domingo, 8 de junho de 2008

Dos que se escondem

Yves Saint Laurent costumava se esconder no banheiro na hora do intervalo nos tempos da escola. Tímido e gênio. Outros tantos gays que conheço também. E eu reconheço e lembro com melancolia de quando eu era menina. Pequenina e loira. Primeira depressão. Primeira vez em que meu cérebro ficou laranja. Ficava ali, parada, sozinha no alto de uma escada olhando as pessoas. Ou sentada no canto durante as festas em que as músicas do Roxette eram o ápice da noite. Só e alheia a tudo. Aos meninos que jogavam bola. Às meninas que usavam jeans M.Officer. Às gordas que comiam coxinhas. Às muito infantis que pulavam corda. Não me lembro o que falavam. Talvez nem falassem. Repetiam o que deveria ser dito. E eu observava. Em silêncio.

Não sei mais quando foi que decidi ser visível. Nem como o fiz. Nem se foi um filme, um livro, um pôr-do-sol, o gatilho que explodiu a pólvora em mim. Mas jamais esqueci a sensação de ser só. A parte. Por isso, carrego em mim a tristeza e a esperança de que sempre haverá uma porta, um canto, um escuro, um lugar para voltar, e me trancar. E o tempo passar.

Hoje, reconheço vagando por aí outras tantas crianças solitárias. São os que souberam se reinventar. E, indefectívelmente, são os melhores no que fazem. São as almas que me compreendem. E eu acompanho.

Um comentário:

Anônimo disse...

Engraçado, um dia eu fui assim também e hoje quando quero ficar sozinha consigo me desligar de tudo o que está a minha volta, feito um passe de mágica. Até que uma hora alguém me acorda...