terça-feira, 23 de outubro de 2007

Faithfull

Soube que era você no meio da multidão por causa das listras Adidas. E pelo ritmo de seus passos. Havia ainda um fone de ouvido que não vi. Mas sei que estava lá. E você me disse que havia também um tênis amarelo. Eu gostava do vermelho. O telefone tocou meia-noite e pouco como em outras épocas. Hoje é 23 de outubro. Hoje é nosso dia. Uma data que nunca aproveitamos, só prometemos. Como também nunca vimos Baisers Volés, do Truffaut. Ou Beijos Proibidos, como nosso jogo de siglas sempre preferiu. Eu assisti. Você também. Mas nunca juntos. E você de férias até o dia 02 para a Mostra. De novo. Como há seis anos. A conversa ao telefone converge para um assunto muito denso para o horário e você pergunta como estou vestida. Minto um pouco. Para provocar, como sempre. Impossível não pensar em você em dias de cinemas falados em árabe e legendados em francês. Impossível não lembrar de você enquanto chove e o céu está cinza. Reminiscências. Mas não há amargo na saliva da lembrança. Talvez um gosto de chá de maçã de um café escondido na Aclimação. Não há nem tristeza mais. De certa forma, orgulho. Não perdemos nossas almas. Fomos fiéis. Se não um ao outro - porque nunca fomos - a nós mesmos. Fiéis a nossa insônia e solidão. Faithfull. Como a música que um dia você ouviu e me ligou para dizer que havia se lembrado de mim. Quando já não éramos mais nada. Conheci São Paulo por seu caminhar. Da Paulista ao Arouche. Dos beijos escondidos no Trianon à indiscrição do toque no meio do trânsito. Segui você que me seguiu também. Decifrou meu corpo como eu as ruas. Não me perco mais. Meu corpo, talvez. Não quero nada de novo. Não preciso retornar nesse eterno retorno que é minha vida. Mas, nesses dias de chuva e Mostra e outubro e trânsito, sinto um pouco de falta de você que me beijava de olhos abertos e, quando os fechava, me virava do avesso.

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