dor navega nas águas de Vasco da Gama. Nada diminui a dor. Nem os dias de sol. Ela se perde, mas não recua. Ela precisa se espalhar. Deixar descendentes. Pára nos portos sujos e se enlaça às mulheres que se despedem dos amantes. Enrosca-se no pescoço dos marinheiros que não carregam lembranças e fecunda as mães de um único amor. Não há como escapar. Os navios são idênticos. Quando a dor está acordada, são silenciosos de tristeza e, quando dormindo, de medo. Não há como saber de longe.

Você é a dor que navega pelas minhas artérias. Oscilando entre fervura e água fria. Me amando e me expulsando. Me ganhando e me perdendo - mesmo que esteja tão dentro de mim que eu precisaria nascer outra para, talvez, não ser você.

Durma em mim, por favor.

Eco

- Por que ele não namora com você?!?!

quarta-feira, 28 de maio de 2008

a felicidade é...

1) uma tarde ensolarada de outono no Guarujá.
2) ver a água saindo dos buraquinhos dos tatuís nas areias cinzas de minha terra.
3) o cheiro do Fahrenheit exalando de um menino bonito de 17 anos.
Não necessariamente nesta ordem.

A moça

A gente reclama. Chora porque sofre - não conseguimos nunca ser o menino que nunca sofria. Até tentamos. Mas dá um cansaço e acaba que sofrer é mais fácil...
Já a moça de olhos claros e rosto redondo da avó chinesa se despedaça. Como seus progenitores. O pai foi um menino abandonado num colégio interno na Europa pelo avô diplomata e pela avó oriental. A mãe foi embora com um moço chamado câncer que, quando invade o corpo, o leva para longe. E a moça de rosto redondo sofre diferente. Se rasga. E repete a ladainha que carrega no DNA. Solidão em estado bruto.
Ela se sente sozinha. A gente também. Ela liga para a psicanalista. Compra sanduíche no McDonald´s para o menino de rua. Não dorme e não come. Sofre aos olhos de todos. E eu não sei o que dizer.
De repente, surge em minha frente uma mesa redonda de madeira pintada de branco. Uma copa em que os azulejos nunca mudam. O agudo da minha tia ecoando por todos os cômodos do sobrado de tijolos. A mão de meu avô pesando tranquila sobre a minha. Os olhos difíceis de meu pai a me fitar com um orgulho comunista e o braço esticado de meu irmão pedindo o refrigerante de dois litros.
E fico mais silenciosa. Mais invisível. Não tenho mesmo nada a dizer. E, por um instante, parece que nada sei sobre a solidão. E agradeço aos céus.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Ciranda

Ele disse que sente saudades de verdade dela.
Ela, depois de ver o filme, sentiu saudades daquele. De verdade.
E aquele nada sente. Porque não é Big como ela quer, é Mersault.
Então, ela chega em silêncio e ouve Morphine. Presente daquele. Em um junho ou setembro. Para aliviar a dor dela. Um anjo vermelho. Que pode ser só dor. Que aquele compreende. E se cala. E se farta. Em um 23 de outubro qualquer perdido entre as palavras de Ricardo Darín.

E ele esquece que ela é dele de verdade. E que são só quatro quadras e ele mesmo que os separam.

Quando eu quis ser um filme

Não interessa o que dizem.
Estava tudo lá: a Cinderela, a Louis Vuitton, uma menina que nasce, um fotógrafo, a revista, um casamento, o Gansevoort, as amigas, um vestido numa caixa, Mr. Big, um livro de cartas, um pouco de poesia cafona, Manhattan, a tristeza num dia frio, um desfile de moda, o sexo, o amor...e o final feliz.
Tudo numa tela. Tudo de faz de conta. E tão de verdade.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Reviravolta de Saturno

"Tudo muda", disse-me a loira da TV. Depois dos 28. Ah, a vida se transforma. "Fica melhor", confessou. E a profecia de um sete de outubro chuvoso no Guarujá - tão distante do outro perdido no tempo em que os trens paravam na rua João Moura - parecia afogada por um turbilhão de Jeanne Moreau. Fiquei a esperar.
E des-esperar. Agora...
TPM sem mau-humor? Acordar sem reclamar? Vontade de comer salmão e arroz integral - mas sem dispensar, ou renegar, o Big Mac de ontem? Não esperar que o telefone toque? Que ele apareça? Que ele me ame? Que me aprovem? E, afinal, quem é ele mesmo? Uma faxina social? Saber com quem passar e dividir o tempo? Respirar? Um vestido bonito no armário? Um curvex no banheiro? Uma criança a nascer? Um casamento para ir? Uma janela para abrir? Um verão em Nova York? Não chorar?
Então, é isso? Aconteceu?
É isso?

