sábado, 2 de agosto de 2008

Sobre meninos e onças

A presa sente o cheiro da onça. E finge que não a vê na esperança da onça desistir da caça. Em vão. A onça rodeia silenciosamente a presa. Sem demonstrar interesse. Para deixá-la na dúvida. A onça se aproxima lenta. Mas não ataca. A onça quer ver a presa pálida. Sentir o sangue correr frio pelas têmporas e o suor escorrer pela espinha. Quer testar o quanto é maior que a presa. E mais esperta. A onça não diz nada. Espera. O prazer da onça está no contorcer das entranhas da presa. É a tortura que a fascina. A presa se oferece na tentativa de diminuir o sofrimento. Terminar tudo logo. Mas a onça nem liga. Quer o jogo. E olha para o lado. A presa tenta, então, dialogar. A onça não escuta. E se esfrega lentamente no corpo frio da presa com a malemolência dos trópicos. A presa ajoelha e pede perdão. A onça goza. E a olha com olhos semicerrados. A presa espera o bote. Mas a onça só lhe lambe a face. Ela não quer jantar. Já teve a sobremesa.

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