terça-feira, 30 de outubro de 2007

O sentido e as razões

Deve fazer sentido. Ele do outro lado da rua no cruzamento da avenida Paulista com a rua Augusta bem na minha frente. Por acaso. Por alguma razão, meu corpo tremeu. Um pouco só. Não gostei da roupa , sem sentido - como faço falta na vida dele! Mas deve também ter alguma razão para ele me chamar para assistir a um filme com o Ethan Hawke e o diabo no nome. Faz sentido? E por outra razão - desconhecida e divina - a sessão já estava esgotada e só ele tinha ingresso. E fez muito sentido eu ir embora sozinha. E, por razões que bem conheço, tomei um banho frio antes de correr para a aula de alongamento. Afinal, estava cheia de razões para estar atrasada.

Das coisas que anunciam o apocalipse - VIII

O Brasil sediar a Copa de 2014. Hello? Vamos investir um dinheirinho na educação, segurança pública, urbanizar favelas, combater o tráfico, melhorar o transporte público etc etc etc?
Ah, desculpe, não vai dar. Precisamos usar alguns milhões para reformar os estádios de futebol! É de fuder - se não for o apocalipse em si.
Como diria capitão Nascimento: põe na conta do Papa!

Kurosawa

Sonhei que estava beijando você. Aliás, que você me beijava aquele beijo leve, fresco, perdido entre sorrisos e com sabor de Trident verde. Estávamos dentro de um carro com outras duas pessoas improváveis - típicas de sonho - e vínhamos de lugar nenhum para qualquer lugar.
Uma das pessoas me perguntou depois do beijo:
- O que você fez? (porque o beijo não era esperado nem por mim, nem por elas)
E a outra falou enquanto eu corava sem saber o que responder:
- Fez amor!
Acordei feliz até. Era um beijo suave como as férias de verão.

Palíndromo

Vou falar da solidão de um homem de 73 anos. Homem que deu a volta ao mundo, casou com uma Miss Universo, beijou a mão de mademoiselle Chanel, foi recebido por reis, rainhas, presidentes e por todo mundo que interessa. Um homem essencialmente sozinho. Doente. Com a doença da solitude. Mas tenho medo mesmo é da minha solidão.

Nem tudo é mal no Alzheimer. A doença congela o passado dourado e apaga as mágoas do presente. O Alzheimer estaciona o ser onde ele foi mais feliz. Viver em lembranças e não registrar o presente é um privilégio nesses tempos de crise. Pois crises passadas – e superadas pelo tempo – são sempre mais poéticas, sempre mais leves. Nem tudo é mal no Alzheimer.

Ainda depois de um festival de música

Por que será que sempre que estou em um show me sinto como Holden Caulfield abrindo os braços para segurar as crianças que vão cair no abismo?

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

About me

Ano passado escrevi que eu era o palco do Daft Punk. Hoje, sou as cores da Björk. Cores de uma mulher que viu poucas vezes o sol durante a infância.

Depois de um festival de música

Cansei de jornalistas, designers e fotógrafos. Agora só quero rock stars.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Incômodo

pedrinha na sapatilha vermelha com laço de fita, um quadro que não fui eu que pintei, um adeus que não dei, crianças gritando pelo corredor, e-mails com segredos que bisbilhotei, meu vizinho cantando aos domingos às 11h, esperar por alguém, me atrasar todos os dias, o telefone não tocar, o telefone tocar antes do meio-dia, plástico que embala CD, pedir para usarem camisinha, ouvir meu nome errado, um grito que não dei, lavar louça no frio, ônibus cheio, ponto de ônibus, cheiro de ônibus, ônibus, cutícula machucada, a etiqueta da camiseta raspando o pescoço, entrar no banheiro depois de alguém ter feito coco, minha melhor amiga grávida, um homem pelo qual não rastejei, meia molhada por causa da chuva, barulhinhos, alguém me cutucando, Cheddar McMelt com pouco queijo, a distância, o tempo que não volta, o tempo que não passa, minha tristeza crônica, não ser sua...

