quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Neblina

Os meus olhos enxergam tudo sob as lentes degradé dos meus óculos vintage. Que me escondem e me protegem. A menina alta, de cabelos castanhos claros e rasteirinha metalizada, carrega Crime e Castigo no ônibus lotado. Outras mulheres se enfeitam. Brinco de florzinha, grampos de strass. A Terra encobre a Lua com sua sombra soturna e pesada. Madrugada. Eu suspiro. Inspiro e expiro na aula de pilates. El comandante renuncia. Você não vem me ver. Eu renuncio. O futuro é turvo. Como a neblina que impede a balsa de fazer a travessia Santos-Guarujá. Não vejo. Eu me perco na bruma. Tento acender uma lanterna velha que veio do Paraguai, mas as pilhas vazaram lá dentro. Não funciona. Meu pai desdenha a neblina que tem no pulmão. E você desdenha a minha solidão sob as lentes degradé dos meus óculos vintage. Que tudo vêem. E os homens que me rodeiam viram fumaça. E quem não respira sou eu.

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