quarta-feira, 28 de novembro de 2007

"Nossa"

- mas o canalha tb sou eu?
- é.

Bobo, tanto de mim é você. Tanto daqui é você. Que às vezes nem sei mais. E nem importa. Já está tudo bem. Até quando não é você.

E eu nem vou ver desfile nenhum hoje. Vou para a aula de pilates. Respirar pausadamente e contrair o abdômen. Espero que amanhã ela resolva ir de carro. Eu nunca vou aos churrascos mesmo.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Devora-me

Vou te devorar como um primata destroçava a costela de um mamute. Cada pedacinho de carne arrancado com meus caninos. Cada osso roído e lambido mil vezes até nada sobrar. Só osso. O teu sangue escorrerá quente entre meus dedos. Seus restos serão triturados pelos meus dentes. Você totalmente entregue a meu prazer. Em pedaços. Eu, em êxtase. No céu, só a lua. Na terra, roedores e répteis virão para assistir ao meu banquete.

Até meus olhos amarelos de tesão cruzarem com os seus. Até meu corpo já saciado, mas ainda excitado, se espelhar nas suas pupilas. E eu me vejo refletida. E tremo. Vejo meu desejo no seu olhar. Vejo minha fome. Vejo meu corpo frágil manchado do seu sangue. E, sem palavra alguma, quem me devora é você.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Ele que vai voltar

Tão canalha...Mas eu gosto tanto!

Terra a vista

O cartão chegou. Com uma foto de um arco na rua Augusta, em Lisboa. Dizem que de lá, vê-se o Brasil. Será?

domingo, 25 de novembro de 2007

Quando acordei, chovia.

Chovi tanto em novembro que lavei a tristeza de mim.

Banheiros que eu quero para mim

1) com Jason Schwartzman no trem em The Darjeeling Limited;
2) o de uma casa perto de uma praça perto da rua João Moura - ali, aonde o trem para Jaçanã nunca chega e a música é instrumental;
3) o do trem que sai de uma Milão cheia de neve e chega à ensolarada Barcelona;
4) o que fez o filósofo encontrar com a escritora no Rio de Janeiro;
5) com Asthon Kutcher no avião que vai para NY;
6) aquele de Curitiba de um lugar que já fechou e fica apertado se entrar mais de duas pessoas;
7) aquele quebrado do quinto andar;
8) o do Pelourinho - para momentos de crise existencial;
9 e 10) E, segundo me contaram, os de um hostel em Paris e de um bar na Lapa carioca.

E ainda tem revista fazendo matéria com lista de banheiros que "merecem" ser visitados...ninguém sabe de nada!

Fim de semana

No ônibus com o Peter Parker fui até uma cidade em que os dias são meses. Um fim de semana, dez dias. O sol aqueceu minha pele cinza. E, como phoenix, renasceu. E eu também. E também teve aquela que guiou meus passos com uma nova vida dentro de si. Logo ela que pisara nas mesmas salas e tivera os mesmos professores que eu. Turmas com nomes de rock stars. E Kelly Slater. Estava em casa mesmo que longe de tudo.

Novo amor

Posso jurar amor eterno ao Jason Schwartzman?

Acho que troco o Ethan Hawke e o Ashton Kutcher por ele. Só pode ser amor...né?

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Diálogo com a minha tristeza

- oi.
- oi.
- saudades.
- eu tb.
- é.
- é.
- tudo bem?
- tudo. e vc?
- tudo.

(pausa)

- ah, já vou
- tá. até.
- é.

Tee

Acho que preciso desta camiseta. E vou comprar uma para ela também.


Agenda

Já tenho uma agenda 2008.
Aquelas folhas branquinhas pedem por uma vida nova. Tudo diferente e igual. Com cheiro de volta às aulas. Promessas. E cara de descanso.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Fechamento

Eu fecho
Tu fechas
Ele fecha
Nós fechamos
Vós fechais
Eles fecham

Já as revistas, nunca fecham...