Do site da Mostra:

HALFAOUINE (ASFOUR STAH), de Férid Boughédir (95'). Falado em árabe. Legendas em francês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: livre.

Não falei?

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Por um batom vermelho

A música fez o chão vibrar. Os corpos sacudiram em transe. Perfumes caros e baratos se misturaram com o cheiro de Marlboro e maconha fumada lá longe, em um cantinho. Os olhos arderam. O rímel quase borrou. E por aqueles minutos não senti falta de nada.

Procura-se Minnie desesperadamente


Ela nasceu na China, mas muito pequena foi para a Flórida. Estava tudo muito bom, até que uma rainha de terras tropicais decidiu adotá-la enquanto passava férias por lá. Era uma Angelina Jolie dos anos 90. Mas loirinha e sem tatuagens. Minnie não foi sozinha. Mickey a acompanhou.
Na casa dos trópicos, ela se instalou numa linda cama de colcha cor de rosa e a promessa era que ela ficasse deitada eternamente em berço esplêndido. A fauna daquele país reunia ursos, macacos, gatos, vacas e hipopótamos. Todos peludinhos. E na calada da noite, ganhavam vida para dançar pelas ruas e avenidas dos sonhos da rainha.
Durante muitos anos, Minnie foi o destaque da bateria. Reinava absoluta e era respeitada pelos outros. A rainha daquelas terras dava a ela prestígio de estrela - e a vantagem de nunca precisar beber suas lágrimas. Essa era a tarefa da gata branca e da hipopótama.
O tempo passou e a rainha começou a explorar outros reinos. Dividia cada vez menos seu tempo com seus súditos. Só nos fins de semana. E Minnie já tinha perdido as contas de quantas vezes dormira no chão enquanto a rainha exalava aquele cheiro de vodca e Coca-Cola pelos poros.
A companhia era a cada dia mais rara e, sem saber ao certo quando, Minnie foi parar dentro de um saco plástico azul. O saco, por sua vez, foi parar no armário do palácio dos antepassados da rainha. A família das árvores. E lá ficou.
Ou não. Anos e anos se passaram até o dia em que a rainha, já cansada de guerra e desapegada desse universo de pelúcia, tirou o saco plástico azul do armário. Para sua surpresa, Mickey estava lá. A hipopótama estava lá. Os macacos também. Mas Minnie, não. Ao que tudo indica, Minnie foi conquistar o mundo com suas próprias pernas ao lado da vaca que é fã da Parmalat – também desaparecida. A rainha nem se importa, mas o Mickey, coitado, sofre muito com a perda da companheira de longa data.
Então, caso alguém encontre com ela por aí, diga que ele sofre muito e a aceita de volta, mesmo que ela tenha piercings e tatuagens por todo o corpo. Mesmo que já tenha comido galinha viva e dormido com mulheres da vida. Mesmo que tenha bebido sangue de urubu ou jogado tranca com o Pato Donald. Ele a aceita até se ela tiver virado adulta.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Faithfull

