quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
Retrospectiva
-Passei calor em NY
-Beijei nua numa sacada ao som do mar e a luz do céu profundo de Copacabana
-Ganhei uma máquina fotográfica de 8.2 megapixels
-Roubaram minha máquina fotográfica de 8.2 megapixels
-Fiz amor
-Fiquei três horas e meia na fila - e na chuva - para ver uma bandinha nova que nem vou lembrar no ano que vem
-Tive dois verões
-Entrevistei o Alexandre Herchcovitch
-Meu nome foi citado no palco do Teatro Municipal (errado, mas foi)
-Fui dançar no palco com os atores de Hair
-Mudei de emprego
-E mudei de emprego
-Coloquei uma fechadura tetra na minha porta
-Fui fotografada pelo Cobrasnake
-Fiquei em oitavo lugar num concurso mundial de blogs de streetstyle
-Fui entrevistada por uma repórter da Ilustrada
-Sai do blog de streetstyle que ajudei a criar
-Trabalhei duro
-Trabalhei pouco
-Viajei
-Morri de medo da turbulência e da serração
-Vi a Filarmônica de NY num Central Park lotado e quente
-Ouvi uma banda de jazz num bar lotado e quente
-Minha amiga casou no meio do SPFW
-Desejei - e peguei - o homem da próxima
-A criança sabedoria nasceu
-Dei banana amassada para a criança sabedoria comer e cuspir
-Meu time é hexacampeão brasileiro
-Pintei as unhas de rosa shocking
-Deixei o cabelo crescer
-Comi mais linhaça
-Tive menos cólica
-Fiz pilates
-Tentei não precisar dele para viver
-E desisti de tentar esquecê-lo (e isso não é uma música do Roberto Carlos)
-Tomei uns 756 cafés (não, não contei. É um número estimado)
-Deletei meu perfil no orkut
-Doei roupas que não vou usar mais
-Comprei uma mesa "de jantar" e dois bancos
-E um curvex e dois hidratantes Victoria´s Secret e um Nike Dunk de oncinha
-Pintei de laranja minha área de seviço
-Fui no show do Interpol com meu irmão
-Usei um vestido da Ju Jabour
-Escrevi textos que me orgulhei - e outros nem tanto
-Fui proibida de escrever para a Vogue
-Escrevi para a Vogue
-Pisei na areia fria
-Uma menina de dois anos e meio pulou e gritou toda a esperança do mundo na minha cama
-Não engordei
-Fiz uma aula de ioga
-Comi pizza e cupcakes da Magnolia Bakery no alto de um prédio em Greenwich Village num entardecer de verão
-Mary Poppins cantou sobre minha cabeça
Superkalifragilistiexpiralidouxous!....feliz 2009!
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Flora e James
-Oi James, tá aqui faz tempo? Desculpe, o fechamento me prendeu na revista.
Ele apenas negou com a cabeça, não disse nada. Ela sentou e pediu um chopp.
Flora e James se conheciam há tempos. Tanto que não precisavam dizer metade das palavras previstas num diálogo normal. Mas ela falava. Muito. E, quando calava, ainda tinha a fama de ser tagarela. Fazer o quê?
Ela era editora de uma revista feminina, dessas que ninguém leva a sério. Mas Flora levava. Ele era videomaker - pelo menos era nesse dia. James mudava muito de idéia. E de mulher. Afê. Como gostava de mulher esse James!
No primeiro copo, amenidades. O tempo, a gripe da filha de James, os prazos de fechamento, os problemas com os jornalistazinhos que as faculdades formam sem preparo, os publicitários que liberam pouca verba - mas têm muito dinheiro, os textos da Carta Capital. Os mesmos assuntos de sempre - desde o século passado. Segundo copo: entra pela porta um affair de Flora. Caso curto, sem muita importância, mas ela faz um comentário irritado sobre a falta de compromisso dele. James filosofa:
-Qualquer pessoa com o mínimo de inteligência sabe que esses namoricos de adolescência não duram muito e sempre, ou na maioria das vezes, acabam com briga. Acabam mal.
-E?
-E, quando acabam, a gente não tem mais contato. Eu mesmo falo com poucas ex-namoradas. Quando a gente gosta mesmo, não quer passar por isso. Então, não precisa estragar um relacionamento legal com um namoro de merda.
-Ah, sei. James, isso não faz sentido.
-Faz sim. Para mim, isso é muito claro. Tem gente que fica para sempre. Você sabe.
Ele aponta para ela com cara de "não é óbvio para você?". Não, para ela não é (nouvelle vague é para meninos e ela, que era menina, só via Almodóvar). Mas a conversa continuou.
James parou de fumar desde que a filha nasceu. E Flora começou desde que virou chefe. Mas só gostava de Gitanes porque eram os mesmos de Camus. E, como a produção foi interrompida em 2005, ela nunca fumou. Eles beberam mais um pouco e foram embora por uma São Paulo fria, mesmo em dezembro. Cada um para sua casa, com a certeza de se verem no dia seguinte. Sem se preocupar se vão se telefonar, sem ter dúvidas de que querem se ver de novo. Eles querem.
Depois de destrancar as cinco fechaduras de casa, ela tirou as botas apertadas e sentou no sofá. Flora sorriu perdida nos pensamentos. No primeiro dia em que se viram, ela estava de jeans, regata e tênis. Ele, de camiseta branca e jeans. E corria num carro prateado. James, Dean, para ela. Eram tão diferentes da dupla que estava sentada num bar escuro nos Jardins! E eram os mesmos. Ela se apaixonou. Ele, se estiver certo nesse raciocínio bizarro, também, mas não sabe. De lá para cá, foram tantos lençóis entre eles - e com eles - tantas músicas, tantos verões e invernos que seria possível escrever um filme, desses com o Ricardo Darín - aliás, Flora achava que O mesmo amor, a mesma chuva, era para ela. Who knows... Ela às vezes sofria. Mas passava. Eles se desencontravam. E se encontravam. Contavam as novidades. E ficavam bem. Um com o outro. Seduziam-se, por hábito. Sem mãos dadas. Sem promessas tolas. Sem perder tempo.
Flora e James não eram um casal. E ela sabia. E calava tranquila. "Ah, esse James!".
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
O que um tal Mick Jagger me ensinou
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Dos olhos verdes que são castanhos
Virgem, 18.12
Danos
Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro 2008.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Gaveteiro
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Epifania
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Táxi, 23h47
A viagem continua. Itambé, esquina com Piauí. Ela diz: "Agora o senhor desce a rua Dona Veridiana, ok? Quando chegar na esquina com a General Jardim, o senhor pode parar um pouquinho, por favor?". Era o destino dos dois rapazes. Ela seguiria por mais dois quarteirões.
Frente do Pão de Açúcar, onde a avenida Higienópolis e a Maria Antônia se misturam. Ele tem duas saídas: fazer o que a menina disse e errar a rua. Ele erra a rua. Ela reclama. Ele diz que é para todo mundo descer, que não vai mais levar ninguém. Porque os três estão nervosos (!!!). Ele aumenta o tom de voz. Eles não. Ela só diz que então não vai pagar. Todos saem do carro. Ele continua reclamando. As portas fecham. Ele continua reclamando. A última frase comprensível do verme: "Vira homem, viado!". O filho da puta vai embora. Os três dão risada.