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Cheiro de lavanda

Dias como ontem são dias deslocados no tempo.
Quando não sabemos se é terça ou sexta-feira. E não faz diferença.
Textos terminados. Gim, cerveja, vodka.
Fotógrafo, jornalistas e publicitários. Xadrez e carioquês. Diálogos e risos.
Livraria e inferninho. Borboletas voando pelas estrelas de meu corpo.
Tudo ao mesmo tempo. Eu fico no centro.
Vejo. E desejo. Desejam-me. E vice-versa.
Acordei zonza. Boca seca. Tomei café e banho, bem devagarzinho.
De mansinho, passei lavanda Johnson´s e fui trabalhar.
É esse perfume que me faz sorrir. E me espreguiço bem gostoso.

Namastê

Tenho leitores na Índia. Por que?

Testosterona

Please, God, give me!

I love it.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Das coisas que anunciam o apocalipse - X

Eu ensinar via msn a minha amiga grávida como fazer carne moída. Só não sei ainda qual é realmente o sinal do fim do mundo: ela grávida ou eu ensinar alguém a cozinhar...

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Dele que me conhece desde criança

- só quero saber se você está bem de verdade
- de verdade? defina verdade...
- você tá BEM? não tá triste por nada?
- não vou me jogar pela janela
- já é um começo...
- triste...eu sempre sou, só quando estou muuuuito feliz que não fico triste
e faz um tempo que isso não acontece
mas é fase....
- pare... você tá muito intelectualzinha emo com essas "eu sempre sou triste"...
respeite meu saco
- hahahahaha
emo é foda
xinga, mas não ofende!!
- faça um blog falando das tuas fodas.. é mais legal
- não tenho fodido ultimamente
- mas saudades e solidão são coisas sertanejas demais
- mas é uma constante no mundo dos blogs femininos
- é o cacete
vou ser bem sincero com você
- iiiiiiiiiiiiiii
- em são paulo as pessoas sentem tesão em trabalhar demais, estarem estressadas e tristes
- é. e?
- por favor, não superestime essa merda
você é legal, tem um trampo massa que você gosta, não tem ninguém te fodendo (no mau sentido) e então não encha o saco ho ho ho

2007...

Quero que este ano acabe logo.
Para ela parar de esperar.
Para você voltar.
Para ir embora.
Para eu voltar.
Vou pular onda e beber champagne.
Só uma desculpa para o champagne. Sem ser SPFW.
Quero ver 2008 nascer no céu da baia de Guanabara e, então, vou fingir que a mensagem que recebi este ano era, na verdade, para o próximo.
E farei tudo. De Ipanema a estátua da Liberdade.
E 2007 dormirá para sempre na lembrança dos anos que não existiram.

sábado, 17 de novembro de 2007

Para, quem sabe, chamar a sorte

The moment I wake up, before I put on my make up
I say a little prayer for you
While combing my hair now
And wonderin' what dress to wear now
I say a little prayer for you

Forever and ever you'll stay in my heart
And I will love you foverer and ever
We never will part and I will love you
Together, together that's how it should be
To live without you could only mean heartbreak for me

I run for the bus love, while riding I think of us, love
And say a little prayer for you
At work I just take time, and all through my coffee
break time
I say a little prayer for you

Sábados de primavera

Houve um tempo em que os sábados eram só dias felizes.

Era assim: eu esperava minha amiga Li ligar para confirmar o horário que passaria em casa. 21h ou 21h30. Tomava banho - muitas vezes ainda bêbada da noite anterior. Cantarolava uma música do filme "O casamento do meu melhor amigo" porque eu achava que essa música me dava sorte. Vestia uma saia preta. A mais curta. Colocava um top. A marca do biquíni escorria pela minha nuca e era estrategicamente coberta pela alcinha da blusa. Ou não. Delícia. Passava meu perfume Allure - que também me dava sorte - nos pulsos, entre os seios e na nuca. E ia para varanda esperar o carro que chegava buzinando e sem querer chamava a atenção dos vizinhos entre 26 e 30 anos. Inocência?

Nunca perdi a viagem. Nunca fiquei totalmente lúcida. Nunca fui tão apaixonada. Nunca tive tanta coragem. Nunca quis parar o tempo. Devia.

Não é por nada. Talvez um pouquinho de melancolia, mas é que lembrei desses sábados. E fiquei com saudades das minhas amigas que não cheiravam cocaína.

