terça-feira, 31 de março de 2009

Janela

Da minha cadeira do trabalho eu vejo as antenas da Paulista. São coloridas. E me abençoam diariamente.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Cuidado com o que desejas...

Eu uma vez rezei muito para uma garota sumir da minha vida. Fiquei sabendo que ela teve câncer e fez quimioterapia - e ela não só já tinha sumido da minha vida, como da dele também. Fiquei culpada.

Então, na próxima vez que eu desejar o desaparecimento de alguém, é brincadeira, tá?

Luana, libriana com ascendente em câncer

Contos de Fadas para a Criança Sabedoria - VI

Ela não aprendeu a contar até 10 quando criança. A primeira lição foi até 12. Começava com áries e terminava em peixes. Ela também só aprendeu a colorir o céu com a constelação de sagitário em destaque. Sabia todas as características invisíveis ao olho nu. A perfeição de uma, a teimosia, de outra. Se falava muito, era gêmeos. Se era calada, capricórnio. Na escola, era amiga de uma menina de touro. Apaixonada por um garoto de escorpião e inimiga de uma leonina. Quando adolescente, ficava horas fazendo a sinastria de sua paixonite da vez - cada semana era um diferente - quase arrancava com cabelos quando a casa 4 nos mapas eram incompatíveis.

Aos poucos, Luana, libriana com ascendente em câncer, ficou perita em identificar cada signo. Não esperava a pessoa dizer o nome e já desembestava a tecer comentários sobre seus traços de personalidade mais íntimos. Acertava muito. Magoava muito também. E não percebia. Errava ao limitar cada um que vivia ao seu lado a três ou quatro adjetivos. Mas nem ligava. Achava que estava certa e que as respostas estavam todas lá, nos astros. Esqueceu que, em dias de Sol, não eram só os aquarianos que queriam ir tomar sorvete ou sentir o caldo da melancia escorrer pelos braços. Todos iam. E que quando chovia, até a virginiana workaholic queria um cobertor e fazia brigadeiro. Com as desculpas astrológicas, se afastou do que julgava ser imperfeição dos outros.

Luana foi ficando sozinha, sem perceber. Dizia que eram os astros. Uma volta de Saturno, talvez. E, sem notar, foi perdendo a visão. Já não enxergava os sorrisos de quem estava feliz numa segunda-feira ensolarada. Também não via as lágrimas de quem perdia um grande amor. Nem o olhar languido da saudade. Não via casais de mãos dadas pelas ruas, nem o provocar dos quadris de uma mulher na pista de dança. Não via as crianças fantasiadas saindo sujinhas da escolha, nem os corpos malhando na academia. Não via quem ainda olhava para ela e nem quem fugia de seus comentários.

Um dia, Luana, libriana com ascendente em câncer, foi mexer numa madeira no jardim de casa e não viu quando um escorpião, o bicho, não o signo, se armou para dar uma ferroada em sua mão. O veneno se espalhou tão rápido que ela nem conseguiu gritar para seu pai que não acreditava em signos. Voltou os olhos cegos para o firmamento, mas como nada via, morreu sem nem poder olhar pela última vez o brilho das estrelas que ela deu tanto poder.

Obrigada Manhattan

Há quem faça o caminho de Santiago de Compostela ou suba a ladeira com o Ileyaê ou se mude para Trancoso ou estude a Cabala ou, ainda, quem se perca em si mesmo.

Eu fui para Nova York. E tudo está bem há quase nove meses.

Um bom domingo

Ele: Você está parecendo o Eddie Vedder com essa camisa xadrez.
Ela: Vou considerar isso como elogio. Porque é mesmo.