Vermes....Vermes não deviam falar. Vermes não deviam existir. Ou talvez devessem. Só para a gente não esquecer o quão idiota um ser humano pode ser. Só para a gente não esquecer o quão imbecil é se preocupar com o que o outro faz da vida. Só para a gente não esquecer que falta muito, muito mesmo, para o mundo ser um lugar decente. Para não esquecer que não adianta a minha mãe ter amigos gays e negros e isso sempre ter sido a coisa mais normal do mundo - por que não seria? Não adianta declaração dos direitos humanos, nem lei, nem um monte de gente pelada no Hair. O mundo é cheio de merda. De gente de merda! Assassinos, estampacadores, covardes, preconceituosos. Quando olho para a estrelinha que brilha em cima da minha janela, desejo do fundo do meu coração que vocês todos sejam currados com tanta força, mas com tanta força, que vocês vão é gostar. E vão pedir para serem fodidos o tempo inteiro. Vão sonhar com isso, vão babar no travesseiro enlouquecidos pela solidão de um cú que não é comido. Mas não haverá nenhuma trava para comer vocês. Elas estarão lindas cuidando dos peitos de silicone. Nenhum viado vai querer vocês - eles são homens e vocês, vermes. É incompatível. Vocês, covardes, ficarão urrando pela eternidade. Bando de filho da puta. Virem homens vocês! E vão se fuder.
Pronto. Falei.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
A menina de vidro não quer mais brincar
A menina de vidro só se apaixonou uma vez. Ela tinha 19 anos. Não sabia muito da vida, a menina. Mas reconheceu o amor mais puro do mundo no menino azul. Apaixonada, a menina voou. Sorriu pelas bancas de frutas coloridas e perfumadas a beira da praia. Transparente - ou invisível? - (per)seguiu o menino azul pelas galáxias.
A menina de vidro tentou guardar o menino azul dentro dela. Mas ele era feito de ar e escapava. Ela insistia. Ele corria. Às vezes, ele vinha em brisa e se enrolava nos cabelos da menina. Ela tilintava. E subia aos céus. Mas a tormenta sempre chegava e lá se ia o menino azul. E a menina de vidro caía lá de cima das nuvens. Sozinha. Quebrava no chão amarelo. Seus cacos se espalhavam pelas ruas. Os prédios, refletidos no vidro no corpo da menina, entortavam. E a enxurrada levava a menina para longe do menino. Azul. Aos poucos, ela se colava. Ia juntando cada pedacinho e colando com esperança. De um dia tudo passar, de um dia ele entender, de um dia ser amada também.
Mas não passou. A menina de vidro percebeu que não adiantava. Que o menino azul era mais de fumaça do que de ar. E que ela já tinha gastado todo seu estoque de cola para juntar os pequenos cacos. Ela não podia mais arriscar. Nada de procurar meninos de prata, meninos de barro, meninos de pena. Ela não podia mais arriscar. Mais um tombo, um tropeço, e tudo iria virar pó. A menina de vidro tentou por 10 anos que o menino azul gostasse dela. E não conseguiu. Então, a menina decidiu ser garrafa para ser lançada ao mar. Ou ser lâmpada para apagar. Ela só não queria mais brincar com o menino azul.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Ed Vedder, please, save me!
Once divided...nothing left to subtract...
Some words when spoken...can't be taken back...
Walks on his own...with thoughts he can't help thinking...
Futures above...but in the past hes slow and sinking...
Caught a bolt a lightnin...cursed the day he let it go...
Nothingman...
Isn't it something?
Nothingman...
She once believed...in every story he had to tell...
One day she stiffened...took the other side...
Empty stares...from each corner of a shared prison cell...
One just escapes...ones left inside the well...
And he who forgets...will be destined to remember...oh...oh...oh...
Nothingman...
Isn't it something?
Nothingman...
Oh, she don't want him...
Oh, she wont feed him...after hes flown away...
Oh, into the sun...ah, into the sun...
Burn...burn...
Nothingman...
Isn't it something?
Nothingman...Nothingman...
Coulda been something...
Nothingman...Oh...ohh...ohh...
domingo, 30 de novembro de 2008
Aos anos 90 - a década que acabou
E o mundo acabou mesmo nos anos 2000. msn, gtalk, orkut, myspace, facebook, twitter, blogs, cocaína. Tanta gente se falando e não dizendo nada. Tanta proximidade e tão pouco contato. Basta um google para saber de alguém. O que faz, quem é, quem já pegou, se trepa bem, o que pensa sobre aquele filme. Com tanta informação, tantos prós e contras já contabilizados, para quê arriscar? Para quê se apaixonar? A vida ficou muito chata, seu Bill Gates! I can't get no satisfaction.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Árvore juglandácea que dá a noz
domingo, 16 de novembro de 2008
Oi?
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Quando eu acordei na terça-feira...
Andy Sachs
Para as lentes de um fotógrafo, foi o nome de uma onça que não conseguia se adequar. E, sozinha, ia vivendo. À margem.
Incrível. Mas as pessoas não conseguem dizê-lo. Repetir um nome tão simples, com cinco letras. Três vogais.
Maiara, Mayara, Máira, Mayra, Marília, Marina, Marinara, Maria, Mariana, Marisa, Marajoara - THAT´S NOT MY NAME!
Thank you very much! God save the queen!
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
domingo, 9 de novembro de 2008
And, she founds...
reading me my tarot cards
she don't know anything
but she's beautiful to me
my eyes are opening again
I see you as you're marching in
I'll bring you cover when you're cold
you'll bring me youth when I grow old
do you when remember when you were small
how everybody would seem so tall
I am your shadow in the dark
I have your blood inside my heart
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
4th avenue
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Susan Miller
Ei, vou casar dia 21! E do jeito que a vida está, posso até arriscar: vou casar virgem e tudo!
Quando tudo que foi errado, parece certo
no mesmo texto:
saia curta
calça justa
Praga
Nietzsche
25 anos
chefe...
não sei exatamente em que parte me lembrei de vc. Mas lembrei.
ele diz:
Ah, mas estão muito perdidas no texto, não?
ela diz:
as palavras sim. as lembranças não. o tempo, talvez.
ele diz:
O tempo está perdido?
ela diz:
foi perdido, não?
ele diz:
Não, foi aproveitado.
E ela fica muda.
domingo, 2 de novembro de 2008
Mais um...
-também não vou dar para você porque 1) meu amigo não quer; 2) você é meio bronco, né?; 3) nem tentei! tchau. vou rezar um terço! (se eu soubesse, iria mesmo!)
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Emília no País da Gramática
Assim, "calor" ficaria "calamor".
Acho que devo suspender o molho de tomate da dieta.
domingo, 26 de outubro de 2008
Derrete-me
domingo, 19 de outubro de 2008
Tudo que ela quer é indie rock
You're coming with me
Through the aging, the fearing, the strife
It's the smiling on the package
It's the faces in the sand
It's the thought that moves you upwards
Embracing me with two hands
Right will take you places
Yeah maybe to the beach
When your friends they do come crying
Tell them now your pleasure's set upon slow-release
O que falta é coragem
Ela continua pensando... Agora só falta coragem.
sábado, 18 de outubro de 2008
Sonhos
- Ah é? Por isso que a gente vive.
- Hum?
- No meu tempo diziam que quando a gente sonha com alguém a pessoa vive mais.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
2008: o ano da não trepada
Também não trepei com o Diabo porque ele não conseguiu - e nem sabia que eu estava lá.
Com o penetra do casório da minha amiga, não fiz sexo porque eu estava sem camisinha.
O cinegrafista estava chapado e o espanhol tinha namorada no Parque Güell.
E, pelo jeito, também não vou trepar com você que eu não sei exatamente o que faz. Simplesmente porque você não me enxerga!
Ai, que ódio!
domingo, 12 de outubro de 2008
maçã do amor
Eu que já chovi tantas vezes...
"Vivi meses por conta de maria. Do trabalho rotineiro e de maria. Chegava e já ligava para ela, recebia ordens, ia visitá-la, jantava - raramente ia ao cinema ou ao teatro.
