domingo, 30 de setembro de 2007

Das coisas que anunciam o apocalipse - I

(depois de assistir a "A Firma" no SBT de madrugada e ficar pensando banalidades)

Faz tempo. Era fevereiro de 2001 e eu estava no Heathrow, em Londres, quando vi um tablóide anunciar a separação de Tom Cruise e Nicole Kidman. Torci para ser ressaca de mochileira que precisava voltar para casa e não entende mais nenhum idioma. Não era.

Meses depois, as torres gêmeas do WTC caíram e o mundo não foi mais o mesmo. Tom e Nicole separados e Tom casado com Katie representando a família perfeita, a filha perfeita e o cabelo perfeito (o corte caretinha dela é considerado por especialistas da “celebritylândia” como um dos melhores...) fazem parte dos eventos que anunciam o fim do mundo porque não fazem sentido algum. O mundo só pode estar acabando mesmo.

Gravata

Não é um tributo a Marlene Dietrich, nem por causa do desfile do Alexandre Herchcovitch. Quero usar gravata para não ser mais menina. Preciso dela para não precisar seduzir. Antes, pintei os cabelos. E com cabelos vermelhos fui envolvida por boa literatura e chocolates Alpino. Hoje são só reminiscências de um tempo em que também estava cansada.
Por isso, depois do banho, não usei lavanda Jhonson´s ou hidratante de mel L´Occitane. Borrifei o esquecido Fahrenheit e sai para cortar os cabelos. Mais leve.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Uma vez senti tudo isso num dia só

Ele pediu para ficar dentro de mim e quase sem movimento algum senti o mundo inteiro se mexendo: crianças correndo e sorrindo, mulheres amando, homens chorando.

Ele ajeitou o travesseiro sob minha cabeça e cobriu meu corpo satisfeito do prazer e eu me senti como se tivesse voltado para casa.

Fronteiras

Os tempos são de angústia. Angústia que paira sobre as ondas. A modernidade facilitou o trânsito e a comunicação entre os territórios, mas aumentou as dores humanas. É mais difícil ser próximo. Mais tenso. Estamos em contato constante via parafernálias eletrônicas, mas não nos tocamos. As mãos se encostam e rapidamente se retraem. Fogem. Eu fujo. Os olhares se cruzam. Eu coro. Os corpos se misturam e se despedem. Outra fuga. Sinto a coxa quente dele encostada a minha. Quero mais. Mas fujo. Ele está longe. E não corro para pegá-lo. Quero que fique longe. E sinto saudades de quando estava perto. Não sou só eu. Aviões, fronteiras, América e Europa. Outra cidade. Mulheres perdidas entre as construções. Atormentadas longe do amor. Amor que pertence a elas. Mesmo que eles sejam de outras. O amor está sobre nossas cabeças e não o alcançamos. Está misturado a poeira e a poluição do efeito estufa. Sufoca o mar. Impede a brisa. Estanca meu sentir. Não sinto nada, como diz uma música por aí. Nem dor, nem amor. Sinto possibilidades. Me perco em sonhos e pessoas que não existem. Imagino. Mas não sinto. E talvez nem queira sentir mais nada.

Vaidade

Meus cabelos já não são importantes. Nem minha pele. Rímel e gloss, deixo na gaveta. Só penso em tatuar minha borboleta no ombro esquerdo. Um pensamento feliz perto do coração. Um pensamento que voa. Procuro desenhos de Ray Caesar. Mas não encontro borboletas. Tem patas de aranhas e talvez um morcego. Ele era um morcego. Aos 20 anos.

Para o post abaixo fazer sentido

É. Já tenho 28 anos. Há 21 dias e 25 minutos. Ok.
Até que estou gostando...

Tudo que aconteceu este mês e já passou

Quero casar com o Johnny Deep. Quero a sandália nova da Prada. Quero uma nova tatuagem. Quero ir para Paris. Quero um café do Starbucks. Quero acordar às 6h para fazer ioga. Quero as roupas da Stella McCartney para Adidas. Quero um gato. Quero uma máquina de lavar roupa. Quero ser chefe. Quero voltar para lá um dia. Quero férias. Quero um fim de semana no campo. Quero um banho de mar. Quero entrevistar a Cory Kennedy e sair para jantar com a Juliette Lewis. Mas não quero fazer 28 anos.

