segunda-feira, 31 de março de 2008

A casa das borboletas

Carreguei minha tristeza até as montanhas. Um peso a mais para atrapalhar meus passos certos. Cada degrau, um sufoco. O ar que falta. Cada obstáculo, um país. Uma vida. O ar puro furou minha casca de fumaça da cidade. Sem proteção, fiquei exposta. E a umidade encharcou minha alma. E transbordou meus olhos.
Dentro da casa outrora demolida, fotos e páginas e textos. Sem meu nome. E eu acompanhada da dor fixa que anda comigo desde criança. Vontade de sair de mim. Aos cinco anos, algemei minha tristeza ao meu corpo. Entre os seios. Como uma maldição dos contos de fada. E ela sofre por não conseguir se libertar. Mesmo quando tatuo a tal da felicidade no ombro. Na mala, levo fantasmas e bruxas - não as da minha infância que moravam no casarão. Novas bruxas. Sem vassouras, nem verrugas.
E a chuva vem. Fraca. E sai o sol. Forte. E vem chuva e sai sol. É a mata atlântica. É assim, aprendi na escola. Não vejo arco-íris. Mas a cada grito de sol, inúmeras borboletas surgem das sombras. Amarelas, azuis, brancas e gráficas como as rampas de concreto do prédio da Bienal. Chegam para anunciar um pensamento bom. Concentro-me perto da árvore de cereja com uma anãzinha de cerâmica. Um pensamento bom, um pensamento bom, um pensamento bom...
Por mágica, um tapete voador de borboletas me leva ao Taj Mahal. Sigo para as brumas londrinas e sobrevôo a Champs-Élysées . Ele, de olhos claros e calmos, diz que é só saber bem o que se quer. E eu sei. E entrego meus fantasmas para as sombras da floresta. E volto com meu tapete para cá. A cidade. Para minhas paredes azuis. E termino o que comecei. E retomo o que parei. E continuo andando para frente. Porque são as lagartas que viram borboletas.
E borboletas não olham para trás.

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