quarta-feira, 27 de maio de 2009

I know...

She might make you breakfast
And love you in the shower
The feel is momentary
'Couse she don't have what's ours

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A dor do luto

Eu não entendo. Por mais força que faça, não sei o que é que me faz transbordar em lágrimas quando choro por alguém que morreu. Não é que dói como dói o coração partido. Não é saudades. Não é impotência por não ter impedido a morte de alguém. É só choro.
Derramo-me diante de uma foto, a lágrima reflete e brilha na moeda que a criança ganha da velha de touca. O tecido sob a mulher nua esparramada é tão derramado quanto meu pranto. E o pé torto da modelo que veste Chanel posa tal qual meus pensamentos. Que escorre pelo meu rosto por Higienópolis.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Tum!

A porta bateu na cara dela. Mas, tão de leve, que ela poderia jurar que só estava encostada. Como das outras vezes. Ela tentou identificar algum movimento embaixo da porta. Tentou ver se sombras se movimentavam lá dentro. Não viu nada.
Como das outras vezes, poderia sentar ali e esperar até que ele abrisse a porta novamente. Ela, mesmo cansada, mesmo triste, faria cara de que acabara de chegar e olharia sorrindo para ele. Ela achava que não havia nenhuma outra saída, senão esperar que a porta se abrisse novamente. Mas, sabe-se lá por que, ela resolveu virar de costas. Com medo. Vá que ele a procurasse pelo olho mágico (de costas, ela não teria como saber)?
Surpresa, viu que tinha uma placa acesa com a palavra Saída escrita em vermelho. Ela precisaria seguir a seta até o fim para descobrir onde iria dar. Seria outra entrada para aquele corpo fechado? Ou seria a entrada de outro corpo? Haveria outro corpo? Ela não sabe. E se a porta corta fogo batesse com o vento e ela nunca mais conseguisse voltar para aquele andar? Voltar para esperar aquela porta se abrir...E se a porta jamais se abrisse novamente?
Ela deu o primeiro passo. Depois o segundo. O terceiro...e parecia tudo mais fácil. Mais leve. Ela foi andando e, quando chegou do lado de fora, viu o céu azul gritando tão alto, que até esqueceu o motivo de tanto tempo esperando. O amor, fechado e perdido num andar cinza, não percebeu ainda. Mas ela não vai voltar mais.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

O menino do Ipiranga

Ele ficou parado lá. Nem feio, nem bonito. Talvez bonitinho, mas com a roupa errada: calça bege de péssimo corte, suéter liso com decote em V e sem graça, uma camiseta de gola careca por baixo e sapato preto. Com uma camisa xadrez, um All Star, uma dose de vodca e tocando baixo, ela pegava. Se fizesse cafuné, ela apaixonava. Então, era bonito. Mas foi o fone pendurado no pescoço que chamou a atenção dela. O que ouviria o menino do Ipiranga? Durante uma hora naquele trânsito da rua Augusta, ela ficou escutando a conversa dele. Devia ter uma vida tranquila aquele menino. Trabalhava, pegava ônibus, chegava em casa, tomava banho e jantava. Devia morar com pai, mãe, irmã, irmão e um cachorro labrador. Fêmea, talvez. Também devia ter uma namorada (ou noiva) nutricionista - alguém que se veste de branco no dia a dia e, por ser levada pela brisa da vida, também iria entrar de branco numa igreja. O menino do Ipiranga, que tem aquele tipo de olho que fica verde quando faz Sol, devia estar feliz com a vitória do Corinthians no campeonato paulista. E pronto. Vivia bem ele, ela concluiu.
Tão distantes esses mundos dos trovões que explodem dentro do peito dela e do outono no Ipiranga, que ela quase não foi embora. Quase ficou ali. Quase acreditou na tranquilidade. Aí, o telefone tocou e ela atendeu feliz. Era a tempestade a que ela está acostumada. E foram tomar café coado nas nuvens e misturado com relâmpagos. Bem distante do Ipiranga.