Soube que era você no meio da multidão por causa das listras Adidas. E pelo ritmo de seus passos. Havia ainda um fone de ouvido que não vi. Mas sei que estava lá. E você me disse que havia também um tênis amarelo. Eu gostava do vermelho. O telefone tocou meia-noite e pouco como em outras épocas. Hoje é 23 de outubro. Hoje é nosso dia. Uma data que nunca aproveitamos, só prometemos. Como também nunca vimos Baisers Volés, do Truffaut. Ou Beijos Proibidos, como nosso jogo de siglas sempre preferiu. Eu assisti. Você também. Mas nunca juntos. E você de férias até o dia 02 para a Mostra. De novo. Como há seis anos. A conversa ao telefone converge para um assunto muito denso para o horário e você pergunta como estou vestida. Minto um pouco. Para provocar, como sempre. Impossível não pensar em você em dias de cinemas falados em árabe e legendados em francês. Impossível não lembrar de você enquanto chove e o céu está cinza. Reminiscências. Mas não há amargo na saliva da lembrança. Talvez um gosto de chá de maçã de um café escondido na Aclimação. Não há nem tristeza mais. De certa forma, orgulho. Não perdemos nossas almas. Fomos fiéis. Se não um ao outro - porque nunca fomos - a nós mesmos. Fiéis a nossa insônia e solidão. Faithfull. Como a música que um dia você ouviu e me ligou para dizer que havia se lembrado de mim. Quando já não éramos mais nada. Conheci São Paulo por seu caminhar. Da Paulista ao Arouche. Dos beijos escondidos no Trianon à indiscrição do toque no meio do trânsito. Segui você que me seguiu também. Decifrou meu corpo como eu as ruas. Não me perco mais. Meu corpo, talvez. Não quero nada de novo. Não preciso retornar nesse eterno retorno que é minha vida. Mas, nesses dias de chuva e Mostra e outubro e trânsito, sinto um pouco de falta de você que me beijava de olhos abertos e, quando os fechava, me virava do avesso.

Eu gosto de dias nublados

I'm only happy when it rains
I'm only happy when its complicated
And though I know you can't appreciate it
I'm only happy when it rains

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Das coisas que anunciam o apocalipse - VII

O Kelly Slater ficar pegando as sobras do Leonardo Di Caprio. Gente! Ele não precisa disso!! É o fim do mundo!

Abeille de Marie Antoniette

Une petite abeille est arrivée chez moi sans demandez rien. Elle est retrouvé le miel. Le miel, comme l´amour, était cristalisé chez moi. Donc, elle est seule. Et elle est morte.

Fin.

Domingo

39°C. Dormi o caminho todo. O céu estava azul como na minha adolescência. As pessoas andavam de shorts com o biquíni por baixo. Sem vergonha das suas vergonhas. Gorduras e corpos caídos expostos sem problema. Pele de anos de sol. Bicicletas. Cheiro de mar. Cheiro de casa. Macarronada e sorvete. Muita falação. Muita vantagem. Muita bobagem. Picolé mais tarde. Meu avô ótimo. Uma queda, uma manha. Tenho medo de quedas. Só as crianças deveriam cair porque se levantam mais rápido. E é assim que deve ser. Uma bailarina de corda e roupa amarela que saiu do esquecimento do armário para borboletear nos sonhos de outra menininha. Melhor assim. Café. Conversa na cozinha. Estrada carregada na volta e uma chuva que me recebeu no alto da serra como comitê de boas-vindas.

“Posso nunca ser feliz, mas hoje estou contente.” A frase é da Sylvia Plath, mas hoje poderia ser minha.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Zzzzz...



Sleeping by Day - Ray Caeser

Pecado original

Comi cuidadosamente aquela maçã do amor que chegou a minha porta numa noite quente de dezembro. Tirei o papel celofane sem deixar o açúcar caramelado grudar. Sentei aos pés da cama e cruzei as pernas em pose de índio, como minha professora da primeira série chamava. Tinha um resto de sol que entrava pela janela e fazia um desenho bonito na parede. Mordi. Primeiro doce, depois fresco e, ainda doce, mas um pouco mais suave. Igual ao amor novo. Não lambuzei muito as mãos. Só a ponta do dedo indicador esquerdo. Para apoiar enquanto girava a maçã para mais uma mordida. A mão direita segurava no palito de sorvete, agora, de maçã. Comi tudinho esperando entrar num sono tranqüilo e só acordar com um beijo dele. Ele foi para uma ilha ao sul ver o ano novo nascer e nunca mais voltou. Eu adormeci. E sem ninguém para me acordar, meio que morri.