Subconsciente

Acordei de sobressalto e sentei na cama com a respiração acelerada. Sonhei que estava na minha colação de grau da universidade. Mas sem discursos ou diplomas ou abraços. Sem beca. Minha roupa era bonita, até. Era apenas um monte de gente sentada esperando alguma coisa. Não sei o quê. Mas sabia que era colação porque nos sonhos, às vezes, sabemos essas coisas. E depois só comemoramos como se comemora um gol de futebol de praia. Ninguém chorou ou se tocou. Vazio.

Eu só olhava para uma porta em arco (não era bem uma porta, era mais uma entrada, uma passagem, digamos assim). Eu olhava e meu olho enchia d´água. Esperava você passar. Esperava e sabia que você não passaria. E nem eu. Não passaria mais. Aperto que já senti. Lembro bem, mas foi na sua colação e a porta nem era em arco. Triste. Muito triste.

Abri os olhos e vi meu apartamento azul de braços abertos para mim. Não passaríamos mais naquela porta porque já passamos. Ufa. E eu ainda te vejo chegar. Mesmo que em cima da hora do filme começar.

Tropeços e meus e-mails

Minha caixa postal virou a principal maneira das pessoas avisarem que caíram. Primeiro minha mãe quebrou o pé. E não pegou o telefone, mandou um e-mail. Agora, meu pai escorregou em Portugal. E não esperou chegar para contar, mandou um e-mail.

O que está acontecendo com esse mundo dos adultos?

Enquanto isso, vou tropeçando entre linhas de e-mails que não escrevo com declarações que não tenho mais coragem de fazer.

E você nem lê este blog.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

O eterno retorno sou eu

Fazer, refazer
Liquefazer
Criar, derreter
Escorrer
Procriar, nascer
Derreter

Eu escorro.
Ela procria.
Acho que vai nascer em junho:
Escapar, cortar, chorar

E eu ainda vou escorrer

Mulheres, estranhas. Entranhas.

Criamos e recriamos todos os meses. Morremos e nascemos a cada quinze dias para voltarmos a morrer ao fim de 28 dias. Como a lua. Cresce, seduz, recua, some e cresce, seduz, recua...
Até o corpo parar. Até o corpo secar. Até o mundo acabar. Cansadas. Liquefeitas.

E quem fez a teoria do eterno retorno foi um homem. Não sabia nada esse Nietzsche.

Paredão

Se um dia eu pudesse eliminar as pessoas, começaria por aquelas que usam perfume doce. É como uma lei matemática: perfume doce é diretamente proporcional a quem não tem controle da mão e borrifa três mil vez mais do que seria permitido pela lei da invasão espacial (aquela do Dirty Dancing: "meu espaço de dança, seu espaço de dança").
Depois, eliminaria os adolescentes. São bem chatos. Mais chatos do que as crianças. Seguindo em frente no meu dia de limpeza mundial, acabaria com quem pede camarão frito para comer na praça de alimentação em um feriado chuvoso. Sério, o cheiro é insuportável. E grudam em quem está sentado ao lado tentando comer uma massa integral saudável com brócolis e ervilhas. Camarões fritos foram inventados para comer na praia, à beira-mar (assim o vento disfarça o fedor daquilo).
E, por fim, acabaria com as praças de alimentação. Imagina, sem mulheres com perfume insuportável, adolescentes e comensais de pratos fétidos, para quê serviriam?

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Por que faço assim

Cai do aviãozinho do brinquedo no parque de diversões quando era criança. Acho que bati a cabeça. O efeito colateral foi que desde então é meu coração que pensa e meu cérebro que pulsa.

Sorte sua.

Frases, lembranças e espera

Bastou uma frase. Senti tudo tremer dentro de mim. Eu esperando você voltar. Eu sentindo sua pele. Suas pernas perdidas entre as minhas. Bastou uma frase. Meu coração perdido em suas mãos. Minha cabeça perdida em mim. Um cheiro de serra, Marlboro, capuccino e Trident, brotou do asfalto. Fui levada por essa bruma até minha casa. Pensando em suas palavras. Pensando em seus olhos pequenos de embriaguez. Voltei aos 19 anos e àquela porta que um dia encontrei em Notting Hill e decidi que lá viveríamos. Por uma frase, esqueci de mim. Lembrei de você. Em mim. E me perdi.

