domingo, 10 de fevereiro de 2008

Céuzinho

Ela procurava muito por uma casa. Um local para poder voltar. Com cheiro dela. Sem mofo, nem cigarro. Sem carpetes. Um lugar onde pudesse pintar uma parede de laranja para guardar as memórias dos passos que deu pelo mundo. Onde pudesse andar nua. Ou vestida dos pés a cabeça. Se assim desejasse. Um espaço para dançar suas músicas preferidas. E gritar. Para chorar em paz. E rir e amar e vomitar, quando precisasse.

Um dia sonhou que era levada pela mão para ver um apartamento. Seria a casa dela. Parecia um sobrado, com escadas que vocês subiram e tinha uma varanda. E, segurando a mão dela, vocês encontraram um jardim. Era o Jardim Botânico das novelas do Manoel Carlos. E, no final, o caminho (que nem era de paralelepípedos dourados, mas poderia) chegava ao Cristo Redentor. A casa dela, judia, teria o Cristo no quintal.

Pode não ser nada. Ela pode nem acreditar. Mas o arquétipo é forte. E ela sabe: desde que entrou na sala no décimo primeiro andar, tudo ficou bem. Demorou. Errou. E, muitas vezes, achou que estava tudo perdido. Mas a verdade é que nada a atinge dentro desse céu. O céu que pediu quanto visitou o kotel. O céu que a fez voar. Para o alto. E de volta, quando precisa descansar.

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