domingo, 5 de agosto de 2012
domingo, 10 de junho de 2012
o dia em que a terra parou
Ela tinha 19 anos. Com um corpinho de 32. E cicatrizes de 75. E um cansaço de 93. Mas era dia de São Itamar.
A rua se coloria e girava para receber os que não têm medo de sexo. O mesmo sexo. Que pararam o trânsito do centro. O centro da cidade que ela escolheu para si. Da cidade que a matou certa vez. A beijou, a engoliu, a comeu e a vomitou. A cidade tão cinza que, às vezes, é cor de rosa.
Ela deu gorjeta para o taxista. No elevador, foi simpática, a menina de 19 anos.
Do quinto andar, não se via a rua. Nem se ouvia o grito das bichas. Do quinto andar, só se via o homem e se ouvia um coração bater forte. Um coração de pressão alta. Do homem gigante. Que ela nem na ponta dos pés alcançava.
Era dia de São Itamar e ela esqueceu de rezar. Encostada nos braços de seu gigante, ela, que fora de vidro, fora de aço, fora de vento, não quebrava. Ela suavizava.
E, de repente, uma mão direita alcançou seu ilíaco. E repousou. Ela alcançou o ombro oposto do gigante, acomodou a cabeça sobre seu peito e a terra parou.
Ela ouviu o freio de Zeus parando as engrenagens do mundo. Do lado de fora, a bola não rolou em dia de sansão, a chuva secou antes de tocar o asfalto, os olhares não se cruzaram, os filmes franceses não azedaram. E ele nem sabe. Mas ela viu. A terra parou.
Com o braço esquerdo, ele segurou todo o mundo, parado, sobre ela. E ela respirou. Nua. Recém-nascida. E aquele coração barulhento batia em todo o seu corpo.
E, depois de tudo, ela foi ver a rua da Consolação molhada da chuva e de gozo. Se fosse 2005, teria voltado para casa de sapatilhas vermelhas. As sapatilhas que vão tilintar pelo mundo. Mas é 2012 e a terra ainda para para ela. E ela só sorri. Ainda bem.
sábado, 11 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
Hiato
(pausa no chororo para conversar com o grego no facebook. Because:
"I want to give some love to the world. It´s important to give love. Love is the answer. It's important to have love even if it is painfull")
Amor é a resposta.
"I want to give some love to the world. It´s important to give love. Love is the answer. It's important to have love even if it is painfull")
Amor é a resposta.
Stevan, Stefan, Stephan, Steffen, Ste van ou como Berlim me arrebatou de vez numa noite de Réveillon
A cidade é cinza no inverno. E os olhos dele também podem ser cinza. Ou azuis. Ou verdes. Eu duvido um pouco porque o gene do olho verde não pode deixá-lo azul, ou é um ou é outro. Mas ele interrompe o raciocínio em genética avançada com um beijo. Tão quente que poderia ser carioca. Mas não era. Nem grego. Nem francês. Era um beijo com sotaque alemão.
Tomei mais um gole de Augustiner e entrei no metrô. Em Senefelderplatz. Desci em 2012. Acordei em Neuköll.
Berlim é a cidade que abriga os desajustados. Os sem família, os que fazem sua própria família. Ela mesma uma cidade órfã. Sua mãe já foi a Prússia. Depois de um período nebuloso e um divórcio confuso, um casal lésbico cuidou dela. Duas alemanhas, gêmeas e incestuosas - Ruth e Raquel, comunista e capitalista. Quem não cabe, não se encaixa, não se entende, se encontra lá. Juro. A cidade, ela mesma, não se entende. Mas não derrapa. Não atrasa. Não se atrapalha. Uma cidade de caixas de banco punks, bichas felizes, anarquistas tatuados. Uma cidade para quem sabe a dor de ser o que é. Berlim é a delícia.
Em Berlim não precisa ter natal, mas precisa ter glüwein. Não precisa ter passado. Ela se reinventa a cada obra. A cada demolição. Uma nova Berlim dentro da antiga Berlim. Aquela que ainda é da Prússia. Aquela que tem 23 anos. Aquela que pariu meu nome do meio. E também aquela que está à frente do resto do mundo. Replicante mutante.
Em Berlim, eu teria filhos. E, por isso, quatro anos de ajuda do governo. Em Berlim, tudo seria diferente, aquele me disse um dia. E é verdade. Em Berlim eu sou eu. E basta. Em Berlim eu bebo e não acordo de ressaca. Em Berlim eu dou.
Berlim guarda a desgraça e os mármores da Grécia e também sua salvação nos cofres de Angela Merkel. Em Berlim os metrôs te levam aonde você quer.
