quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Retrospectiva

-Vi a Madonna
-Passei calor em NY
-Beijei nua numa sacada ao som do mar e a luz do céu profundo de Copacabana
-Ganhei uma máquina fotográfica de 8.2 megapixels
-Roubaram minha máquina fotográfica de 8.2 megapixels
-Fiz amor
-Fiquei três horas e meia na fila - e na chuva - para ver uma bandinha nova que nem vou lembrar no ano que vem
-Tive dois verões
-Entrevistei o Alexandre Herchcovitch
-Meu nome foi citado no palco do Teatro Municipal (errado, mas foi)
-Fui dançar no palco com os atores de Hair
-Mudei de emprego
-E mudei de emprego
-Coloquei uma fechadura tetra na minha porta
-Fui fotografada pelo Cobrasnake
-Fiquei em oitavo lugar num concurso mundial de blogs de streetstyle
-Fui entrevistada por uma repórter da Ilustrada
-Sai do blog de streetstyle que ajudei a criar
-Trabalhei duro
-Trabalhei pouco
-Viajei
-Morri de medo da turbulência e da serração
-Vi a Filarmônica de NY num Central Park lotado e quente
-Ouvi uma banda de jazz num bar lotado e quente
-Minha amiga casou no meio do SPFW
-Desejei - e peguei - o homem da próxima
-A criança sabedoria nasceu
-Dei banana amassada para a criança sabedoria comer e cuspir
-Meu time é hexacampeão brasileiro
-Pintei as unhas de rosa shocking
-Deixei o cabelo crescer
-Comi mais linhaça
-Tive menos cólica
-Fiz pilates
-Tentei não precisar dele para viver
-E desisti de tentar esquecê-lo (e isso não é uma música do Roberto Carlos)
-Tomei uns 756 cafés (não, não contei. É um número estimado)
-Deletei meu perfil no orkut
-Doei roupas que não vou usar mais
-Comprei uma mesa "de jantar" e dois bancos
-E um curvex e dois hidratantes Victoria´s Secret e um Nike Dunk de oncinha
-Pintei de laranja minha área de seviço
-Fui no show do Interpol com meu irmão
-Usei um vestido da Ju Jabour
-Escrevi textos que me orgulhei - e outros nem tanto
-Fui proibida de escrever para a Vogue
-Escrevi para a Vogue
-Pisei na areia fria
-Uma menina de dois anos e meio pulou e gritou toda a esperança do mundo na minha cama
-Não engordei
-Fiz uma aula de ioga
-Comi pizza e cupcakes da Magnolia Bakery no alto de um prédio em Greenwich Village num entardecer de verão
-Mary Poppins cantou sobre minha cabeça

Superkalifragilistiexpiralidouxous!....feliz 2009!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Flora e James