Uma pessoa difícil. Suave e carinhosa por vezes, cruel e sanguinária por outras. Os versos de Carlos a ribombar: 'A chuva me irritava. Até que um dia, descobri que maria é que chovia'.
Sento-me defronte à calçada, aguardo amigos que chegarão. Há tempos não chegava ninguém.
E maria respinga, mas não chove mais." - Ruídos Urbanos, Moacyr Godoy Moreira
Quase memória
São Paulo
Deste lado de cá, a cidade é mais São Paulo. O lugar dos órfãos, das putas, do abandono, do câncer. Do lado de cá, nada de ruas tranquilas e casas de classe média. Nada de 13° salário. Direitos trabalhistas e férias. Só vejo flashes e plumas. Cores que pintam de alegre a tristeza de quem não tem ninguém. Do lado de cá, estão os meninos que se escondiam no banheiro na hora do recreio porque se sabiam diferentes. Travestis e travestidos de sucesso. É aqui que eu respiro a leveza de ser e não ser um sobrenome com duas vogais. Orfã como os filhos de Auschwitz.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
07 de outubro
Um cheiro de dama-da-noite invade a sala. E desejo do fundo de mim o seu ombro para me encostar. Suspiro. E continuo sem pensar nas tristezas dos amores que não acontecem.
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Comunicação on-line
E eu só quero um cappuccino do Starbucks.
terça-feira, 30 de setembro de 2008
domingo, 28 de setembro de 2008
Carta
E aí, tudo bem?
Você sabe que sempre gostei mais da Cinderella. A nega foi corajosa. Faxinou o dia inteiro, mesmo assim, foi para a festa toda linda. Ela te pegou e ainda saiu bem fina - ou seja, príncipe, meu bem, você não comeu a Cindy de primeira, né? Aí, a gente já sabe o resto e blá, blá, blá. Machiiiiiista...
Bom, inspirada na musa com sapatos de cristal - cris-tal! - fui numas festas aí. Muitas. Foi bom e tal - esqueci de ir embora em algumas, mas ok. Carpe diem, dizem...
Só que aí, príncipe, você não estava lá. Do Perequê à Manhattan. Daquelas em que as luzes piscam àquelas onde o piano toca. Em nenhuma delas você deu as caras.
Algumas vezes, me confundi. Pensei que você fosse aquele par de olhos verdes que gosta de reggae - mas nesse caso, posso dizer que não só a carruagem virou abóbora, como perdi o trem para Jaçanã! Teve outro....Hum...E também aquele e hum...aquele que não era aquele...não, ele não...Enfim, sapo eu sei que você não é, né?
Você demorou. E eu estou com uma preguiça danada de continuar chamando a Fada Madrinha para arrumar um vestido novo - os tempos são de recessão, inclusive. E eu não sei o que fazer. Ouvi que a Bela Adormecida vive bem lá no Tibet, como monge budista. Sério, quem aguentaria esperar 100 anos?! O Dalai Lama! E a Branca de Neve está numa comunidade hippie que cultiva alimentos orgânicos. Ela cuida do RP, o príncipe, das finanças, e os anões, da horta, of course. Eles tomam daime uma vez por mês com a Fiona e o Shrek. Herhg! Já a Rapunzel abriu uma clínica de estética em NY e faz muito sucesso com a famosa brazilian wax. A Bela continua chifrando horrores a Fera. Mas ele nem liga - e nem sabe. Dizem também que ele come a Chapéuzinho - apesar dela assumir o lesbianismo, ela ainda sofre com ausência do Lobo-mau e quando a saudade aperta, liga para o Fera e...bom, melhor poupar os detalhes.
E eu, ô encantado do cacete? Até tentei dar uma de Giselle e desembarcar na Times Square. Mas o Patrick Dempsey já estava fazendo outro filme.
E eu estou com preguiça de sair de casa! E falar com as pessoas e procurar por você. Nas fábulas, isso não seria problema. Só que: 1) não tenho uma roca para furar o dedo; 2) minha maçã é do sacolão e não tem veneno; 3) meu cabelo ainda está curto para tranças. Entendeu? Ou você vem com uma placa na cabeça e uma pizza - porque é só com o entregador que eu falo nos fins de semana - ou me manda um telegrama dizendo para eu mudar de história, que você não existe. Ou, melhor, que eu não sou príncesa de ninguém porque fui em outra vida uma torturadora de crianças e poodles num castelo bem escuro da Dinamarca e estou pagando por isso! Aí, posso começar a ler a teoria do Big Bang sobre a possibilidade de criar um universo do NADA!
Ah, meia marguerita, tá? O outro pedaço você escolhe.
Love,
...
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Silêncio
Ela só sorri.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
E para fazer cia. a minha gripe...
Por um pouco mais de duas horas eu fui Gabriel Garcia Márquez.
E por toda minha vida, serei Florentino Ariza.
domingo, 14 de setembro de 2008
Pq queria sua cia.
Do café, do jantar, da sua fumaça. Do seu riso zombando de mim. Da sua tagarelice. Dos seus anseios desencontrados. Das suas verdades de impacto. Da sua vida hardcore zen. Da sua ressaca. Da sua carência - minto de novo, mas tudo bem. Do seu olhar quando quer me seduzir. Da minha falsa resistência a ele...De conversar com alguém que me conhece há (quase) 10 anos.
Pq queria sua cia. Não é só uma verdade numa madrugada de quinta-feira. Ou o som de um novo recado chegando na caixa de mensagens do meu celular.
Companhia. É tudo que sinto falta nesse domingo de céu laranja e gripe.
domingo, 7 de setembro de 2008
29
Quando novas flores nasceram não era primavera. Já era verão. E, em 1999, durou dois anos. Embriagada do amor maior que um coração pode suportar, fui solar. Dourei as paredes de Jerusalém, esparramei meu pranto em Paris e voltei para buscar você numa ladeira. Entraste em mim e eu, então outra, aceitei o homem que não tinha coração. Outonei novamente. E, nas trevas desse corpo de horror, sequei no inverno mais cruel que já se teve notícia. Descobri escombros de mim mesma. Ganhei cicatrizes. Nas chamas de um cabelo vermelho, vi o inferno. E morri. Sem saber. E nem te contei.
Salvo por alguns veranicos, o céu ficou escuro por cem longos anos. Os dias, secos. A vida, rasa. Fui embora para o décimo primeiro andar. Fui buscar o sonho. Sem poder dizer. Como a princesa que cerzia suéteres de urtiga para salvar os irmãos cisnes, calei e trabalhei. Tudo foi silêncio e aquele sorriso que me deste perdido num dia de tristeza e certeza.
Mas as sementes insistem em brotar. Mesmo no asfalto. A chuva de verão em Manhattan fez nascer a primavera em mim. De novo. A primeira flor era branca e chamava Catalunha. As outras eram de um amor ainda sem nome. E não pararam de nascer. Por todos os cantos, as flores me invadem. Pelos poros. Pelos pensamentos.
Na janela, o vento traz um cheiro quente. De chuva nova. Um cheiro quente de noroeste. E, discretamente, vejo o Destino se despedindo de Saturno. É tempo de verão.
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
terça-feira, 19 de agosto de 2008
...
....
É às vezes. Só às vezes. Dá um aperto de saudades do cheiro da cidade insone roída dentro de mim. Sei que está tudo melhor agora. A vida está boa. Mas sinto esse arder sobre as costelas. De súbito. Depois passa.
....
Posso passar pela casa cinza quantas vezes for. Não sinto tristeza. O ciclo fechou.
Post emprestado
"Tuesday, January 18, 2005
Tédio
olhe quem perde tempo com um blog é porque não trepa mais, né...
eita tédio..."
Pois é!
No táxi
- Quando você diz direita, onde é para ir?
- À direita?
(silêncio)
-Desculpa dona, mas é que as mulheres nunca sabem qual é a direita e a esquerda, né?