E eu quero ir para Neuköll. Para aquele homem de 1,92m, com tatuagem no ombro esquerdo, que joga vídeo game e tem olhos que não decidem a cor. Aquele que só sei o primeiro nome, ou nem isso. Que nunca mais vou ver e que fugi como se fosse meu vizinho.
Eu quero Berlim. Agora. Aqui na Vila Buarque. Quero abrir a janela e sentir o cheio da Alexanderplatz.
Quero ir embora. Quero viver.
Tomei mais um gole de Augustiner e entrei no metrô. Em Senefelderplatz. Desci em 2012. Acordei em Neuköll.
Berlim é a cidade que abriga os desajustados. Os sem família, os que fazem sua própria família. Ela mesma uma cidade órfã. Sua mãe já foi a Prússia. Depois de um período nebuloso e um divórcio confuso, um casal lésbico cuidou dela. Duas alemanhas, gêmeas e incestuosas - Ruth e Raquel, comunista e capitalista. Quem não cabe, não se encaixa, não se entende, se encontra lá. Juro. A cidade, ela mesma, não se entende. Mas não derrapa. Não atrasa. Não se atrapalha. Uma cidade de caixas de banco punks, bichas felizes, anarquistas tatuados. Uma cidade para quem sabe a dor de ser o que é. Berlim é a delícia.
Em Berlim não precisa ter natal, mas precisa ter glüwein. Não precisa ter passado. Ela se reinventa a cada obra. A cada demolição. Uma nova Berlim dentro da antiga Berlim. Aquela que ainda é da Prússia. Aquela que tem 23 anos. Aquela que pariu meu nome do meio. E também aquela que está à frente do resto do mundo. Replicante mutante.
Em Berlim, eu teria filhos. E, por isso, quatro anos de ajuda do governo. Em Berlim, tudo seria diferente, aquele me disse um dia. E é verdade. Em Berlim eu sou eu. E basta. Em Berlim eu bebo e não acordo de ressaca. Em Berlim eu dou.
Berlim guarda a desgraça e os mármores da Grécia e também sua salvação nos cofres de Angela Merkel. Em Berlim os metrôs te levam aonde você quer.
E eu quero ir para Neuköll. Para aquele homem de 1,92m, com tatuagem no ombro esquerdo, que joga vídeo game e tem olhos que não decidem a cor. Aquele que só sei o primeiro nome, ou nem isso. Que nunca mais vou ver e que fugi como se fosse meu vizinho.
Eu quero Berlim. Agora. Aqui na Vila Buarque. Quero abrir a janela e sentir o cheio da Alexanderplatz.
Quero ir embora. Quero viver.
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
tempo, ah, o tempo
2005 foi outra vida, ela disse.
1999 a única vida, eu digo.
e o agora, vida. Eu vivo.
Vedder continua cantando pra mim. Eu (ainda) tenho sapatilhas vermelhas (novas) para saltitar por aí. E (de novo) todo dia vou à casa cinza de que fugi por não suportar a dor dos olhos do fotógrafo triste.
Ninguém escreve mais como escrevia. E eu não acentuo mais ideia.
A criança sabedoria já dança balé. A sua menina vai para a escola e passa batom sabor morango (que era meu). O menino que vi nascer chama a mãe de chata.
As universidades na Grécia estão sem aula há 365 dias. E ele ainda me pede para sorrir. Lá da Antiguidade. E eu obedeço.
A pista ainda me surpreende. E eu vou embora com quem eu bem entendo. Porque, dizem, sou dessas.
Tudo mudou. Envelhecemos. Mas tem alguma coisa que nunca muda. E é bom.
Vou ver 2012 nascer numa Berlim fria. E aí, hein Susan Miller?
1999 a única vida, eu digo.
e o agora, vida. Eu vivo.
Vedder continua cantando pra mim. Eu (ainda) tenho sapatilhas vermelhas (novas) para saltitar por aí. E (de novo) todo dia vou à casa cinza de que fugi por não suportar a dor dos olhos do fotógrafo triste.
Ninguém escreve mais como escrevia. E eu não acentuo mais ideia.
A criança sabedoria já dança balé. A sua menina vai para a escola e passa batom sabor morango (que era meu). O menino que vi nascer chama a mãe de chata.
As universidades na Grécia estão sem aula há 365 dias. E ele ainda me pede para sorrir. Lá da Antiguidade. E eu obedeço.
A pista ainda me surpreende. E eu vou embora com quem eu bem entendo. Porque, dizem, sou dessas.
Tudo mudou. Envelhecemos. Mas tem alguma coisa que nunca muda. E é bom.
Vou ver 2012 nascer numa Berlim fria. E aí, hein Susan Miller?
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