Dans le marché

Ele estava no caixa do supermercado. All Star branco, jeans e camiseta. Como da última vez que o vi. Eu acho, não lembro se olhei para os pés...também não lembro se foi assim, tão informal. Mas com aqueles olhos de um azul malicioso inconfundível, quem olharia? E não faz diferença agora. No lugar do copo de vodka, as mãos seguravam caixas de leite integral Parmalat e o lança-perfume foi substituído por amaciantes. Daqueles que deixam a roupa cheirosa depois de lavadas. Ele não estava só. Nem magra, nem gorda, nem bonita, nem feia. Normal. Talvez ela nem tenha idéia de quem tem nas mãos e no coração. Ainda bem. Por dois segundo e meio, sorri. E fiquei feliz de vê-lo adulto. Conseqüentemente, eu, também adulta. Mas quando pisei na rua e senti a garoa fria percebi que envelhecemos. E só eu fiquei sozinha.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Amizades

- quem é seu melhor amigo?
- ?
- já expliquei
o meu é o vibrador
- ah
sei lá...
tenho mãos
- bom
- mas acho que tem sido o notebook
ele "me escuta"
- sei
...

Strike a pose

Sinto falta de lá. Muito. Às vezes mais. Hoje é um dia mais. Lá, elas se vestem melhor. Com spencer Chanel e camélia mesmo no calor. Lá, tem as clackers, clackers. E elas, sob efeito de seus remédios para emagrecer, são fofas até. Lá, nunca há folga, nem descanso. Mas toma-se champagne. Lá, as olheiras são mais profundas e os produtos para saná-las são Lancôme. Lá, o diabo é bem vestido. Sinto falta. Apesar de tudo.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Realismo fantástico

Três noites de sono perturbado. No sábado, a pior insônia do ano. Estou como as personagens de Gabriel Garcia Márquez. Uma mistura de Cem Anos de Solidão com O Amor nos Tempos do Cólera. Ninfa profana e pedra. E eu só queria dormir um pouco mais. Dormir numa gaiola dourada pendurada bem alto lá na varanda da casa dos Buendía. Acho que preciso de travesseiros de lavanda.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Num país muito muito distante

Ei, você que está aí na Índia. É, você mesmo do National Law Institute University. Por que lê este blog? Deixe um recado...

Jogo do bicho

Eu estava na rua quando o bicheiro gritou:
- Vai de borboleta? Vai que dá...

Não fui. A borboleta sou eu.

Elite

Tropa de Elite
Osso duro de roer
Pega um
Pega geral
Também vai pegar você!

Obs: estou pensando em cantar esta musiquinha na frente do pit na próxima SPFW.

domingo, 14 de outubro de 2007

Horário de verão

O relógio adiantou e o ponteiro correu para alcançar. O vento mudou o tempo. Mas minhas janelas continuam abertas. Vejo a cidade molhada. Escuto o barulho da água caindo. Respiro. Vou dormir ouvindo a chuva. E trabalhar de galocha amanhã. As nuvens se desmancham e os dois textos que precisava escrever fluíram como enxurrada pela tela em branco. Ctrl C + Ctrl V, send. Pronto. Tudo correndo bem. A chuva molhando o solo. Sementes brotando. Vontade de ter uma horta aqui mesmo no décimo primeiro andar.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Enquanto cozinhava, escutei...

"...nos seus olhos tristes
Guarda tanto amor
O amor que já não existe
Eu bem que avisei, vai acabar
E de tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei para agradar
Agora não sei como explicar
Lá fora, amor
Uma rosa morreu
Uma festa acabou, nosso barco partiu
Eu bem que mostrei, a ela
O tempo passou na janela..."

Minha mentira

Foi tão fácil. Enganei direitinho. Quem acreditaria na minha ladainha? Ela acreditou. E eu sorri por dentro. Livre.