Por uma frase, entreguei os pontos. Cortei os pulsos da sensatez. Agora só espero. Sou Penélope. Você, Ulisses.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Correio

Está vindo lá de Lisboa um cartão postal para mim. Recebi um e-mail avisando. Um cartão para guardar na malinha antiga junto com as outras recordações. Um cartão para esperar o correio chegar.

Herança

Lavei o cacho de uva rubi, escorri a água e coloquei em um pires bonito. Levei para a cama para comer enquanto lia Gabriel Garcia Márquez com a TV ligada, como meu pai me ensinou. Mas separei um guardanapo de papel para passar uva por uva antes de levá-las a boca, assim não dá aquela coceirinha, como meu avô me ensinou.

Acho que é por isso que sobrevivemos. As grandes felicidades são voláteis como a acetona que tira meu esmalte vermelho e mancha meus dedos. Às vezes é mais fácil descascar. Puxando com força a lasca que solta. Mas esses pequenos momentos de delicadeza não deixam marcas. Só a do riso cúmplice com a vida no rosto.

domingo, 11 de novembro de 2007

Because I smiled yesterday

"When you first left me I was wanting more
But you were fucking that girl next door,
What you do that for
When you first left me I didn’t know what to say
I've never been on my own that way, just sat by myself all day
I was so lost back then

But with a little help from my friends
I found a light in the tunnel at the end
Now you're calling me up on the phone
So you can have a little whine and a moan
And it's only because you're feeling alone

At first when I see you cry,
yeah it makes me smile, yeah it makes me smile
At worst I feel bad for a while,
but then I just smile
I go ahead and smile"

Hoje, serve para o limbo que agora me persegue ao lado da Angela Ro Rô.
Mas poderia ser para você, para ele e para o próximo. Assim, já fica avisado e não faz merda.

Das coisas que anunciam o apocalipse IX

Lasanha que fica pronta em um minuto. Nada é tão ruim. Impossível. Nem barata empanada.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Cartão postal

Quando eu era pequena, recebi do meu pai um cartão postal da Espanha. Era um castelo em noite de lua cheia. No texto, ele dizia que parecia o castelo da Bela Adormecida e, por isso, escolheu aquele para me mandar.
Hoje, ele está em Portugal. E eu mandei um e-mail pedindo um outro cartão postal. Acho bonito aquele pedaço de papel não muito grande com uma foto de um lado e palavras de carinho escritas atrás.
Nos cartões do meu pai, sempre vem explicações sobre a história do local fotografado - ele é professor de história. E eu me sinto meio lá. Meio história. Meio filha. Meio princesa.

Because I feel you tonight

"Night clubs help you grow up"
by Judy Blame

Fashion world

Eles olham e sorriem para mim. Alguns se deslocam para falar "oi". Todos eles. Todos. Os importantes.
Eu respiro. Sorrio de volta. E para dentro de mim.

Eles passarão, eu passarinho

Tinha um passarinho morto na calçada da avenida Cidade Jardim, quase na esquina com a Faria Lima.
Hoje, ele estava esmagado. Será que pisaram nele? Andam apressados os paulistanos.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Quando a inspiração ainda está na semana passada...

Se todo mundo fosse feliz o tempo todo, não haveria filosofia, arte e literatura. Só axé music. Puta falta de inspiração quando está tudo bem...

Logo, não tenho nada a dizer. Decidi, então, postar duas flores. Uma chama prenda, a outra, maria sem vergonha. Só porque achei bonito isso.




Think pink!

Sem querer, vesti um macaquinho rosa shocking hoje de manhã. Quando fui à academia, escolhi uma regata na mesma cor e o moletom que coloquei por cima - adivinha?- também era rosa.
Acho melhor não dizer nada...não provoque, é cor de rosa shocking!

