sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

22 de fevereiro

Eu nunca disse “eu te amo”. Para ninguém. Minto. Para meu avô e meu irmão já falei. Meus dois librianos. Dois homens azuis. Que me trazem paz. Para você já escrevi. Em um recibo de farmácia. Acho que era 2000. Até corações desenhei. Nunca falei. Nem te entreguei o papel, claro. Rasguei em um dia que limpei algumas gavetas. Algumas encarnações depois. A primeira vez que tentei segurar sua mão, senti de uma só vez seus dedos esticados e gelados do copo de vodca. Estávamos numa estrada a beira mar e eu vestia uma blusa azul. Turquesa. O frio do gelo perfurou meus ossos em segundos. E, por reflexo, soltei sua mão. Cambaleei no salto alto. Mas segui a seu lado. Você, em outro planeta. Desde então, sigo pela mesma estrada a beira mar com cheiro de peixe podre. Um universo paralelo. Eu, de mãos vazias. Ao seu lado. Mesmo quando você não me vê. E você nunca me vê. E lá se vão quase dez anos.

É bem entre os seios, naquele espaço que o osso divide, que aperta. É onde a lua cheia ilumina e se esconde quando é nova. Ali, sinto o mundo girando – principalmente no sentido anti-horário. E você partindo. E eu sufocando. E o ar faltando. E Hiroshima explodindo. Ali você mora. E rompe. E parte. Me reparte ao meio. Me mata e me une. E nem posso dizer nada. Nem adeus.

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