...?
sábado, 16 de agosto de 2008
Madonna - 50 anos
Nunca levei porrada do Sean Penn. E nem precisa. A alma perdida a que entreguei meu corpo e meu gozo em tardes de ócio azedou-me mais do que um soco na cara. Juntos dos livros que ele me deu, guardei a desilusão do céu cinza de maio. Uma estante cheia que assustou os olhos verdes do homem vestido de Sol. Longe do calor de dezembro, azedei o que me restava fresco. Só consegui poupar o que te pertencia. Hoje, inútil. Hoje, nada. Quase dez anos. E não é você. É maior a dor do desamor...
Aí, vem Madonna. Sussura Like a Virgin e Erotica no meu ouvido. Vítima e dominatrix. Puta e esposa e mãe e mulher. E não sinto mais saudades dos meus vinte anos. Quando ainda eram 19. E não sinto medo de enlouquecer aos 34. Nem do meu útero secar. E vou procurar um pedaço de terra para plantar a flor branca que ganhei antes do táxi amarelo partir. E deixo a vida correr.
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Recado para vc que sempre me chama, mas não me quer
This hurts, but I can't show for the last time you had me
Not Shut up and let me go!
For fear of leaving in regret
I changed this one when we first met
Now oh so easily your over me
Gone is love
It's me that ought to be moving on
You're not adorable
I was something unignorable.
...
For the last time you will kiss my lips
Now Shut up and let me go
Hey!
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
A criança sabedoria e a vida que segue
...
Aqui, o chão não treme. O metrô não aquece e cora a face. Falta-me. Ele que pensa no futuro. Puro, pensa no outro também. Cappuccino do Pax. A grama do Bryant Park. Um quarto apertado em Midtown. Uma sirene que não pára. Um cheiro acre como seus táxis amarelos. Um email escrito em coreano. Thirty thirrrrrrrd street. Os vinte anos que fogem líquidos de mim. Meus. Tempo perdido com um amor de Camille Claudel. Escorrido. Feito mercúrio. Capaz de corroer o ouro. Gold, like my name. Like my body. Corroeu-me.
...
-Te amo mais porque te amo um amor de pai e avô.
- (silêncio) É, eu sei. Também te amo.
A delicadeza é a inteligência de poucos. É o diamante que guardo dentro da alma.
...
O cansaço passou. A tristeza arranjou seu capuz e foi dormir um pouco. O homem azul ainda está falando todo o seu falatório. Eu não escuto mais. Nem sinto. O homem azul fala tanto que nem percebeu que eu saí da mesa para sorrir o riso sem dentes.
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Depois da meia-noite
Agora só falta o oceano para me banhar e uma rede para deitar.
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
O menino que construía prédios e comia o cosmos
O menino que construía prédios não tinha tatuagens. Eram as lembranças subcutâneas que marcavam sem mostrar sua pele. Ele nasceu numa cidade da Catalunha sem praias ou vento. Em volta do lago, somente casas para as famílias de três filhos. Não tinham cachorros. Nem papagaios. Seus olhos cinza viam além das montanhas. E imaginavam colunas geométricas em edifícios lineares. Era de aquário o menino que construía prédios. Da culinária do seu país, nunca experimentou as espumas do chef mais famoso. Preferia o cosmos. Alimentava-se das estrelas, das luzes que nunca se apagam na Broadway e dos prédios que outros homens faziam. Nas palavras de um idioma diferente do seu, matava sua sede.
Um dia, o menino que construía prédios e comia o cosmos conheceu a menina que nada sentia. Entre a 5th e a 6th, viram a lua se encher na praça onde os desfiles de moda acontecem. E pelos ladrilhos iluminados de luar, caminharam juntos. Cruzaram pontes, andaram sob e sobre a terra. Ouviram Beethoven e jazz. Viram um Curinga que já morreu e o prédio onde os sonhos terminam. A menina que nada sentia o ensinou a fazer brigadeiro e caipirinha. E ele respondeu com o doce da vida aos 22 anos e um copo de Long Island Iced Tea. Ela ganhou dele no pebolim e ele ganhou dela na delicadeza.
Eles estavam bem, um com o outro. Quase irmãos, quase amigos, quase amantes. Quase sem angústia, quase sem saudades, quase sem pesar – ou pensar. Mas eles não podiam ficar juntos. O menino que construía prédios precisava voltar para fazer dos terrenos vazios, arranha-céus. E a menina que nada sentia, tinha de continuar seu caminho pelos quatro cantos do mundo. Sem olhar para trás.
A despedida foi terça-feira à noite numa esquina que ela não reconheceria cinco dias depois. Os olhos cinza embriagados dele encheram os dela de lágrimas que ela não sabia o que eram. Assustada, pediu para que ele entrasse logo no táxi amarelo e disse adeus. Num vagão vazio, a menina que nada sentia, pela primeira vez, sentiu a solidão da sujeira e o fedor dos túneis antigos. E viu, ao abrir a mão, que o menino que construía prédios lhe deixara de presente uma flor branca. Pequena e perfumada. Como a esperança.
11:30 a.m, São Paulo, Brasil
domingo, 3 de agosto de 2008
Últimas horas em NY...
sábado, 2 de agosto de 2008
Coruja
Everebody, together:
I don't wanna come back. I don't wanna come back.
I don't wanna come back. I don't wanna come back.
I don't wanna come back. I don't wanna come back.
I don't wanna come back. I don't wanna come back.
I don't wanna come back. I don't wanna come back.
I don't wanna come back. I don't wanna come back.
I don't wanna come back...Se eu repetir com força, será que posso ficar aqui????
Everything is gonna be all right
Sobre meninos e onças
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Is all about jazz
Jazz numa segunda-feira quente. Jazz sobre o metrô que insiste em passar a cada cinco minutos e fazer tremer o chão. Jazz para os homens. Jazz em Greenwich Village.
O menino catalão terminou a carta para a namorada que está do outro lado do oceano tomando sol em parques de Gaudí. Ele tem gtalk, mas vai mandar a carta mesmo assim. É antigo o jovem que aproveita o jazz para escolher as palavras de amor. Ao lado, Paris fechou os olhos para sentir a melodia que não a pertence. O baterista exorcizou no barulho os desencontros e os desamores. Seu rosto contraiu como os corpos quando se comem. E o êxtase veio em ondas de calor.
A menina de cabelos castanhos foi embora com o Escorpião de olhos verdes. Ele ainda não sabe, mas ela tem a palavra Liberté gravada na virilha. E ela nem imagina que jamais desejará ser livre novamente depois dessa segunda-feira. Mas ainda é cedo para tantas revelações. Ainda é julho. O menino da Cataluña guardou o caderno na mochila e pegou o metrô. Paris voltou para casa.
E eu, que sou Deus, continuo me espreguiçando nua sobre o piano que toca sozinho. E, quando o bar fecha, me cubro com o manto da noite e abençôo os corações partidos na madrugada sem fim. Porque é na Bossa Nova que encontro explicação: “A tristeza tem sempre a esperança de um dia não ser mais triste não”.
sábado, 19 de julho de 2008
terça-feira, 15 de julho de 2008
Finlandia, Op.26, n°7 by Sibelius
Foi então que o maestro chinês guiou meus passos pela partitura de Sibelius. Ao primeiro acorde, respirei a música. E expirei saudades. A brisa trouxe seu cheiro. E lembrei do seu jeito de sorrir. Em cada nota, meu corpo encontrou o seu. Enrosquei-me na fantasia de me dissolver em seus braços. Sentir sua pele entre as unhas. E a música foi ganhando mais vigor. Misturar-me ao seu sangue. Azul. Como os lençóis, a garrafa d’água e a luz do Ipod. Meu coração pediu afago. Meus olhos derramaram ternura. O maestro tremeu no palco. E desejei seu sexo. Oito minutos. E tudo voltou ao normal. Você guardado tão puramente dentro de mim que descobri ser impossível te perder. Mesmo quando quero ser de outro.