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Parece cocaína, mas é só tristeza

Juro que não entendo. O que faz um ser humano levantar da mesa de um restaurante legal, com comida assinada por um chef legal, ir até o banheiro e cheirar cocaína? É digestivo?
Só sei que é triste. E eu odeio.

Chuva de sapos

Estou achando que foram sapas, e não sapos, que participaram do filme Magnólia. As sapas vão dominar o mundo e, pelo jeito, começaram pelos homens que eu peguei. E, depois, pelo bairro que eu moro, e depois, pelas roupas do Marc Jacobs.
Nada contra, mas elas deveriam diminuir a oferta e não aumentar a procura.
Acho que vou costurar essas sapas. E não serão suas bocas.

domingo, 4 de novembro de 2007

Canções de ninar

O jeep do padre fez um furo no pneu
O jeep do padre fez um furo no pneu
O jeep do padre fez um furo no pneu
Co-le-mos com chi-cle-te!

Eu vou ensinar essa música para meu afilhado. Melhor que a tal do boi, boi, boi da cara preta! Só se eu adaptar para: vaca, vaca, vaca da bunda preta! Será que a mãe dele vai deixar?

Here's looking at you, kid

Se 2007 fosse um filme, seria Casablanca. Cheio de partidas, despedidas, reencontros.
E sempre teremos Paris (que nem sempre fica na França).

Por que o céu ficou rosa

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
que eu pensava encontrar

Eu já falei com ele este ano. O vento forte e o céu cor de rosa que se revelaram pela minha janela hoje à tarde foi o jeito que ele escolheu para me responder. E eu entendi.

Domingo lúdico

Tenho uma memória olfativa surpreendente. Como o cheiro da chalá me lembra Jerusalém e pão fresco, Paris (são pães em tudo diferentes, da forma ao significado, assim como minhas recordações), descobri que arroz integral me leva a casa da Bel.
De panela aberta e cozinha quente, levitei até as lembranças da minha primeira infância. Eram muitos os cheiros naquela casa: patchouli, terra molhada, incenso, maconha e aquele azedo de criança. Havia crianças por toda parte. Crianças adultas e infantis. Conta a história que foi a primeira visita que recebi. Macacão jeans e barba. Deve ter sido também o primeiro aroma que senti fora do universo da placenta. O cheiro daquela barba que misturava todos os outros – e assim continuou mesmo depois das mudanças de idade, de casa, de credos e até com o fim da barba. Patchouli, terra molhada, incenso, maconha, azedo de criança e, descobri ontem, arroz integral. Eram esperançosos os adultos no começo dos anos 80. Tempos de abertura política, vontade hippie de paz e amor, passeata pela despoluição do mar (e nem se falava em aquecimento global), os amigos ainda não tinham morrido por causa da AIDS, nem de overdose. Havia amor. Daquele tipo puro, difícil de explicar. Éramos todos crianças brincando do que queríamos ser naquela casa encantada. Eu, bailarina. Corria, pulava, rodopiava. No som, um LP com Gilberto Gil cantando Realce. Na frente, um pau-brasil dava sementes para a gente fazer colares. Na porta lateral pouco usada, morava uma bruxa má. Ao pé da escada, uma foto de John Lennon com os óculos redondinhos tudo via. No forno, o pão integral. Na banheira, três meninas, às vezes mais, tomavam banhos de princesas. Na beira da piscina, um varal que me vazia voar. Era feliz naquele mundo lúdico. Nunca tive coragem de falar para ela o quanto sinto a falta do pai dela. E o quanto me entristeceu a morte dele. Mas como dar os pêsames se nem a gente se agüenta? Alguém que tinha nome de domingo...no plural.
Então, tampei a panela e procurei num CD perdido em meio a outros, a música de Gilberto Gil. Encontrei e, entre parafinas e purpurinas, fiz o jantar mais feliz que essas terras daqui já viram.
Ah, o arroz ficou meio sem sal, meio duro. Mas me alimentou. Como a vida faz.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

A vida como ela é

Não é porque sou ruim. Nem por ser insensível. Prática, talvez. Egoísta, com certeza. Mas sabemos que essa criança sempre será a prova do que a vida é. Por isso não consigo. Ou estarei absolutamente certa com todas minhas teorias e defesas, ou totalmente errada. E ainda não estou pronta para saber a resposta. Não seremos felizes.

