A criança dormiu aconchegada no capuz de crochê que jamais fará parte da vida real. É mágico o sono infantil. Enquanto cabe no colo de uma mulher pequena, não pesa. Nem a vida. Acordada, a criança sabedoria sorri uma boca sem dentes. O espaço da vida que não se sabe viva. Ou sabe mais do que todos. E não conta para ninguém.
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Aqui, o chão não treme. O metrô não aquece e cora a face. Falta-me. Ele que pensa no futuro. Puro, pensa no outro também. Cappuccino do Pax. A grama do Bryant Park. Um quarto apertado em Midtown. Uma sirene que não pára. Um cheiro acre como seus táxis amarelos. Um email escrito em coreano. Thirty thirrrrrrrd street. Os vinte anos que fogem líquidos de mim. Meus. Tempo perdido com um amor de Camille Claudel. Escorrido. Feito mercúrio. Capaz de corroer o ouro. Gold, like my name. Like my body. Corroeu-me.
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-Te amo mais porque te amo um amor de pai e avô.
- (silêncio) É, eu sei. Também te amo.
A delicadeza é a inteligência de poucos. É o diamante que guardo dentro da alma.
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O cansaço passou. A tristeza arranjou seu capuz e foi dormir um pouco. O homem azul ainda está falando todo o seu falatório. Eu não escuto mais. Nem sinto. O homem azul fala tanto que nem percebeu que eu saí da mesa para sorrir o riso sem dentes.
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
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