Ele ficou parado lá. Nem feio, nem bonito. Talvez bonitinho, mas com a roupa errada: calça bege de péssimo corte, suéter liso com decote em V e sem graça, uma camiseta de gola careca por baixo e sapato preto. Com uma camisa xadrez, um All Star, uma dose de vodca e tocando baixo, ela pegava. Se fizesse cafuné, ela apaixonava. Então, era bonito. Mas foi o fone pendurado no pescoço que chamou a atenção dela. O que ouviria o menino do Ipiranga? Durante uma hora naquele trânsito da rua Augusta, ela ficou escutando a conversa dele. Devia ter uma vida tranquila aquele menino. Trabalhava, pegava ônibus, chegava em casa, tomava banho e jantava. Devia morar com pai, mãe, irmã, irmão e um cachorro labrador. Fêmea, talvez. Também devia ter uma namorada (ou noiva) nutricionista - alguém que se veste de branco no dia a dia e, por ser levada pela brisa da vida, também iria entrar de branco numa igreja. O menino do Ipiranga, que tem aquele tipo de olho que fica verde quando faz Sol, devia estar feliz com a vitória do Corinthians no campeonato paulista. E pronto. Vivia bem ele, ela concluiu.
Tão distantes esses mundos dos trovões que explodem dentro do peito dela e do outono no Ipiranga, que ela quase não foi embora. Quase ficou ali. Quase acreditou na tranquilidade. Aí, o telefone tocou e ela atendeu feliz. Era a tempestade a que ela está acostumada. E foram tomar café coado nas nuvens e misturado com relâmpagos. Bem distante do Ipiranga.
segunda-feira, 11 de maio de 2009
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