Ela atravessou a rua correndo e entrou descabelada no bar. Chovia lá fora e sua jaqueta de couro estava molhada. Bastou dar um olhar pelo ambiente esfumaçado para identificar a nuca dele. A labareda tatuada fugia pela gola da camisa. E só ele inclinava a cabeça daquele jeito quando estava sozinho na mesa. Ela reconheceria de longe.
-Oi James, tá aqui faz tempo? Desculpe, o fechamento me prendeu na revista.
Ele apenas negou com a cabeça, não disse nada. Ela sentou e pediu um chopp.
Flora e James se conheciam há tempos. Tanto que não precisavam dizer metade das palavras previstas num diálogo normal. Mas ela falava. Muito. E, quando calava, ainda tinha a fama de ser tagarela. Fazer o quê?
Ela era editora de uma revista feminina, dessas que ninguém leva a sério. Mas Flora levava. Ele era videomaker - pelo menos era nesse dia. James mudava muito de idéia. E de mulher. Afê. Como gostava de mulher esse James!
No primeiro copo, amenidades. O tempo, a gripe da filha de James, os prazos de fechamento, os problemas com os jornalistazinhos que as faculdades formam sem preparo, os publicitários que liberam pouca verba - mas têm muito dinheiro, os textos da Carta Capital. Os mesmos assuntos de sempre - desde o século passado. Segundo copo: entra pela porta um affair de Flora. Caso curto, sem muita importância, mas ela faz um comentário irritado sobre a falta de compromisso dele. James filosofa:
-Qualquer pessoa com o mínimo de inteligência sabe que esses namoricos de adolescência não duram muito e sempre, ou na maioria das vezes, acabam com briga. Acabam mal.
-E?
-E, quando acabam, a gente não tem mais contato. Eu mesmo falo com poucas ex-namoradas. Quando a gente gosta mesmo, não quer passar por isso. Então, não precisa estragar um relacionamento legal com um namoro de merda.
-Ah, sei. James, isso não faz sentido.
-Faz sim. Para mim, isso é muito claro. Tem gente que fica para sempre. Você sabe.
Ele aponta para ela com cara de "não é óbvio para você?". Não, para ela não é (nouvelle vague é para meninos e ela, que era menina, só via Almodóvar). Mas a conversa continuou.
James parou de fumar desde que a filha nasceu. E Flora começou desde que virou chefe. Mas só gostava de Gitanes porque eram os mesmos de Camus. E, como a produção foi interrompida em 2005, ela nunca fumou. Eles beberam mais um pouco e foram embora por uma São Paulo fria, mesmo em dezembro. Cada um para sua casa, com a certeza de se verem no dia seguinte. Sem se preocupar se vão se telefonar, sem ter dúvidas de que querem se ver de novo. Eles querem.
Depois de destrancar as cinco fechaduras de casa, ela tirou as botas apertadas e sentou no sofá. Flora sorriu perdida nos pensamentos. No primeiro dia em que se viram, ela estava de jeans, regata e tênis. Ele, de camiseta branca e jeans. E corria num carro prateado. James, Dean, para ela. Eram tão diferentes da dupla que estava sentada num bar escuro nos Jardins! E eram os mesmos. Ela se apaixonou. Ele, se estiver certo nesse raciocínio bizarro, também, mas não sabe. De lá para cá, foram tantos lençóis entre eles - e com eles - tantas músicas, tantos verões e invernos que seria possível escrever um filme, desses com o Ricardo Darín - aliás, Flora achava que O mesmo amor, a mesma chuva, era para ela. Who knows... Ela às vezes sofria. Mas passava. Eles se desencontravam. E se encontravam. Contavam as novidades. E ficavam bem. Um com o outro. Seduziam-se, por hábito. Sem mãos dadas. Sem promessas tolas. Sem perder tempo.
Flora e James não eram um casal. E ela sabia. E calava tranquila. "Ah, esse James!".

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O que um tal Mick Jagger me ensinou


Já dancei muitas vezes as músicas da Madonna como se não houvesse amanhã - ou alguém do lado para me achar maluca. Mas é a primeira vez que a própria estava cantando - ou fazendo playback - a poucos metros de distância. Viva o verão!


quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Dos olhos verdes que são castanhos

Daqueles olhos que dizem que são verdes, mas são tão escuros quanto os meus, não ganhei a companhia. Nem o apoio nas crises. Mas recebi deles, mesmo tão ausentes naquela vila com quarenta minutos de distância aos domingos, o que vai ficar de 2008: viaje. Não há nada que se roube de uma mente que ultrapassa as fronteiras e carimba o passaporte. O resto é brinde da vida.

Virgem, 18.12

Você está mais sensível hoje, preocupações assomam, mal estares se tornam agudos, seu limite parece menor e o peso da idade se faz sentir. Contraponha autoconfiança e fé a esse astral ruim. Você tem condições de superar um desafio se souber se organizar e driblar a falta de tempo.

Danos

"Cada crime, além dos danos quantificáveis que produz, também destrói aos poucos a confiança que permite que haja comunidade. O assalto na esquina nos rouba a todos a confiança necessária para passear na rua numa noite de verão ou para manter os vidros do carro abertos e conversar com a criança que vende chicletes no farol."

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro 2008.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Gaveteiro


Tiraram de mim uma gaveta. Nela, viviam adormecidas uma lembrança dos 15, outra dos 18. Um cheiro. Um carinho. Minha memória.

A chave chamada segurança se perdeu no alto do 11° andar. E, agora, eu só queria voltar para o ovo. Quente, tranquilo e seguro.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Epifania

Daqui 10 anos, quando eu lembrar desse dia amargo, o que virá a minha mente será tão doce como a menina que pula e grita e pula e grita e pula e grita na minha cama como se fosse domingo. E isso é bom.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Táxi, 23h47

Rua Frei Caneca: três pessoas entram num táxi depois de 13 horas e muitos minutos de trabalho. O taxista quase passa reto pela primeira rua que deveria entrar. Reclama ofendido com o homem que está sentado no banco da frente. São três pessoas no total. Uma menina e dois meninos.
A viagem continua. Itambé, esquina com Piauí. Ela diz: "Agora o senhor desce a rua Dona Veridiana, ok? Quando chegar na esquina com a General Jardim, o senhor pode parar um pouquinho, por favor?". Era o destino dos dois rapazes. Ela seguiria por mais dois quarteirões.
Frente do Pão de Açúcar, onde a avenida Higienópolis e a Maria Antônia se misturam. Ele tem duas saídas: fazer o que a menina disse e errar a rua. Ele erra a rua. Ela reclama. Ele diz que é para todo mundo descer, que não vai mais levar ninguém. Porque os três estão nervosos (!!!). Ele aumenta o tom de voz. Eles não. Ela só diz que então não vai pagar. Todos saem do carro. Ele continua reclamando. As portas fecham. Ele continua reclamando. A última frase comprensível do verme: "Vira homem, viado!". O filho da puta vai embora. Os três dão risada.