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Summer rain
Na grama molhada do Bryant Park, dividiu o mesmo chão banhado de chuva com espanhóis e com a italina que grita contente as palavras da vida. O firmamento escureceu. Mais uma noite. E ela finalmente sorriu inteira. In Manhattan.
Quando chove no verão, ela entende. E o mundo faz sentido.
The dark side of the moon
Lost (in translation)
Aos 20, com um amor rasgando o coração e um sonho fincado na alma, partiu. Não foram fáceis os anos seguintes. Jung foi convocado para ajudar. Vestido de mulher, estava sempre acompanhado pelo fiel Tomy. Foi útil por um tempo, depois ela optou pelas salas de cinema, tatuou uma estrela na nuca e continuou andando. Da vez que enlouqueceu, trancou-se em casa. Dormiu cem anos. E quando acordou, continuou andando. Encontrou fadas-madrinhas, dragões e lagartos. Dos leões, ficou amiga para não precisar matá-los todos os dias e, das cobras, aprendeu a fazer o antídoto usando o próprio veneno. Às vezes, ela esquece tudo e finge. Às vezes, se arma. Muitas vezes chora sozinha. Mas ela ainda sabe o que quer. Mesmo que só encontre certeza no azul silencioso do 11º andar ou no sorriso cúmplice do homem que a acompanha. Mesmo sem querer (ou saber).
Hoje, ela está em outra ilha. Mais longe. Tão úmida quanto a sua ilha. Tão quente quanto seu sonho. Uma ilha deserta e cheia de gente. Caminhando de um lado para outro. Falando sozinha. Um arquipélago humano. Homens e Mulheres. Todos ilhados. Cercados deles mesmos por todos os lados. Sem pontes.
E ela.
Sem entender bem as direções, anda por ruas que não têm nomes. Sem entender bem o que dizem e nem imaginar o que sonham, ela mistura idiomas em seus pensamentos. E não chega a lugar nenhum. Mas continua andando.
domingo, 29 de junho de 2008
Simples como um domingo de sol
Ai, ai...
sexta-feira, 27 de junho de 2008
212
hoje é só um papel.
sexta que vem será um destino.
palíndromo. como o fotógrafo que viveu por lá.
Embriagada
quarta-feira, 25 de junho de 2008
confissão
A ilha
De tempos em tempos, elas se reúnem. Cada pedaço de amor se junta ao outro como mercúrio. O tempo gira rápido. Pára. Espera por elas. Suspenso no ar. Elas aproveitam cercadas de magia. Envoltas no calor do aconchego. Relaxam. Ali, no círculo, não têm nomes. São só sílabas. Cada uma do seu jeito. Sem precisar mudar. Sem se armar. Elas bebem, pulam, gritam, cantam, choram, se abraçam e se declaram.
Quem vê a ilha de longe, com seus prédios tortos, não imagina. Mas lá ela é feliz.
terça-feira, 17 de junho de 2008
domingo, 15 de junho de 2008
Posso pedir uma música?
keep holding me down
and I'll be keeping you up tonight
The four letter word got stuck in my head
the dirtiest word that I've ever said
it's making me feel alright
For what it's worth I love you
and what is worse I really do
oh what is worse I'm gonna run run run
'till the sweetness gets to you
and what is worse
I love you!
Hey please baby come back
there'll be no more loving attack
and I'll be keeping it cool tonight...
Bisbilhotices
Não vou
Ele precisa de ajuda para arrumar o acervo. Fotos embaralhadas como seus pensamentos. Amargos. E azedos. Ele precisa de ajuda. Ela - que é loira e alta - vai. Eu não. Eu fico aqui. Buscando minha verdade. Aqui. Sozinha. Na minha solidão e tristeza que ainda pode ser qualquer coisa. Seja lá o que for. Mas, com ele, eu não vou.
Bizarrices infantis
A Barbie não é mais a mesma. Está com uma cara enorme, mais morena e um beiço de botox. Parece a J.Lo. O que aconteceu com a forma dos anos 80? Será que teve um incêndio na fábrica? Não tenho coragem de comprar uma boneca dessas... Credo. Fiquei com medo. O pequeno Poney também sofreu alguma mutação...ficou menor, com cara de criança-minha-mãe-quer-que-eu-seja-modelo.
Credo 2 - a missão: existe um brinquedo que é uma espécie de "banquete das princesas" (ou algo assim). Sabe o que é? Uma bandeja com comida de plástico, talheres etc. Sabe que tipo de comida? Sushi. Hello? Desde quando as princesas lá dos irmãos Grimm ou de Hans Christian Andersen comiam peixe cru? Gente! Alguma criança vai achar que depois de dormir 100 anos a Bela Adormecida vai querer um sashimi?
Mais: existe um McDonalds de brinquedo. Why?? E depois a coitada da criança não pode comer chocolate, sorvete e batata frita. Bom, já cresce esquizóide, né? Na melhor das hipóteses, bulímica!
Mas quer saber o melhor? As crianças na loja só brincavam com bola mesmo. Aquela, b-o-l-a. Que não muda. Que só pode ser redonda. Que todo mundo pode ter. Ufa.
sábado, 14 de junho de 2008
3,4kg e 49 centímetros
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Santo Antônio
Perdi Santo Antônio e os outros Antônios. À meia-noite, não fiz simpatias. O céu tinha uma lua pela metade que me lembrou o sorriso do gato da Alice. Rindo de mim, o céu. E eu, nem liguei.
Antes de fechar os olhos, foi em você, tão bonito no caixa do Starbucks, que pensei. Senti saudades. E um certo amargo no céu da boca pelo querer inocente e incoerente que não vai voltar. É pouco só te querer. As palavras de março racharam você em mim. E acho mesmo é que você me perdeu.
E hoje vou só comemorar o dia de Ogum.
quinta-feira, 12 de junho de 2008
terça-feira, 10 de junho de 2008
Sonhos que não estão na padaria
domingo, 8 de junho de 2008
Dos que se escondem
Não sei mais quando foi que decidi ser visível. Nem como o fiz. Nem se foi um filme, um livro, um pôr-do-sol, o gatilho que explodiu a pólvora em mim. Mas jamais esqueci a sensação de ser só. A parte. Por isso, carrego em mim a tristeza e a esperança de que sempre haverá uma porta, um canto, um escuro, um lugar para voltar, e me trancar. E o tempo passar.
Hoje, reconheço vagando por aí outras tantas crianças solitárias. São os que souberam se reinventar. E, indefectívelmente, são os melhores no que fazem. São as almas que me compreendem. E eu acompanho.
sábado, 7 de junho de 2008
Vazio 317 X 0 Fluminense
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Quando o sol apagou
Queria reclamar com o homem que combina com cachimbos e compartilha uma aliança com ela. Duas mãos esquerdas. Queria obrigá-lo a acendê-la. Mas ele parece só entender de cinzas. Não fala comigo. E a mandou embora. Fechou a porta. Mas ela quis ficar. E ficou. E os dois se arrastam em meio a outros infelizes forjando alegria de pasta de dente.
Chorei porque não vejo solução. E sinto uma certa falta do cheiro de milho verde misturado à brisa da primavera que tudo leva da alma. Senti saudades da adolescência que tudo faz ser possível. E me calei.
terça-feira, 3 de junho de 2008
des-conhecidos
Nunca gostei de bichos.
Sonhava era com os tules das saias das bailarinas, com as múmias do Egito, com a inteligência dos golfinhos e, depois, juntei tudo e fui ser jornalista. De moda, para não perder os tules.