Segue o seco

Parece O Quinze, da Rachel de Queiroz. Não chove há tempos por essas terras. O solo está seco. O ar irrespirável. A vista embaçada. A tinta da parede trincada. Tudo misturado no ar. O vácuo preenchido por resíduos. Horizonte borrado, turvo. Dentro de mim, o Negev. Beleza seca. Nascer do sol dourado e vazio. Pele áspera. Tempo que passa. Pessoas que morrem. Pés e cotovelos sofrendo. Hidratantes e garrafas d’água se esvaziando. Cabelo seco. Bacias de água pelo chão. Nada flui. Seco, como o sangue de um corte de outros tempos. Aridez sem formas de Niemeyer. Garganta em silêncio. Seca. Nunca estive tão sozinha.

Higienópolis

Aqui muita gente tem cachorro. E eles saem para passear quase todo dia. De roupinhas, sapatinhos ou apenas uma boa coleira. As donas costumam grasnar "ele (a) só gosta de ração importada, se não for boa, nem chega perto". Se não é assim que dizem, é parecido. Semana passada, vi um porco. Não era o Pitt, que mora nos Jardins, não. Esse é outro. Não sei o nome. Menor e mais rosa. De chapéu e coleira. Perto de casa tem um shopping. De rico, imagina-se. E tem um mendigo que fica na Veiga Filho. Ele também tem um cachorro, como é regra no bairro. Mas esse vive melhor, come da mesma comida do dono. E dorme ao seu lado todos os dias.
Também tem freiras que cultivam rosas num colégio e minha rua já abrigou o must do underground nos anos 90. Rabinos rezam em sinagogas trancadas e monitoradas. É um bairro de celebridades. Muitos moram por aqui, mas nunca vi ninguém. Aqui venta. E minha janela avisa sempre que o vento muda de lado e traz com ele uma frente fria. Hoje tinha um motoboy estirado na avenida Angélica e algumas pessoas olhavam, outras pareciam esperar o socorro médico. Aquela luta pela vida – e não estou falando da luta contra a morte, mas sim daquela, do garoto que subiu numa moto no feriado porque, provavelmente, ganha por hora e, provavelmente, tem contas a pagar – fez minha garganta travar. Luta danada esta.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Enquanto isso no Rio...

Cow Parade!




Cow me Now e Top múúúodel.
Adoro!!!

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Pensamento do dia

"Quem fica muito no ataque e não faz gol, leva."

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Texto feito com lágrimas

Era uma vez uma menina que morava com a mãe num sobrado de tijolinhos no meio de uma floresta encantada. Ela se chamava Patrícia. Lá perto, tinha um grande lago que separava as duas do Mago. Ele vivia numa casinha feita de doces como nas fábulas das princesas que a mãe de Patrícia contava para ela. Eles eram amigos e sempre que possível se visitavam. Sempre que possível porque Patrícia precisava de um pensamento feliz para atravessar o lago, já que ponte não havia por lá.
Ela se esforçava. Pensava em taças de sorvete colegial de uma lanchonete do interior...e pronto, uma ponte toda dourada de luz se formava a sua frente. Às vezes, pensava no avô e era uma ponte de madeira que aparecia para ela ir lépida e fagueira até a casa do Mago. Lá, tomava chá, comia biscoitos e bolinhos de chuva. Ele emprestava bons livros e falava dos lugares do mundo que Patrícia precisava conhecer. Um dia Patrícia pensou em uma borboleta. E uma bem grande e com asas coloridas de todas as cores do universo apareceu para levá-la nas costas até a outra margem do lago.
Desse pensamento, Patrícia nunca esqueceu e até hoje vive a procurar sua borboleta como seus pulmões buscam o ar para respirar.

Meninas que escrevem

São muito chatas as blogueiras - eu inclusive. Todas abandonadas. Traídas. Tristes. Todas donas do nariz, mas com o coração entregue a outros. Todas perdidas nas distâncias, angustiadas pelas lembranças. Todas querendo o que não têm, mas não enxergam o que grita ao seu lado.
Tatuadas, amargas e chatas. Simplesmente chatas. Todas mascarando o que sentem, mas escrevem para que "ele", seja quem ele for, leia suas entranhas. Todas sentindo como se fossem Clarices e Sylvias. Triste. Que falta faz uma cerveja e futebol com os amigos. Tão simples existir assim.

