terça-feira, 19 de agosto de 2008

...

Entrei no gtalk tarde da noite na esperança de falar um pouco contigo. As pessoas não tem insônia na Catalunha, né? E você está na Escócia. Não sei se alguém vai ter coragem de te dizer que não é com Coca-Cola que se bebe uísque. Eu te expliquei, lembra? Mas você, tão menino, só sorriu. Hoje eu queria ver o Chrysler iluminado. Correr do perigo no Central Park. E te dizer: "O Brasil perdeu da Argentina, você viu?". Seu Barcelona não está batendo o bolão na minha seleção. E você me diria compenetrado no seu guia de viagens: "No". Eu preciso lavar o cabelo e decidir o que jantar, mas queria mesmo era passar uma noite sem muita coisa para fazer. Só ir por aí. Comer uma pizza. Sentir o calor derreter meu rímel. Beber a vida. Acordar cedo no dia seguinte para ir à aula. Feito adolescente, mas sozinha não tem graça.
....
É às vezes. Só às vezes. Dá um aperto de saudades do cheiro da cidade insone roída dentro de mim. Sei que está tudo melhor agora. A vida está boa. Mas sinto esse arder sobre as costelas. De súbito. Depois passa.
....
Posso passar pela casa cinza quantas vezes for. Não sinto tristeza. O ciclo fechou.

Post emprestado

Ou melhor, roubado do Vodca Barata, com todo respeito que tenho pela amiga Ivi.

"Tuesday, January 18, 2005
Tédio
olhe quem perde tempo com um blog é porque não trepa mais, né...

eita tédio..."

Pois é!

No táxi

- Agora você vira à direita.
- Quando você diz direita, onde é para ir?
- À direita?

(silêncio)

-Desculpa dona, mas é que as mulheres nunca sabem qual é a direita e a esquerda, né?

...?

sábado, 16 de agosto de 2008

Madonna - 50 anos

Eu vou comemorar.

Nunca levei porrada do Sean Penn. E nem precisa. A alma perdida a que entreguei meu corpo e meu gozo em tardes de ócio azedou-me mais do que um soco na cara. Juntos dos livros que ele me deu, guardei a desilusão do céu cinza de maio. Uma estante cheia que assustou os olhos verdes do homem vestido de Sol. Longe do calor de dezembro, azedei o que me restava fresco. Só consegui poupar o que te pertencia. Hoje, inútil. Hoje, nada. Quase dez anos. E não é você. É maior a dor do desamor...

Aí, vem Madonna. Sussura Like a Virgin e Erotica no meu ouvido. Vítima e dominatrix. Puta e esposa e mãe e mulher. E não sinto mais saudades dos meus vinte anos. Quando ainda eram 19. E não sinto medo de enlouquecer aos 34. Nem do meu útero secar. E vou procurar um pedaço de terra para plantar a flor branca que ganhei antes do táxi amarelo partir. E deixo a vida correr.

Emails...


... chegam do outro lado do Atlântico dizendo I MISS U.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Recado para vc que sempre me chama, mas não me quer

Shut up and let me go
This hurts, but I can't show for the last time you had me
Not Shut up and let me go!
For fear of leaving in regret
I changed this one when we first met
Now oh so easily your over me
Gone is love
It's me that ought to be moving on
You're not adorable
I was something unignorable.
...
For the last time you will kiss my lips
Now Shut up and let me go
Hey!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Minha alma jorra...


...como um hidrante em um dia de verão.

A criança sabedoria e a vida que segue

A criança dormiu aconchegada no capuz de crochê que jamais fará parte da vida real. É mágico o sono infantil. Enquanto cabe no colo de uma mulher pequena, não pesa. Nem a vida. Acordada, a criança sabedoria sorri uma boca sem dentes. O espaço da vida que não se sabe viva. Ou sabe mais do que todos. E não conta para ninguém.
...

Aqui, o chão não treme. O metrô não aquece e cora a face. Falta-me. Ele que pensa no futuro. Puro, pensa no outro também. Cappuccino do Pax. A grama do Bryant Park. Um quarto apertado em Midtown. Uma sirene que não pára. Um cheiro acre como seus táxis amarelos. Um email escrito em coreano. Thirty thirrrrrrrd street. Os vinte anos que fogem líquidos de mim. Meus. Tempo perdido com um amor de Camille Claudel. Escorrido. Feito mercúrio. Capaz de corroer o ouro. Gold, like my name. Like my body. Corroeu-me.
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-Te amo mais porque te amo um amor de pai e avô.
- (silêncio) É, eu sei. Também te amo.
A delicadeza é a inteligência de poucos. É o diamante que guardo dentro da alma.
...

O cansaço passou. A tristeza arranjou seu capuz e foi dormir um pouco. O homem azul ainda está falando todo o seu falatório. Eu não escuto mais. Nem sinto. O homem azul fala tanto que nem percebeu que eu saí da mesa para sorrir o riso sem dentes.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Depois da meia-noite

A lua sorri safada na minha janela. A noite está tão escura que me pergunto se estou mesmo acordada. Ou se ainda é jet lag. Quero mudar o sofá de lugar e comprar um puff na Vila Madalena. Preciso também arrumar vasinhos para a horta. E a tigela para o leite do gato. Na minha terra tem laranja, abacaxi e, muito melhor do que a grapefruit de lá, tem também maracujá. Almocei arroz, feijão, farofa e bife acebolado como se fosse caviar. A rima é pobre, mas tudo bem. Não é hora de ser rica. Vou encher a casa de perfumes e amigos. Encher a vida de vida. Para simplesmente só viver.

