quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Pecado original

Comi cuidadosamente aquela maçã do amor que chegou a minha porta numa noite quente de dezembro. Tirei o papel celofane sem deixar o açúcar caramelado grudar. Sentei aos pés da cama e cruzei as pernas em pose de índio, como minha professora da primeira série chamava. Tinha um resto de sol que entrava pela janela e fazia um desenho bonito na parede. Mordi. Primeiro doce, depois fresco e, ainda doce, mas um pouco mais suave. Igual ao amor novo. Não lambuzei muito as mãos. Só a ponta do dedo indicador esquerdo. Para apoiar enquanto girava a maçã para mais uma mordida. A mão direita segurava no palito de sorvete, agora, de maçã. Comi tudinho esperando entrar num sono tranqüilo e só acordar com um beijo dele. Ele foi para uma ilha ao sul ver o ano novo nascer e nunca mais voltou. Eu adormeci. E sem ninguém para me acordar, meio que morri.

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