Juventude

Duas meninas. Uma careca de meia-calça tigrada em rosa e marrom, casaco de pelúcia e um piercing. A outra, cabelos curtos, shorts balonê e casaco 7/8. As duas de All Star. As duas com menos de 18 anos. Não consegui entender bem o diálogo. Elas falavam baixo, mas a conversa era séria. A de meia-calça parecia ser mais velha e tinha colada na bolsa uma etiqueta do aeroporto de Guarulhos. A mais nova, chorava comedidamente. As palavras se misturavam. "Gosto", "você precisa me falar", "vou embora". Podiam ser namoradas, podiam ser irmãs. Fiquei com vontade de falar "calma, vocês são muito novas, as coisas vão melhorar". Mas sei que não vão. Com o tempo, mudam-se os dramas. Mas as tristezas permanecem. A vantagem é que o tempo apaga as mágoas que parecem eternas. O tempo caleja a alma e, assim, fica mais fácil sofrer.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Coisas que (me) engordam

Copo tall de caramel machiatto no Starbucks
Um mês sem colocar os pés na academia
Capuccino da Ofner
Os três táxis que pego durante a semana
Häagen-Dazs de doce de leite
Copo tall de caramel machiatto no Starbucks
Bob´s
McDonald´s (n°1, claro!)
Lanchonete da Cidade
Chantily que comprei para colocar no café feito em casa
Copo tall de caramel machiatto no Starbucks
Horas sentada escrevendo estes textos desconexos
Panini de Polenguinho
Macarrão
Pizza
Copo tall de caramel machiatto no Starbucks

Alguém disse que a vida é fácil?

domingo, 7 de outubro de 2007

Futebol, segundo uma são-paulina

Homens gostam de futebol porque futebol é igual aos homens. E os homens gostam de si mesmos (e eu gosto de futebol e de homens, que isso fique bem claro).

Bom, pela lógica (feminina – ou só minha...), em time que está ganhando, não se mexe. E time que é líder do campeonato, com um bom histórico de vitórias, jogos bem armados, gol fora e dentro de casa – em amistosos ou momentos difíceis de marcação homem a homem – campeão da Libertadores, donos de passes tão memoráveis que até os fotógrafos agradecem etc etc etc, não deveria ser nocauteado (perdão pelo uso de um expressão de outro esporte) por um time que está prestes a ser rebaixado. E ainda aos 40 minutos do segundo tempo.

Mas os homens gostam disso. Gostam porque trocam constantemente a mulher-líder-do-campeonato pela mulher-rebaixada. Trocam porque se comovem com a derrota alheia e se sentem úteis em confortá-las. Trocam porque o atacante do time rebaixado chora quando faz gol. E homens adoram as que choram. Trocam porque a torcida é maior para a rebaixada, sempre.

Mas só um aviso aos navegantes – em homenagem ao meu tricolor que perdeu dois jogos seguidos nos últimos dias: o time líder perde o jogo, mas não a guerra. Quem é rei, meu bem, nunca perde a majestade.

Um mês

Estou com 28 anos há um mês. E o que ganhei? Dois quilos.

Das coisas que anunciam o apocalipse - VI

Iogurtes funcionais - ou a dificuldade de encontrar um iogurte saboroso. Ameixa batida com leite não é bom. Nem a fruta, nem a em calda. Logo, leite azedo (que é o que o iogurte é) batido com ameixa também não vai ser bom! Nunca. Será, no máximo, o que já é: funcional. E nas prateleiras de supermercados não existem mais iogurtes só gostosos. E eu me pergunto: por que preciso pagar pelas dondocas que não conseguem cagar? Só pode ser o fim do mundo.