Das vezes que engravidei

Quando eu tinha 15 anos minha melhor amiga na época engravidou. Ela repetiu de ano e não me contou com vergonha, mudou de cidade e teve anemia. A última vez que a vi, ela precisava de um canto para dormir antes de voltar para São Paulo. Tempos difíceis. Ficou no sofá de casa, emprestei um livro que gostava muito, o Diário de Lúcia Helena, e fui dormir. Nunca mais vi. Nem ela, nem o livro.
Depois que saí da escola, uma das meninas da minha turma de oito amigas engravidou. Parou a faculdade de odontologia (depois retomou e hoje trabalha lindinha toda de branco). Fui no chá de bebê na casa que já vira meia dúzia de adolescentes bêbados caindo na piscina. Pintamos a barriga dela com batom e como o tempo não era de máquina digital, tenho guardadas as fotos com muito carinho. Éramos bem bonitas nessa época. Eu ainda acreditava no amor. O menino nasceu, ela casou, ele cresceu, ela separou. Voltou para a casa da mãe – a da piscina. Ela encontrou outro cara legal. E, se não me engano, está bem. Mas eu não a vejo há anos.
Tempos depois, por causa de um telefonema no meio de um plantão, fiquei sabendo que ele seria pai. Também era outubro. Respirei pálida e fui dar um boletim de trânsito. Depois, subi no sétimo andar - que decididamente não era o sétimo andar e meio do John Malkovich - e disse a ele, depois de um beijo triste, que não me procurasse nunca mais. Game over. Lembro bem da expressão que usei. Ele estava de camiseta laranja. Ele separou. Ela casou com outro. A criança nasceu. Não sei se ele registrou. Não sei se a mãe da criança fala com ele - faz bem se não. Ele não vale nada mesmo. E meu ‘nunca mais’ durou até o dia em que ela pariu. E eu nem sabia.
No meio do ano, uma outra amiga da turma de oito também engravidou. Susto. Parecia que iam roubar a nossa juventude, que ainda éramos aquelas de calça bailarina e keds, que não devia. Mas aos 28 anos e depois de um aborto, já era hora. Não a vejo há anos. Mas torço para que seja feliz.
Há três semanas, minha melhor amiga soube que estava grávida. Vai sair do emprego que queria - ou dizia querer - desde os tempos da faculdade. Vai fazer um caminho que não chega na Dinamarca. Na Copa de 2014, ela vai levar o filho aos jogos. Se o santo que a mãe dela reza for bonzinho, ela terá um marido. E ele também irá. De verde e amarelo. E eu pensarei, onde quer que eu esteja, nela lá, pulando e gritando e ensinando o filho a gostar desse troço que é o futebol. E ele já vai saber toda a escalação – incluindo a do Santos nos tempos de Pelé e Coutinho e Mengálvio e Pepe. Eu vou terminar o café amargo que estiver tomando e encontrar minha solidão do outro lado da rua.

Socorro

Tem gente que corta os pulsos. Tem gente que engravida. Tem gente que casa. Tem gente que muda de cidade. Tem gente que pinta os cabelos. Tem gente que faz lipoaspiração. Tem gente que muda de sexo. Tem gente que larga o emprego. Tem gente que pula do décimo andar. Tem gente que morre. E tem gente que não vive.

Mais sobre o mesmo - mesmo que não pareça:

eu: já te falei que ele leu meu blog?
ela: NÃO
FALAE
eu: então, ele leu
disse que gostou
mas não tocou em nenhum dos assuntos que eu falei...
ela: TÁ MTO BOM
eu: ele deve ter sacado que tem coisa lá que é ele, né?
ela: não
burrinho
eu: não?
acho que vou desenhar...hahahahaha
ela: acho que vou comprar fralda
eu: para ela?
ela: é
eu: eu não consigo

Carta para meu destino disléxico

"Querido destino,
Quando eu mando alguém para o limbo, é lá que ele deve ficar. No limbo, jogando vôlei e peidando. Bem longe de mim. Entendeu ou quer que eu desenhe?"

Êita semaninha cagada!