quinta-feira, 6 de novembro de 2008

4th avenue

Você está aí. Parado. Na 4th av. Às vezes, olha para mim. Sorri. Mas não atravessa a rua. Eu aceno. Ora um tchau de miss, ora um chacoalhar de braços tão forte que me falta ar. E você, aí. Na única avenida que não existe. Você se cansa. E senta na sarjeta. Com elegância. Você não é qualquer um. Senta, acende um Marlboro, traga, aperta os olhos e assopra a fumaça em mim. Eu, mesmo aqui, tusso um pouco. A fumaça me faz mal. Quando chove, a menina de cabelos lisos e longos te empresta um guarda-chuva. E eu corro para casa. Quando faz sol, você coloca os óculos dos 20 anos. Um pouco fora de moda, mas de bonito efeito para a literatura. E eu vou à praia. Um dia, passei com pressa e nem te vi. Mas sabia que estava lá. Me espionando com esses olhinhos de menino que colocou bomba no banheiro do colégio. Achei engraçado. Já andei bem lentamente por aí. Para ver se você me chamava, se puxava o meu cabelo. Levantei a saia do vestido de renda de leve, só para ficar mais curta. Fiz cara de perdida. E você riu malicioso. Entendeu. Também já nos esbarramos. E rodopiando na 4th av., presa em seus braços, pedi para deus fazer o mundo parar. E só consegui que o trânsito ficasse insuportável na 5th av. Uma avenida que existe. Eu já tentei comprar aquela casinha de esquina de portão branco para ficar mais perto. Mas ela está alugada. Não posso te mandar cartas porque, como não existe, a sua avenida não tem cep. E, tem dias, que só quero acompanhar seus passos. Espiar de longe, da distância da saudade. Mas você tem patins e corre. Agora, agora, agorinha, eu estou feliz porque você está aí. Nesta avenida que não existe. E eu aqui. No mundo que faz tanto barulho que é impossível não ser de verdade. Porque eu posso correr para outras avenidas. E você perdeu o trem.

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