Mas não insisto. Conhece-me apenas quem eu deixo. C´est la vie.
Crianças
- não, é garoa.
seis segundos e meio depois:
- tá chovendo?
- não, é garoa. quando a chuva é assim mais fraca chama garoa. Ga-ro-a!
(silêncio)
- tá chovendo, né pai?
segunda-feira, 2 de junho de 2008
Ainda luto
(roubado do blog da Maria Prata)
domingo, 1 de junho de 2008
sexta-feira, 30 de maio de 2008
pensamentos...
Tenho mais medo do eco de seus passos em terras fluminenses do que dos passos em si. E não posso esperar.
E qual é a explicação para eu ter encaixado você tão dentro da minha vida se não te quero mais? Sinto um sufocamento.
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Ainda sobre ecos
Quando a dor acorda
Até que vem a chuva. E a tormenta agita o mar que sacode a dor. Ela bate a cabeça na grade fria. Ecoa o vazio de dentro da alma e sangra. Quando a dor escorre, ela se lembra. E cresce. Acordada, as grades não são nada. A dor ultrapassa o ferro. Rompe o cadeado. Assume o comando e iça as velas. A dor navega nas águas de Vasco da Gama. Nada diminui a dor. Nem os dias de sol. Ela se perde, mas não recua. Ela precisa se espalhar. Deixar descendentes. Pára nos portos sujos e se enlaça às mulheres que se despedem dos amantes. Enrosca-se no pescoço dos marinheiros que não carregam lembranças e fecunda as mães de um único amor. Não há como escapar. Os navios são idênticos. Quando a dor está acordada, são silenciosos de tristeza e, quando dormindo, de medo. Não há como saber de longe.
Você é a dor que navega pelas minhas artérias. Oscilando entre fervura e água fria. Me amando e me expulsando. Me ganhando e me perdendo - mesmo que esteja tão dentro de mim que eu precisaria nascer outra para, talvez, não ser você.
Durma em mim, por favor.
quarta-feira, 28 de maio de 2008
a felicidade é...
2) ver a água saindo dos buraquinhos dos tatuís nas areias cinzas de minha terra.
3) o cheiro do Fahrenheit exalando de um menino bonito de 17 anos.
Não necessariamente nesta ordem.
A moça
Já a moça de olhos claros e rosto redondo da avó chinesa se despedaça. Como seus progenitores. O pai foi um menino abandonado num colégio interno na Europa pelo avô diplomata e pela avó oriental. A mãe foi embora com um moço chamado câncer que, quando invade o corpo, o leva para longe. E a moça de rosto redondo sofre diferente. Se rasga. E repete a ladainha que carrega no DNA. Solidão em estado bruto.
Ela se sente sozinha. A gente também. Ela liga para a psicanalista. Compra sanduíche no McDonald´s para o menino de rua. Não dorme e não come. Sofre aos olhos de todos. E eu não sei o que dizer.
De repente, surge em minha frente uma mesa redonda de madeira pintada de branco. Uma copa em que os azulejos nunca mudam. O agudo da minha tia ecoando por todos os cômodos do sobrado de tijolos. A mão de meu avô pesando tranquila sobre a minha. Os olhos difíceis de meu pai a me fitar com um orgulho comunista e o braço esticado de meu irmão pedindo o refrigerante de dois litros.
E fico mais silenciosa. Mais invisível. Não tenho mesmo nada a dizer. E, por um instante, parece que nada sei sobre a solidão. E agradeço aos céus.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Ciranda
Ela, depois de ver o filme, sentiu saudades daquele. De verdade.
E aquele nada sente. Porque não é Big como ela quer, é Mersault.
Então, ela chega em silêncio e ouve Morphine. Presente daquele. Em um junho ou setembro. Para aliviar a dor dela. Um anjo vermelho. Que pode ser só dor. Que aquele compreende. E se cala. E se farta. Em um 23 de outubro qualquer perdido entre as palavras de Ricardo Darín.
E ele esquece que ela é dele de verdade. E que são só quatro quadras e ele mesmo que os separam.
Quando eu quis ser um filme
Estava tudo lá: a Cinderela, a Louis Vuitton, uma menina que nasce, um fotógrafo, a revista, um casamento, o Gansevoort, as amigas, um vestido numa caixa, Mr. Big, um livro de cartas, um pouco de poesia cafona, Manhattan, a tristeza num dia frio, um desfile de moda, o sexo, o amor...e o final feliz.
Tudo numa tela. Tudo de faz de conta. E tão de verdade.
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Reviravolta de Saturno
E des-esperar. Agora...
TPM sem mau-humor? Acordar sem reclamar? Vontade de comer salmão e arroz integral - mas sem dispensar, ou renegar, o Big Mac de ontem? Não esperar que o telefone toque? Que ele apareça? Que ele me ame? Que me aprovem? E, afinal, quem é ele mesmo? Uma faxina social? Saber com quem passar e dividir o tempo? Respirar? Um vestido bonito no armário? Um curvex no banheiro? Uma criança a nascer? Um casamento para ir? Uma janela para abrir? Um verão em Nova York? Não chorar?
Então, é isso? Aconteceu?
É só isso?
sexta-feira, 16 de maio de 2008
Estrela
quarta-feira, 14 de maio de 2008
NYC
E eu quis de verdade ser a Carrie Bradshaw!
terça-feira, 13 de maio de 2008
Diálogo de vô e vó
Vó diz: É.
Eu, na pia lavando um copo, digo: Não é bem no jornal, é num site.
Vô diz: Ah, ela disse que é um site, ouviu?
Vó diz: E eu lá sei o que é um site?
E quem se importa? Amam-me tanto esses dois que não precisam entender nada. Porque basta isso para eu saber que tenho tudo.
domingo, 11 de maio de 2008
Bola de cristal
Inconsequentemente vão se servir. Um do outro. Um sexo triste e vazio. Talvez até gozem na ignorância dos corpos que não desconfiam - ou não aprenderam - que a lealdade é mais importante que a fidelidade. Eu já sei de tudo.
Eu vou me cerrar no quarto ao som do mar de Copacabana. Vou vomitar. Sofrer. Chorar até perder a respiração e o diafragma contorcer de tristeza. Vou dormir exausta. Como tantas vezes já fiz. Até em Avaré.
No dia seguinte não me verão no café da manhã. Sairei cedo e andarei apressada na areia. Meus óculos escuros vão esconder minhas lágrimas das personagens do Manoel Carlos que passeiam por ali. Do ponto mais alto do Arpoador vou me reinventar. Redesenhar minha vida. Sofrer mais um pouco. Desejar que morram sufocados por essa libido que não tem fim. E vou mergulhar no mar. Eu já sei de tudo.
O sal acordará o que há de cruel em mim. E, aos poucos, com delicadeza, vou esmagar um por um. E até sei como. Porque eu já sei de tudo.
87
Deixe um recado após o sinal...piiiiiiiiii
sábado, 10 de maio de 2008
A menina que não tinha sonhos
Ela não sonhava. Nunca. Nem dormia. E, de tanto passar as noites em claro, ganhou seu segundo nome: Clara. Logo, Ana Clara. A menina que não tinha sonhos só conhecia o presente e o passado. Café da manhã, almoço, jantar. Leite quente com mel e biscoitos de polvinho às 4h30. Para esperar o Sol nascer sem a barriga roncar. Escovar os dentes antes das refeições, lavar as mãos após fazer xixi, não misturar queijo com carne. Olhar antes pelo olho mágico para abrir a porta e para os dois lados da rua antes de atravessar.
