terça-feira, 30 de outubro de 2007

Palíndromo

Vou falar da solidão de um homem de 73 anos. Homem que deu a volta ao mundo, casou com uma Miss Universo, beijou a mão de mademoiselle Chanel, foi recebido por reis, rainhas, presidentes e por todo mundo que interessa. Um homem essencialmente sozinho. Doente. Com a doença da solitude. Mas tenho medo mesmo é da minha solidão.

Nem tudo é mal no Alzheimer. A doença congela o passado dourado e apaga as mágoas do presente. O Alzheimer estaciona o ser onde ele foi mais feliz. Viver em lembranças e não registrar o presente é um privilégio nesses tempos de crise. Pois crises passadas – e superadas pelo tempo – são sempre mais poéticas, sempre mais leves. Nem tudo é mal no Alzheimer.

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