domingo, 15 de junho de 2008

Não vou

O telefone toca. O pedido de socorro vem. E suga. Quase 74 anos de solidão. Pede atenção. Nego. Não quero essa tristeza para mim. Meu corpo não aguenta. Minha cabeça lateja. Somo: três mulheres, seis filhos, alguns netos, quatro cantos do mundo. E ele é só solidão. Alzheimer. Um flat no Itaim. Um cigarro pendendo na boca. Um copo de Cinzano. Uma aposentadoria anunciada num jornal de grande circulação. Meu trabalho pelo ralo. E a vida perdida em filmes.

Ele precisa de ajuda para arrumar o acervo. Fotos embaralhadas como seus pensamentos. Amargos. E azedos. Ele precisa de ajuda. Ela - que é loira e alta - vai. Eu não. Eu fico aqui. Buscando minha verdade. Aqui. Sozinha. Na minha solidão e tristeza que ainda pode ser qualquer coisa. Seja lá o que for. Mas, com ele, eu não vou.

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