O médico da família explicou que os pais, Dias e Lilith, desenvolveram juntos um novo tipo de cromossomo, que excluía a necessidade do sono e do sonho para a sobrevivência da espécie. Dr. Araújo quis vender em ampolas a nova célula - ficaria milionário. Era a cura para a frustração: sem sonhos irrealizáveis, sem tristezas. A humanidade estaria salva do mal do século. Mas o casal se recusou. Conhecedora do lado negro da alma, dos pecados e da morte, Lilith queria que a filha levasse uma vida normal. E que a população enfrentasse individualmente seus temores. Assim, mudaram-se para uma casa branca com jardim muito florido a porta e decidiram se revezar na criação de Ana Clara.
Dias, o pai, cuidava da menina que não tinha sonhos enquanto o Sol iluminasse o firmamento. Levava à escola, ao dentista, à natação e a ensinava como andar de bicicleta. À noite, Lilith, a mãe, cobrava a lição de casa, lia a história do mundo e contava os segredos do vento para Ana Clara. Sempre às 6h - único horário em que ambos estavam acordados -, Dias e Lilith comiam panquecas com melado e tomavam chá de flor de liz. E conversavam. Falavam de seus sonhos. Dias passeava por caminhos de tijolos de ouro, conversava com dragões, escalava montanhas mágicas e voava nas asas de borboletas. Lilith sonhava com Paris, com o ar-condicionado do carro, com uma máquina de lavar nova e que, um dia, Ana Clara pudesse sonhar também. Mas a menina permanecia alheia. De olhos bem abertos e coração vazio.
Até o dia em que fez um passeio ao campo com a escola. Entre vacas, porcos, galinhas e milhões de crianças gritando excitadas, Ana Clara viu Diamante. Um corcel. Digno. Negro como a mãe e forte como o pai.
A menina que não tinha sonhos passou mal. Vomitou no pequeno All Star cor-de-rosa e teve que voltar para casa mais cedo. Ardendo em febre, desacordou. E, já nos braços de Lilith, alucinou. Em frases desconexas, falou em cavalgar (sem putarias porque isso é um texto sério para crianças) livremente pela Champs-Élysées de paralelepípedos dourados. Emocionados, o pai e a mãe se olharam. Reconheceram, enfim, outro gene até então latente, a mistura dos sonhos dos dois em Ana Clara. E entenderam que, ao invés de se dividirem para cuidar da menina que não tinha sonhos, deveriam se unir. Ela logo ficou boa. Demorou um pouco para entender o que era dormir. Detestava a cara amassada pelo lençol e o gosto na boca ao se levantar pela manhã. Mas não reclamou. Passou a se alimentar melhor e a conversar mais na escola. Nos desenhos que fazia já se imaginava de médica ou bailarina. Sonhava. E com o futuro.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Das vezes em que tudo correu bem
Is a map of the world
You can see she's a beautiful girl
She's a beautiful girl
And everything around her is a silver pool of light
The people who surround her feel the benefit of it
It makes you calm
She holds you captivated in her palm
Suddenly I see
This is what I wanna be
Suddenly I see
Why the hell it means so much to me
Suddenly I see
This is what I wanna be
Suddenly I see
Why the hell it means so much to me..."
quinta-feira, 8 de maio de 2008
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Um degrau acima
E nunca, nunca mesmo, tive medo de andar. Há momentos de pausa. Apenas momentâneos. Os passos são sangüíneos. Certos e fortes. Para frente e para cima. De botas cowboy, plataformas ou All Star. Sem olhar para trás. Na minha frente só a onça que tenho numa foto tatuada em meu peito. Com meu nome. Brincando na água. Desafiando o mundo.
É disso que me alimento. É disso que entendo. É isso que me traz o destino e me une ao presente.
segunda-feira, 5 de maio de 2008
domingo, 4 de maio de 2008
Super-herói
That´s my hero.
Sábado, feriado
ergh!
terça-feira, 29 de abril de 2008
Então, Eva mordeu a maçã...
"...Other cities always make me mad
Other places always make me sad
No other city ever made me glad
Except New York
I love New York
I love New York
I love New York
New York is not for little pussies who scream
If you can't stand the heat, then get off my street..."
segunda-feira, 28 de abril de 2008
Nos domingos ensolarados...
Mas, ok. Já passou.
Mais estranho que a ficção
Eu falei numa noite e nem lembrava:
É isso aí.
domingo, 27 de abril de 2008
O menino que comia livros
Começou cedo. Logo que desmamou das tetas fartas da mãe enxaqueca, devorou o primeiro conto de fadas que ouvira falar. Era a história do Isqueiro Mágico, de Hans Christian Andersen. Ele só comeu as páginas escritas. Deixou as ilustrações penduradas na parede como um caçador deixaria as cabeças dos servos que capturou na floresta. E apreciou a cena do cadeirão de madeira logo após tomar o suco de laranja lima que a mãe enxaqueca havia espremido com tanta reclamação.
O menino crescia forte. A base de literatura. Cansado do sabor adocicado das fábulas, experimentou a literatura clássica. Moby Dick o alimentara por uma semana. E Robson Crusoé abrira ainda mais o apetite do menino que comia livros.
Aos sete anos, já havia esvaziado boa parte da estante do pai felicidade. Que nem ligava. Só sorria. Achava engraçado não precisar gastar na feira com alimentos frescos para seu rebento. A estante satisfazia - e alimentava - o menino que comia livros.
Na escola, sentia vergonha. Os olhares dos amigos o censurava. No recreio, comia escondido as páginas recicladas do dicionário de capa dura. Cada dia uma letra. E lá se foram mais de quinze dicionários. Quando engordou um pouco, o pai felicidade precisou comprar versões menores. E o menino que comia livros ganhou uma lancheira de lata para guardar os mini-dicionários.
Enquanto isso, a mãe enxaqueca corria contra a fome do filho para ler todos os livros do mundo. Eram muitos todos os livros do mundo, mas ela sabia que era só uma questão de tempo até que o menino que comia livros devorasse tudo. Seu filho ia crescendo e seu apetite acompanhava o ritmo acelerado da adolescência.
Um dia, numa livraria – chamada de padaria pelo menino - entre uma estante com os livros amargos de Camus e os salgados de Jorge Amado, o menino que comia livros viu uma cabeleira ruiva. Era pequena a menina ferrugem e, com a facilidade que só as pequeninas têm, lambia alegremente as capas de cada publicação que encontrava. Sua face mudava de acordo com o gosto, como se estivesse numa sorveteria de sabores infinitos. Ao terminar de passar a língua delicadamente sobre a Antologia Poética de Vinicius de Moraes, de repente, não mais que de repente, os olhos dos dois se cruzaram. Estarrecidos. Assustados. Deslumbrados. Ela, num misto de medo e surpresa, devolveu o livro à prateleira. Sem movimentos bruscos. Ele sorriu. Ela, aliviada, relaxou os ombros e sorriu de volta.
- oi, sou o menino que come livros. Meu nome é Pedro.
- e eu sou Isabela. A menina ferrugem.
Encostaram as mãos singelamente. Primeiro um dedo, depois outro. Até o braço todo. Lado a lado. E começaram a conversar. De sabores. Ambos sabiam que as tristezas, quando salgadas, já foram felicidade. Mas quando amargas, foram só decepção. A saudade só era doce para as crianças e os velhos. Para os adultos, azeda. E o amor? O amor era tutti-frutti. Um sabor inventado. Misturado. Sonhado.
Perto da seção de Culinária Portuguesa, beijaram-se devagar. “Comeste Saramago?”, perguntou Isabela. Ele acenou com a cabeça confirmando que sim. “Eu lambi O Primo Basílio”, ela confessou com o rosto enrubescido e um olhar maroto. “Eu sei”, disse malicioso.
Depois do beijo, ficou combinado que o menino que comia livros encontraria a menina ferrugem todos os dias entre as prateleiras daquela livraria. Sempre no mesmo horário.