Suspiro

Sean Penn por Bruce Weber.

Please (pausa!). Fuck me...now?

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Calígula, o imperador

Ao deixar esse frio de outono em plena primavera do lado de fora de casa, senti saudades dele. Daquele que não amei. Aquele que me esperava no metrô de fone no ouvido e me dava um Bis. Aquele que nunca me deu a mão e não me achava romântica.
Senti uma saudade que não era do corpo, nem da distância. Mas do tempo.

Mais cedo em casa

A luz do sol da tarde entra tranqüila pela minha janela. Eu tenho uma xícara enorme de café e chantily e chocolates a vontade e dois textos para escrever.

Podia ser assim todos os dias.

Baco e meus relacionamentos

1) uma noite de outubro perdida no tempo:
- Alô? Oi mocinha!
- A-alô. Oi...Então, te liguei porque estou com um problema muito sério e só vc pode resolver...
- É??? Fala...
- É que comprei uma garrafa de vinho e não posso tomar tudo sozinha, senão vou passar mal. Vc não quer vir aqui me ajudar?

2) uma quinta-feira:
- Vc tem um vinho no seu carro??
- É...

3) depois de assistir a Match Point no domingo de carnaval:
- Gostou?
- Leu Crime e Castigo, baby?
- Li. É. É isso...
- Esse filme me deu uma vontade de tomar um vinho...
- Nesse calor? Sei...

4) No quinto andar, entre a cidade e a serra:
- Acho que seu vinho avinagrou?
- É? Como eu ia saber?
- Não se faz mais intelectuais como antigamente...

5) Entre mulheres, já na segunda garrafa:
- Ih! O saca-rolha quebrou, olha só!
- Dá aqui que eu puxo.
- Ela não vai conseguir, me dá.
(splof!)
- Nossa!! Tá fortona, hein...
....
horas depois:
- Só eu tô bebendo, né?
- Eu tb tô!! (grita do banheiro)

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Esta manhã

No táxi, a caminho do trabalho:

- Vc trabalha muito. Quando casar, seu marido vai reclamar.
- Não vou casar...
- Claro que vai. Logo, logo aparece um cara bonitão e vc vai se encantar.
- Sei. Resta saber se ele também vai "se encantar"...
- Vc é bonita, é carismática. Não tem como não se interessar.
- Sei. Tá rogando praga?

E no jornal, as letras em negrito do Contardo Calligaris diziam:
"Receita do amor que dura: amar o outro não apesar de sua diferença, mas por ele ser diferente."

Acho que amo o Contardo.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Marcas

Estou com uma manchinha no braço. Posso ter esbarrado em algum lugar, batido na porta do armário. Mas me falaram que é melancolia.

Pudor

Ele era levado pela mãe "de cavalinho" e confortavelmente encostava o queixo sobre os cabelos dela. Ela de calça vermelha de boca larga lembrava uma personagem dos anos 70. Estava sol, mas não muito quente. A roupa do menino era bem fininha e, por causa da posição, a calça desceu. Mas pelo jeito ninguém percebeu, nem ele, que vinha de bunda de fora por toda avenida Angélica. Ah, como é bom ser criança.

Astral

"Freqüência da minguante lunar é de equilibrar emoções, cuidando do estômago, que tudo digere no plano físico e também de processar o que você não engoliu emocionalmente - o que dá no mesmo no plano astral. Interiorização e conforto familiar serão essenciais. Amor, só se for incondicional."

Afê!

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Das coisas que anunciam o apocalipse - V

A volta das Spice Girls. E o fato dos ingressos acabarem em 38 segundos. Tenho medo.

Jantar só para mulheres

De uma amiga após sair da sala de cirurgia com as pernas anestesiadas:
- E agora? Como vou fazer para dar uma?

(Obrigada, senhor, por colocar as pessoas certas na minha vida!)