Agora só falta o oceano para me banhar e uma rede para deitar.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O menino que construía prédios e comia o cosmos

Contos de Fadas para a Criança Sabedoria - IV

O menino que construía prédios não tinha tatuagens. Eram as lembranças subcutâneas que marcavam sem mostrar sua pele. Ele nasceu numa cidade da Catalunha sem praias ou vento. Em volta do lago, somente casas para as famílias de três filhos. Não tinham cachorros. Nem papagaios. Seus olhos cinza viam além das montanhas. E imaginavam colunas geométricas em edifícios lineares. Era de aquário o menino que construía prédios. Da culinária do seu país, nunca experimentou as espumas do chef mais famoso. Preferia o cosmos. Alimentava-se das estrelas, das luzes que nunca se apagam na Broadway e dos prédios que outros homens faziam. Nas palavras de um idioma diferente do seu, matava sua sede.

Um dia, o menino que construía prédios e comia o cosmos conheceu a menina que nada sentia. Entre a 5th e a 6th, viram a lua se encher na praça onde os desfiles de moda acontecem. E pelos ladrilhos iluminados de luar, caminharam juntos. Cruzaram pontes, andaram sob e sobre a terra. Ouviram Beethoven e jazz. Viram um Curinga que já morreu e o prédio onde os sonhos terminam. A menina que nada sentia o ensinou a fazer brigadeiro e caipirinha. E ele respondeu com o doce da vida aos 22 anos e um copo de Long Island Iced Tea. Ela ganhou dele no pebolim e ele ganhou dela na delicadeza.

Eles estavam bem, um com o outro. Quase irmãos, quase amigos, quase amantes. Quase sem angústia, quase sem saudades, quase sem pesar – ou pensar. Mas eles não podiam ficar juntos. O menino que construía prédios precisava voltar para fazer dos terrenos vazios, arranha-céus. E a menina que nada sentia, tinha de continuar seu caminho pelos quatro cantos do mundo. Sem olhar para trás.

A despedida foi terça-feira à noite numa esquina que ela não reconheceria cinco dias depois. Os olhos cinza embriagados dele encheram os dela de lágrimas que ela não sabia o que eram. Assustada, pediu para que ele entrasse logo no táxi amarelo e disse adeus. Num vagão vazio, a menina que nada sentia, pela primeira vez, sentiu a solidão da sujeira e o fedor dos túneis antigos. E viu, ao abrir a mão, que o menino que construía prédios lhe deixara de presente uma flor branca. Pequena e perfumada. Como a esperança.

11:30 a.m, São Paulo, Brasil

Na TV, super-heróis japoneses falando português. Do lado de fora da janela de vidro suja, passarinhos. Dentro de mim, toda a ausência do barulho da cidade que não dorme. E meus olhos não fecham.

domingo, 3 de agosto de 2008

Últimas horas em NY...

E podia ser só um pôr-do-sol no JFK e milhões de conclusões na minha cabeça . Mas o bando de adolescentes brasileiros fazem tanto barulho que não consigo nem ouvir meus pensamentos.

sábado, 2 de agosto de 2008

Coruja

Tenho medo de dormir. E o sábado acabar. E já ser o dia de arrumar as malas. E ir para o aeroporto. E fazer check-out e check-in. E entrar no táxi. E chegar em casa. E lavar a louça. E falar minha língua. E não ter coragem para mudar tudo que quero mudar. De novo.

Everebody, together:

I don't wanna come back. I don't wanna come back.
I don't wanna come back. I don't wanna come back.
I don't wanna come back. I don't wanna come back.
I don't wanna come back. I don't wanna come back.
I don't wanna come back. I don't wanna come back.
I don't wanna come back. I don't wanna come back.
I don't wanna come back. I don't wanna come back.

I don't wanna come back...Se eu repetir com força, será que posso ficar aqui????

Everything is gonna be all right

Ela sabe que eles nunca mais vão se encontrar. E tudo bem. Ele, não. A fez jurar que quando ela cruzar o oceano, eles se verão no Parque Güell. Ela prometeu. Mas não acreditou. O mediterrâneo não está no seu roteiro para o ano que vem. E ele diz que irá ao Brasil ver os prédios de Niemeyer. Ela não liga. As lembranças sempre passam pelo portão de embarque sem olhar para trás. Ela sabe. Ele quis ir com ela de metrô. Mas a linha E termina no Queens e ele precisava ir até a Espanha. “I really love you”, ele disse. Mas a música alta de uma banda indie qualquer a fez surda. “I don´t wanna go”. “I know, but you must go”, ela respondeu com ele tão colado a ela que foi difícil dizer o que precisava ser dito. Eles se abraçaram forte. Ele beijou os lábios dela e entrou num táxi amarelo. Ela atravessou a rua levando consigo o cheiro dele guardado entre o ombro e o lóbulo da orelha direita. E o rio Hudson derramou por seus olhos.

Sobre meninos e onças

A presa sente o cheiro da onça. E finge que não a vê na esperança da onça desistir da caça. Em vão. A onça rodeia silenciosamente a presa. Sem demonstrar interesse. Para deixá-la na dúvida. A onça se aproxima lenta. Mas não ataca. A onça quer ver a presa pálida. Sentir o sangue correr frio pelas têmporas e o suor escorrer pela espinha. Quer testar o quanto é maior que a presa. E mais esperta. A onça não diz nada. Espera. O prazer da onça está no contorcer das entranhas da presa. É a tortura que a fascina. A presa se oferece na tentativa de diminuir o sofrimento. Terminar tudo logo. Mas a onça nem liga. Quer o jogo. E olha para o lado. A presa tenta, então, dialogar. A onça não escuta. E se esfrega lentamente no corpo frio da presa com a malemolência dos trópicos. A presa ajoelha e pede perdão. A onça goza. E a olha com olhos semicerrados. A presa espera o bote. Mas a onça só lhe lambe a face. Ela não quer jantar. Já teve a sobremesa.