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Estrela

Eu teria virado uma estrela no meio da feira da Barão de Capanema ontem... Mas, pena, não consigo. E, então, explodi a alegria em um sorriso silencioso e cheio de tranquilidade.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Superkalifragilistiexpiralidouxous!

Amélie Poulain 2008


Àqueles que sabem fazer o próprio destino.
Fabuloso. Chanel.

NYC

Ontem vi o trailer de Sex and the City no cinema. Tola, arrepiei. A sessão da tarde se passava em NY e o filme a que assisti no Cinemark também. E o Jornal da Globo mostrou Frank Sinatra cantando it´s up to you, New York, New York....

E eu quis de verdade ser a Carrie Bradshaw!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Diálogo de vô e vó

Vô diz: Viu, nega? A nossa neta vai trabalhar naquele jornal de SP...
Vó diz: É.
Eu, na pia lavando um copo, digo: Não é bem no jornal, é num site.
Vô diz: Ah, ela disse que é um site, ouviu?
Vó diz: E eu lá sei o que é um site?

E quem se importa? Amam-me tanto esses dois que não precisam entender nada. Porque basta isso para eu saber que tenho tudo.

domingo, 11 de maio de 2008

Bola de cristal

Eles pensam que não, mas eu já sei de tudo. Vai parecer que foi sem querer. Só impulsos, maconha e uma semana de moda qualquer. Mas eu já sei de tudo. Na cidade do morro dos dois irmãos, ela vai em direção a ele que há muito perdeu o respeito por mim - ou jamais teve. Mas ainda me faz promessas e insinuações que não pretente realizar.
Inconsequentemente vão se servir. Um do outro. Um sexo triste e vazio. Talvez até gozem na ignorância dos corpos que não desconfiam - ou não aprenderam - que a lealdade é mais importante que a fidelidade. Eu já sei de tudo.
Eu vou me cerrar no quarto ao som do mar de Copacabana. Vou vomitar. Sofrer. Chorar até perder a respiração e o diafragma contorcer de tristeza. Vou dormir exausta. Como tantas vezes já fiz. Até em Avaré.
No dia seguinte não me verão no café da manhã. Sairei cedo e andarei apressada na areia. Meus óculos escuros vão esconder minhas lágrimas das personagens do Manoel Carlos que passeiam por ali. Do ponto mais alto do Arpoador vou me reinventar. Redesenhar minha vida. Sofrer mais um pouco. Desejar que morram sufocados por essa libido que não tem fim. E vou mergulhar no mar. Eu já sei de tudo.
O sal acordará o que há de cruel em mim. E, aos poucos, com delicadeza, vou esmagar um por um. E até sei como. Porque eu já sei de tudo.

87

Alguém acessou repetidamente este blog ontem. 87 vezes...devo ter medo? Quem é vc?