Ela foi para casa com o sabor de toda a literatura do menino Pedro entre os lábios. Ele, de olhos fechados, sentia o doce gosto de Isabela espalhado por todo céu da boca.
Em casa, o menino que comia livros preferiu a macarronada da mãe enxaqueca, talvez só aquela noite. Quem sabe...E a menina ferrugem pediu sorvete de flocos para sobremesa. O dia seguinte seria de sabores suficientemente instigantes. Era melhor não atrapalhar o paladar.
E, assim, a mãe enxaqueca conseguiu ter só para si a estante do pai felicidade. E todos viveram felizes para sempre.
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Alimento onírico
Porque é de sonho que se faz o chão, as paredes e o teto das pessoas de bem. A felicidade consiste em ter o inatingível. Em aguardar. Nos olhos que brilham com o inesperado que se espera.
Há quem sonhe com um dia, com um lugar, com outra vida. Há quem transforme os sonhos em objetivos. Ah, como esses se perdem pelas vias da realidade....
E tudo que quero agora é ter menos o que fazer. E mais o que sonhar.
terça-feira, 22 de abril de 2008
O que me diz o envelope dourado
De branco, na profissão e no pessoal, é só uma vida. Feliz. Sem arroubos. Ela quer voltar para a cidade dos canais. Ele quer mais. E se equilibram. Ela fogo. Ele terra. Ela cuidando de crianças. Ele, dos mais velhos.
Por ela, não vou ver desfile nenhum. Nem viajar antes do grande dia. Ficarei aqui. Preocupada com chás, panelas e fraldas - porque tem a criança que vai nascer no mesmo dia do casório. E nem sabe ainda. Vou com um vestido bem bonito. Com maquiagem discreta. E esmalte clarinho. Vou chorar durante a marcha nupcial e não poderei olhar para nenhuma das outras cinco dancing queens. Não preciso. Chegamos. Cada uma ao seu destino. Com filho no colo, o porto seguro de todas, tatuada por seu amor na virilha. Eu e a noiva. Elas que me resgatam desde os quatorze anos das minhas dores. E rimos. E andamos abraçadas e saltitantes depois de algumas cervejas. E tiramos fotos. Ela vai para a Disney na lua de mel porque é seu sonho. Um sonho simples. Um belo sonho.
E eu vou só brindar a vida. À nossa! E aos sonhos.
quarta-feira, 16 de abril de 2008
domingo, 13 de abril de 2008
"Tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com minha dor"
sexta-feira, 11 de abril de 2008
quinta-feira, 10 de abril de 2008
Pântano da tristeza
Receita de homem
Se ele existe? Claro que não. És burra, minha filha?
Prioridades
O resto que se foda.
terça-feira, 8 de abril de 2008
O outro lado
De L.B., 07 de abril de 2008
O menino que nunca sofria vinha de um dinastia rica de sultões europeus. Nunca se soube que havia sultões na Europa, mas a família do menino que nunca sofria empinava o nariz e arrastava o sobrenome composto por hortas com toda a variedade de plantas. O pai do menino que nunca sofria era um homem rico e bom. Só não gostava que os animais invadissem sua horta. No passado, tinha matado um javali na frente de seus 318 filhos.
O javali era a criatura preferida do menino que nunca sofria, mas nem assim ele sofreu. Não correu para o jardim, nem chorou. Apenas tapou os olhos da mais nova, a menina-mais-simples-do-mundo. Um dia, quando um de seus 57 irmãos mais velhos lhe mostrou uma carta, em que contava em detalhes o assassinato do javali, ele rasgou a missiva em pedacinhos. E disse que não queria ouvir falar daquela história. E não sofreu. Nunca mais nos arredores da horta se falou na história do javali, que chamava Flor.
O menino que nunca sofria não guardava as histórias que não gostava, como a gente faz. Quando completou a maioridade subiu em um cometa e foi morar só na cidade que tinha ventiladores nas praças. Seu telefone tocava, como tocam os telefones daqueles que moram só e têm sorte. Mas ele não atendia. O menino que nunca sofria não atendia aos problemas. E não sofria.
Até o dia em conheceu a oriental. A menina dos olhos puxados enlouqueceu sua cabeça tão certa. E ele viveu, pela primeira e única vez, uma paixão. Paixão não combinava com ele porque rasga a gente por dentro. Rasgou-se todo, o menino. Sentia umas dores esquisitas, uma angústia sufocante, mas não soube reconhecer sofrimento. Descontente com o que não compreendia, fez uma cirurgia plástica.
Quando voltou do hospital, o menino que nunca sofria decidiu expulsar a oriental de sua vida, que paixão não era para ele. E não conseguia lidar com os órgãos internos se rasgando a cada toque. Paixão rasga a gente. Paixão machuca...continua em http://www.cilana.blogspot.com/
A menina oriental
Para L.B.
A menina oriental nunca via o Sol se pôr. Só conhecia o nascente. Estava fadada a adormecer enquanto o firmamento ainda estava azul claro como um quarto infantil. Sua mãe, uma gueixa apaixonada por um dragão, a acordava quando o dia ainda estava escuro – e, talvez, nem fosse um dia propriamente dito, apenas uma nova data no calendário. Juntas, ferviam a água para o chá e comiam biscoitos. A menina ajudava a mãe a se maquiar e a apertar as inúmeras camadas de tecido do quimono lilás com bordados laranja. Aos primeiros raios de sol, caminhavam com passos curtos até a porta para ver o sol nascer. E, muito antes do entardecer, as duas desfaziam cada etapa, como se voltassem a fita do dia. Para nunca envelhecer.
Na casa de bambu e sem móveis, não havia homem algum que entrasse. A mãe da menina sempre fora fiel ao dragão que só a visitava de doze em doze anos. Apenas uma vez o traiu. Era um verão tumultuado por guerras e disputas de território. Um samurai de rosto pintando de tinta vermelha e olhos oblíquos ofereceu flores brancas e um ombro quente para que ela recostasse a cabeça à noite. E ela, em troca, entregou o corpo e os truques que só uma boa gueixa conhece. Ele se refestelou, jurou amor eterno durante o gozo mais intenso que já teve e partiu. Como quem tem um vôo marcado para Viena às seis e quinze da manhã. E a menina oriental nasceu nove meses depois enquanto o sol despontava no horizonte.
Aos quinze anos, a menina de olhos puxados conhecera o menino que nunca sofria. Apaixonaram-se. Ela era como um raio de sol. Viva. Ele, calado. E acostumado a viajar em cometas. Mas falava enquanto dormia e não sabia. A menina oriental descobriu durante as noites em claro uma saudade que ele sentia de um javali, de um sultão e sobre hortas. Mas o que mais a impressionava era que, ao esperar que ele adormecesse, descobrira que o sol se punha. E enlouqueceu com a escuridão. E se fascinou com a lua. Ele, que acordado nunca sofria, não entendia como os olhos solares de sua amada transformaram-se em luas. Quatro fases em uma única menina oriental. Cíclica.
Ambos rasgaram-se em silêncio. Angustiaram-se. Ele não entendeu e partiu(-se). Ela entendeu. E calou. Repartida.
Ele sem saber, esqueceu-se dela e não sofreu. Porque nunca sofria. Ela que, mesmo quando em lua minguante sabia que logo mais o sol nasceria de novo, enxugou as lágrimas e trocou o quimono por calças jeans. E voltara a acordar muito cedo para não precisar acompanhar o entardecer.
Mas, eu sei, de vez em quando, ainda finge que dorme. E encolhida no tatame entre os origamis de cisnes, olha para as estrelas procurando um cometa com o menino que nunca sofria. E torce para ele voltar. Como se ele fosse um dragão e ela, apenas uma gueixa.