Ele: Eu gosto de comer você.
Ela: Por que?
Ele: Fisicamente ou intelectualmente?
(ela se dá por satisfeita e sorri. São pelos mesmos motivos que ela dá para ele. Há anos)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Antes do amanhecer


Ei, Jesse, tô indo. Me espera porque será verão - e eu agora sou loira, né?


segunda-feira, 16 de março de 2009

Enterro

Ela não dormiu. Viu a chuva cair com cheiro de mar por duas vezes. Viu os pingos em prata molharem o solo. E não dormiu. Os pensamentos chegavam. Teria que encaixotar os livros. Doaria metade. Do guarda-roupa, nada aproveitaria. Aquele vulto de gente não usava peças que a agradavam. Nem ela a agradava. Desde cedo, ela sabia. Não gostava dela. No coração vazio, não sentia remorso. Só alívio. Agora, seria orfã de verdade. Não precisava mentir ou desconversar quando outros amigos falavam de suas famílias e suas festas e suas comidas preferidas. Quanto seria o seguro de vida? Fez uns cálculos rápidos. Não seria muito. Talvez, desse para comprar um notebook novo. Ou uma passagem aérea. Talvez. O fato era que tudo que aquele velho vulto acumulara em vida, ela já tinha conseguido em um terço de existência - e o destino já tinha até tratado de tirar dela para que ela conquistasse tudo de novo. C'est le tourbillon de la vie.
O mais complicado seria providenciar caixão, cova etc. Ela não entendia nada disso. Ia ligar para a tia por volta das 10h. Ou assim que a polícia encontrasse o corpo. Ela estava sem nenhuma peça preta na sacola. E teria que faltar no trabalho na segunda-feira. Ficou de mau humor. Tinha muito que fazer. Mas tudo bem. Não teria mais que emprestar dinheiro a ninguém.
Aos poucos o sol foi clareando o céu. As mãos de tanto apoiar no metal da janela ficaram vermelhas. Ela decidiu ir embora - mesmo que metaforicamente. Fechou os olhos - e a porta - e foi. Agora, aos quase trinta, só carregava um sobrenome por conveniência. Era finalmente livre, sem compromissos ou culpa pela solidão alheia. Porque já não pertencia a nada. Nem aos remorsos familiares.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Diálogos entre alunos do Mackenzie

Quando a gente fica mais velha, dispensa algumas explicações sobre o óbvio. Exemplo:
Ontem, atravessando a rua Maria Antonia, um menino de uns 20 e poucos estava falando, falando, falando...E, ao lado, uma menina, nitidamente uma bixete, ria. Era assim:

ele: bláblábláblá
ela: ãnrhã, ãnrhã, ãnrhê
ele: bláblábláblá
ela: ãnrhã, ãnrhã, ãnrhê
ele: bláblábláblá
ela: ãnrhã, ãnrhã, ãnrhê

Bom, no terceiro "ãnrhã, ãnrhã, ãnrhê" que ouvi dela, só queria fazer uma coisa: parar o casalzinho e avisar ao futuro publicitário (ele deixou isso bem claro nos 15 segundos de monólogo que ouvi) que, sim, ela quer dar para ele. Tão simples, pra quê tanta conversa? Vai lá e para de falar!!!!!!!

terça-feira, 10 de março de 2009

hum...preciso falar para alguém alguma coisa...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

Ai, cansei. Só isso.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Carta para a menina Sofia

Queridinha da titia, vamos fazer 10 anos logo? Assim, posso te ligar às 23h15 para conversar sobre o jogo do time que a gente nem torce, mas que foi a estreia do Ronaldo e - melhor - até aquele Denilson da amiga da mamãe e da titia para a qual xiuuuu é uma palavra estava jogando. Só faltou a dona Aurora.

É, Sofia, titia quer saber por que aquele Douglas não passou a bola para o gorducho. E falar sobre todos os passes, todos os lances, todas as gorduras localizadas do Ronaldo e todos os comentários do Kléber Machado. Ah, e titia ficou bem emocionada e até com inveja por não torcer para aquele time cafona, mas tudo bem (titia comemorou os gols, mas não conta para ninguém). A vida é assim. A gente tem o Rogério Ceni.

Então, quando você tiver 10 anos e unhas cor-de-rosa, a gente vai trocar sms na hora do jogo. E se o lance for muito bom, eu vou te ligar, tá? Ah, e fala para a sua mãe pedir para o Robinho voltar pro Brasil. Aquela vida não está fazendo bem a ele. Pedala!

Bjos,
titia de quase 30