Deixe um recado após o sinal...piiiiiiiiii

sábado, 10 de maio de 2008

A menina que não tinha sonhos

Contos de Fadas para a Criança Sabedoria - III

Ela não sonhava. Nunca. Nem dormia. E, de tanto passar as noites em claro, ganhou seu segundo nome: Clara. Logo, Ana Clara. A menina que não tinha sonhos só conhecia o presente e o passado. Café da manhã, almoço, jantar. Leite quente com mel e biscoitos de polvinho às 4h30. Para esperar o Sol nascer sem a barriga roncar. Escovar os dentes antes das refeições, lavar as mãos após fazer xixi, não misturar queijo com carne. Olhar antes pelo olho mágico para abrir a porta e para os dois lados da rua antes de atravessar.
O médico da família explicou que os pais, Dias e Lilith, desenvolveram juntos um novo tipo de cromossomo, que excluía a necessidade do sono e do sonho para a sobrevivência da espécie. Dr. Araújo quis vender em ampolas a nova célula - ficaria milionário. Era a cura para a frustração: sem sonhos irrealizáveis, sem tristezas. A humanidade estaria salva do mal do século. Mas o casal se recusou. Conhecedora do lado negro da alma, dos pecados e da morte, Lilith queria que a filha levasse uma vida normal. E que a população enfrentasse individualmente seus temores. Assim, mudaram-se para uma casa branca com jardim muito florido a porta e decidiram se revezar na criação de Ana Clara.
Dias, o pai, cuidava da menina que não tinha sonhos enquanto o Sol iluminasse o firmamento. Levava à escola, ao dentista, à natação e a ensinava como andar de bicicleta. À noite, Lilith, a mãe, cobrava a lição de casa, lia a história do mundo e contava os segredos do vento para Ana Clara. Sempre às 6h - único horário em que ambos estavam acordados -, Dias e Lilith comiam panquecas com melado e tomavam chá de flor de liz. E conversavam. Falavam de seus sonhos. Dias passeava por caminhos de tijolos de ouro, conversava com dragões, escalava montanhas mágicas e voava nas asas de borboletas. Lilith sonhava com Paris, com o ar-condicionado do carro, com uma máquina de lavar nova e que, um dia, Ana Clara pudesse sonhar também. Mas a menina permanecia alheia. De olhos bem abertos e coração vazio.
Até o dia em que fez um passeio ao campo com a escola. Entre vacas, porcos, galinhas e milhões de crianças gritando excitadas, Ana Clara viu Diamante. Um corcel. Digno. Negro como a mãe e forte como o pai.
A menina que não tinha sonhos passou mal. Vomitou no pequeno All Star cor-de-rosa e teve que voltar para casa mais cedo. Ardendo em febre, desacordou. E, já nos braços de Lilith, alucinou. Em frases desconexas, falou em cavalgar (sem putarias porque isso é um texto sério para crianças) livremente pela Champs-Élysées de paralelepípedos dourados. Emocionados, o pai e a mãe se olharam. Reconheceram, enfim, outro gene até então latente, a mistura dos sonhos dos dois em Ana Clara. E entenderam que, ao invés de se dividirem para cuidar da menina que não tinha sonhos, deveriam se unir. Ela logo ficou boa. Demorou um pouco para entender o que era dormir. Detestava a cara amassada pelo lençol e o gosto na boca ao se levantar pela manhã. Mas não reclamou. Passou a se alimentar melhor e a conversar mais na escola. Nos desenhos que fazia já se imaginava de médica ou bailarina. Sonhava. E com o futuro.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Das vezes em que tudo correu bem

"Her face is a map of the world
Is a map of the world
You can see she's a beautiful girl
She's a beautiful girl
And everything around her is a silver pool of light
The people who surround her feel the benefit of it
It makes you calm
She holds you captivated in her palm

Suddenly I see
This is what I wanna be
Suddenly I see
Why the hell it means so much to me
Suddenly I see
This is what I wanna be
Suddenly I see
Why the hell it means so much to me..."

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Dizem que...


...embora pequeno, foi muito importante para a humanidade.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Um degrau acima

Já tive medo de altura. Nunca do escuro. Às vezes, a turbulência do avião me preocupa. Mas nada de pavor. Como o moço de olhos azuis no vôo para Manhattan, não perco o sono - e ainda sonho. A solidão me apavora aos domingos e me acompanha durante a semana. Vivo com e para ela. Vivo firme.

E nunca, nunca mesmo, tive medo de andar. Há momentos de pausa. Apenas momentâneos. Os passos são sangüíneos. Certos e fortes. Para frente e para cima. De botas cowboy, plataformas ou All Star. Sem olhar para trás. Na minha frente só a onça que tenho numa foto tatuada em meu peito. Com meu nome. Brincando na água. Desafiando o mundo.

É disso que me alimento. É disso que entendo. É isso que me traz o destino e me une ao presente.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Delícia


Eu aceito - caso ele me pergunte um dia...

domingo, 4 de maio de 2008

Super-herói

Ele estava no topo. De smoking e bebendo o melhor uísque. Colecionava carros. Ele tinha tudo e um reator no lugar do coração. E ainda assim precisou de uma armadura para enfrentar o mundo. Nada de poderes que não existem. Nada de poderes de inseto ou de outros planetas. Pura engenharia. Puro trabalho. Porque é como os realmente bons chegam lá. Only work. Hard.

That´s my hero.

Sábado, feriado

Derrubei a pilha de Cup Noodles do supermercado. O pedaço do queijo que escolhi tinha mofo. E só vi em casa. O Danete abriu durante o caminho. E o molho mostarda do salmão vazou da embalagem plástica e melecou minha eco-bag.

ergh!