domingo, 13 de janeiro de 2008

Copacabana e o sexo

O gosto agridoce de champagne rose amanhecido na boca a acordou. Ela olhou para o lado e viu um corpo nu e notou que também estava nua. Procurando sua calcinha, viu algumas manchas pelo corpo e sentiu dor nas costas. No seu corpo, um cheiro de homem também amanhecido. O ar parado do quarto tinha odores misturados: suor, álcool, sexo e porra. É. Dera. Muito. Passara a noite trepando. Pela casa inteira, na janela para o vizinho gordo e desempregado ouvir seus gemidos, de cabeça para baixo, no chão. Mas agora não queria pensar nisso. Ela só precisava de um banho.

Abriu com moleza a torneira do chuveiro com aquecimento a gás. Entrou de cabeça e deixou a água escorrer pelo corpo. Ficou alguns minutos assim. O que faria agora? Era cedo. Oito da manhã de um ensolarado domingo de verão. Muito cedo para ela. Saiu do chuveiro e vestiu um biquíni e uma camiseta branca dele. Com estampa de alguma banda de gente que já morreu de tanto cheirar pó. Voltou para pegar os chinelos no quarto e ele resmungou. Ela não entendeu e disse que já voltava. Antes de bater a porta, ouviu um "traz cigarro". Pretensioso. Se fosse o outro, que nos tempos da faculdade a sufocava de Marlboro, vá lá. Mas aquele ali? Ele não vai fumar na casa dela.

Desceu pelas escadas os três andares do edifício art decó onde mora em Copacabana. Ela gosta de construções antigas e sabe que de art decó mesmo sobrou pouco nesses prédios furados de ar-condicionado. Mas tudo bem. Ela gosta de lá. É espaçoso e perto da praia. Se o apartamento ficasse alguns andares acima, talvez tivesse alguns centímetros de mar para ver. Mas tudo bem. Ela gosta de lá.

Na farmácia em frente ao cine Roxy, comprou remédio para dor de cabeça, lavanda Johnson´s e uma caixinha de Band Aid da Hello Kitty. Sem motivo. Não está com nenhum machucado. Mas achou bonito e comprou. Andou mais algumas quadras e chegou ao calçadão. Com uma das pistas da avenida Atlântica fechada, muito mais gente corria, andava de bicicleta ou simplesmente perambulava por ali. E começou a caminhar também. Talvez uma água de coco no Arpoador fosse interessante. E ela foi. Um pouco pela beira d’água para desfilar sua bunda carioca sem celulite. Um pouco pelo calçadão. Passou pelos bombeiros e pelas barracas que vendem peixe. Quando chegou às pedras, subiu até o ponto mais alto. Sentiu o cheiro dele na camiseta e a esticou para sentar em cima.

Ela não sabe quanto tempo ficou ali. Parada. Olhando o mundo. Não sabe o que pensou. Em tudo e em nada. Não resolveu nada. E nem precisava. Não tinha problemas. Só ficou lá. Vendo o tempo passar e o vento ventar .

No caminho de volta, o cheiro forte de xixi das ruas perto de casa a fizeram lembrar a noite passada. Ela até sorriu. Mas sem empolgação. Ah, o verão...Já no elevador, pensou que até poderia se apaixonar num dia desses. Na praia do Leblon, no Bibi Sucos, no restaurante do Fasano em Ipanema, na praça Maria Quitéria. Entre um Cosmopolitan e um açaí. Ela até se apaixonaria de novo. Sorriu. E abriu a porta apressada. Ele precisava pegar as coisas e ir embora. Um beijinho. Até mais. Ela tinha pressa. A vida dela ia começar hoje. Num domingo de verão.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei o texto.
Só acho que o título poderia ser "Putaria muito louca de verão". Não se pergunte o porque. É uma piada interna minha.