Quero um novo coração. Mas desta vez, um que segure minha mão e faça carinho e cafuné e leia meus textos e escreva palavras bonitas para mim e me proteja na hora de atravessar a rua e leve minhas sacolas. Desta vez, vou deixar.

What does my heart fell so bad?

Blog

É. Agora tenho um blog. As palavras não cabem mais em mim. Explodo em textos. Menos mal

Presente ou por que sobrevivemos

Para minha amiga Luciana

Foi quando senti a areia fria da noite entre os dedos que minhas lágrimas desabaram. O Destino havia chegado e ficou ao meu lado acompanhando meus passos em direção ao mar.
A água tocou meus pés, molhei nuca e centro da testa como que para pedir permissão para chorar sobre suas ondas. Sempre faço isso.
Precisava gritar e esmurrar a vida. Nada parecia fácil. Sofri toda a tristeza que carrego comigo enquanto buscava o horizonte – que não é nada além do ponto em que a circunferência da Terra transmuta-se em reta (como és grande, mundo!). Mas era noite. E nós, nascidos no mar, sabemos que nessa hora o céu termina não lá, distante, porque a escuridão diminui as distâncias – que digam os corpos apaixonados e perdidos madrugadas adentro! O limite entre terra e céu é a areia e a espuma das ondas. Ao alcance das mãos. Parada ali, estava, então, perto de deus.
E o Destino sem nada falar ou oferecer. Nem um lenço para meu rosto secar. Eu soluçava quando olhei para o lado e vi o Passado se aproximando. Ele trazia no braço a tatuagem das máscaras gregas com as expressões de alegria e tristeza. Parou com a água nos joelhos e apontou a paisagem que jazia atrás de mim. Olhei.
Os prédios estavam iluminados, como sempre. Os canais dividiam a cidade, como sempre. Alguns disputavam uma partida de pelada e crianças fugiam dos pais para brincar no balanço, como sempre. Ele sussurrou:
- Lembras de como eras? Lembras o que desejava? Quer vir comigo?
As lágrimas secaram. Fixei o olhar no Passado por alguns longos minutos e o abracei ternamente para dizer adeus. Ele acarinhou meus cabelos, que nas mãos dele eram de outra cor e comprimento, e disse baixinho novamente: “vá, estarei sempre aqui para lembrá-la”. Então virou as costas e caminhou sobre o mar até sumir de vista.
O Destino, já cansado disso tudo, havia se sentado na areia fofa para me esperar. Caminhei até ele e me sentei ainda recordando as palavras do Passado. Dessa vez o Destino foi simpático e emprestou a camiseta para eu sentar. Uma camiseta listrada. Conversamos um pouco sobre o que eu achava coincidência e o que imaginava ser um plano dele. Tudo errado e inverso. Destino havia planejado minhas coincidências. Arrisquei e perguntei se o Futuro não iria aparecer por ali, talvez para tomar um chopp. Destino calou-se.
Olhei novamente para os prédios. Sabia que eles estavam tão unidos com o Passado, que se eu tivesse um pensamento traiçoeiro, Passado ficaria sabendo e faria intriga para o Futuro não gostar mais de mim. E melhor não mexer com o Futuro. Ele é o mais sensível da turma, uma mísera piscadela pode transformá-lo para sempre.
Levantei-me. Tirei a areia das pernas e da bunda. Respirei fundo e me inclinei para dar um beijo no Destino. Beijo de agradecimento. “Esta tudo correndo bem, não?”, perguntei. Ele não respondeu, nem se mexeu. Eu? Segui para a cidade, já era hora de jantar, e atravessei a avenida de mãos dadas com o Presente.

Ah, e acho que o Destino sorriu timidamente enquanto o sinal ficava verde. Um riso calado de quem sabe de tudo.

(era oito de setembro de 2007)