Da mesma amiga, minutos depois:
- Posso te fazer uma pergunta ridícula de mulher apaixonada?
- Pode.
- Se eu oficializei meu namoro no dia 30, como farei para comemorar em fevereiro?
(pausa)
- Em fevereiro é carnaval. Não se comemora esse tipo de coisa.

Bom motivo para ser fashionista

Dior: John Galliano me entende.



Capuccino

Ontem à noite, antes de adormecer, respirei fundo e, sem saber o motivo, achei perdido na garganta um gosto de saudade. Desta vez, veio com sabor de capuccino. Daquele que vinha em uma xícara marrom e era acompanhado das notícias da primeira página da Folha de S.Paulo. Sabor de um tempo em que tudo era apenas uma possibilidade. O frio da serra bateu a minha janela. Olhei com atenção para meu apartamento azul. Sorri. Fechei os olhos e dormi.

Das coisas que anunciam o apocalipse - IV

O fim do msn. Está bloqueado no meu trabalho. Não preciso dizer mais nada. É o fim do mundo.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

De outro lugar sem privacidade

Today's fortune: Stop searching forever, happiness is just next to you.

Eram verdes os olhos de um possível amor

Um dia fui a uma festa com hora para voltar. Não agüentaria tanta erudição e a cerveja era pouca. Mas antes do tédio se instalar em mim, avistei um par de olhos. Verdes. Sentenciei: quero.
Entre rebuliços e duelos, ele foi meu. Um par de olhos verdes para me deixar tranqüila. Um par de olhos verdes que me enforcou, me beijou, me paralisou.
Depois avistei os mesmos olhos entre meus lençóis. Perto da parede laranja com uma maçã do amor nas mãos. Apertados fugindo do sol que nascia. Olhos que se despediram de mim numa manhã de dezembro que começava com meu time ganhando o mundial. Olhos que me cegaram. Para sempre.

Das coisas que anunciam o apocalipse – III

Essa é da minha infância – porque faz tempo que o mundo está acabando! A Gelatto não vende mais o sorvete Furabolo. Pior: o dedo indicador não chama furabolo, chama indicador. E, mais do que pior, nem existe mais Gelatto. O que só me faz concluir que parte do mundo acabou ainda nos anos 80.

Ócio

Espero calmamente pelas informações que faltam para eu escrever a próxima coluna. Acordei cedo e sinto sono. Mais forte do que eu. Os olhos quase fecham e eu me pego a escrever palavras tolas para não despencar sobre o teclado. E finjo fazer alguma coisa. Ócio disfarçado. Ódio. Podia estar em casa dormindo.
Vou pegar um café.

Ela que canta

"Amor que nunca cicatriza
Ao menos ameniza a dor
Que a vida não amenizou
Que a vida a dor domina
Arrasa e arruína
Depois passa por cima a dor
Em busca de outro amor"

(e não sou eu quem diz)

Sobre o blog

(diálogo com ela que escreve melhor do que eu)

Ela: tenho cagaço de saberem o que eu sinto
Eu: eu tb
Ela: nessas coisas maiores, sabe?
mas tá bem escrito, ele vai achar bonito
Eu: hahahah
mas vc sabe que me protejo muito
que não sei ser frágil
Ela: sei
aí mente
é super legal mentir!
Eu: Expor essas coisas é terapêutico. Vai me ajudar.

Mês novo, de novo

Setembro acabou. Open your eyes.

Mas, por favor, nada de perder o trem para Jaçanã.

Das coisas que anunciam o apocalipse - II

O fim do acento em vôo (e o triste fim do trema, mas isso não vou falar. Nunca. Em respeito a tranqüilidade de todos). Agora vai ficar voo. Mas sempre que escrevo o Word acentua automaticamente. E quando percebo a tempo e tiro a maldita pontuação, fica aquele grifadinho vermelho. Odeio. Além disso, voo parece abreviação de vodu. Voodu. É o fim do mundo.