Vermes....Vermes não deviam falar. Vermes não deviam existir. Ou talvez devessem. Só para a gente não esquecer o quão idiota um ser humano pode ser. Só para a gente não esquecer o quão imbecil é se preocupar com o que o outro faz da vida. Só para a gente não esquecer que falta muito, muito mesmo, para o mundo ser um lugar decente. Para não esquecer que não adianta a minha mãe ter amigos gays e negros e isso sempre ter sido a coisa mais normal do mundo - por que não seria? Não adianta declaração dos direitos humanos, nem lei, nem um monte de gente pelada no Hair. O mundo é cheio de merda. De gente de merda! Assassinos, estampacadores, covardes, preconceituosos. Quando olho para a estrelinha que brilha em cima da minha janela, desejo do fundo do meu coração que vocês todos sejam currados com tanta força, mas com tanta força, que vocês vão é gostar. E vão pedir para serem fodidos o tempo inteiro. Vão sonhar com isso, vão babar no travesseiro enlouquecidos pela solidão de um cú que não é comido. Mas não haverá nenhuma trava para comer vocês. Elas estarão lindas cuidando dos peitos de silicone. Nenhum viado vai querer vocês - eles são homens e vocês, vermes. É incompatível. Vocês, covardes, ficarão urrando pela eternidade. Bando de filho da puta. Virem homens vocês! E vão se fuder.

Pronto. Falei.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A menina de vidro não quer mais brincar

Contos de Fadas para a Criança Sabedoria - V

A menina de vidro só se apaixonou uma vez. Ela tinha 19 anos. Não sabia muito da vida, a menina. Mas reconheceu o amor mais puro do mundo no menino azul. Apaixonada, a menina voou. Sorriu pelas bancas de frutas coloridas e perfumadas a beira da praia. Transparente - ou invisível? - (per)seguiu o menino azul pelas galáxias.
A menina de vidro tentou guardar o menino azul dentro dela. Mas ele era feito de ar e escapava. Ela insistia. Ele corria. Às vezes, ele vinha em brisa e se enrolava nos cabelos da menina. Ela tilintava. E subia aos céus. Mas a tormenta sempre chegava e lá se ia o menino azul. E a menina de vidro caía lá de cima das nuvens. Sozinha. Quebrava no chão amarelo. Seus cacos se espalhavam pelas ruas. Os prédios, refletidos no vidro no corpo da menina, entortavam. E a enxurrada levava a menina para longe do menino. Azul. Aos poucos, ela se colava. Ia juntando cada pedacinho e colando com esperança. De um dia tudo passar, de um dia ele entender, de um dia ser amada também.
Mas não passou. A menina de vidro percebeu que não adiantava. Que o menino azul era mais de fumaça do que de ar. E que ela já tinha gastado todo seu estoque de cola para juntar os pequenos cacos. Ela não podia mais arriscar. Nada de procurar meninos de prata, meninos de barro, meninos de pena. Ela não podia mais arriscar. Mais um tombo, um tropeço, e tudo iria virar pó. A menina de vidro tentou por 10 anos que o menino azul gostasse dela. E não conseguiu. Então, a menina decidiu ser garrafa para ser lançada ao mar. Ou ser lâmpada para apagar. Ela só não queria mais brincar com o menino azul.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Ed Vedder, please, save me!

Once divided...nothing left to subtract...
Some words when spoken...can't be taken back...
Walks on his own...with thoughts he can't help thinking...
Futures above...but in the past hes slow and sinking...
Caught a bolt a lightnin...cursed the day he let it go...
Nothingman...
Isn't it something?
Nothingman...
She once believed...in every story he had to tell...
One day she stiffened...took the other side...
Empty stares...from each corner of a shared prison cell...
One just escapes...ones left inside the well...
And he who forgets...will be destined to remember...oh...oh...oh...
Nothingman...
Isn't it something?
Nothingman...
Oh, she don't want him...
Oh, she wont feed him...after hes flown away...
Oh, into the sun...ah, into the sun...
Burn...burn...
Nothingman...
Isn't it something?
Nothingman...Nothingman...
Coulda been something...
Nothingman...Oh...ohh...ohh...