sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Pílula do cotidiano, n° 02


18h52

- ele faz um banco de madeira.

- ela faz skype e fala sobre o carnaval em São Paulo.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Pílula do cotidiano, n° 01


20h27

 - ele conserta a bicicleta no meio da sala do pequeno apartamento

- eu tomo sopa de abóbora

- tem neve no telhado do vizinho

21h09

- a prima dele, que tem cabelo azul, telefona porque está sem internet

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

E foi

E então 2013 começou após um vômito. Tudo limpo, feito o estômago de quem se descuidou e bebeu água da torneira numa madrugada quente no Rio de Janeiro. Enjoo e fogos de artifício em Copacabana. Barulho e solitude. Anda mais rápido e para frente quem sabe-se sozinho. Anda. Para. Frente.

 E anda de ônibus. Ou a pé, da Faria Lima ao shopping Morumbi. Com uma coroa de flores brancas na cabeça. Andou-se muito em 2013. Tanto que chegou aqui, do outro lado do oceano.

Anda-se sozinha, mas durante a caminhada, há de se encontrar companhia. Não há mais pai, talvez nunca tenha existido, nem avó, que se despediu elogiando meu cabelo manchado. Mas tem irmão que, com uma tatuagem, fechou meu corpo para as tristezas e descuidos do coração. Tem o avô que é só amor. Tem a madrinha com seus brincos de brilhantes, as tias que estão para o que der e vier, as primas que viraram mulheres fortes, dessas que cuidam dos outros. Tem a amiga que cuida à distância, a que te dá um envelope recheado de vida real, a que diz que te ama e sente saudades. Os amigos que compartilham meus pensamentos e meu corpo. O amigo que está vendo o pai apagar e não podemos fazer nada. Só comprar uma rifa. E há o amor, puro e sorridente, lá do alto do morro, regendo todos os encontros e desencontros.

2014 vai ser imenso. Periga não caber em 365 dias.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A palavra

Saudades, só portugueses conseguem senti-las bem porque têm essa palavra para dizer que as têm.

sábado, 19 de outubro de 2013

O ingresso

Ele está lá, fixado no painel de cortiça da cozinha da casinha em Biesdorf, em Berlim.
O ingresso.
Nele, lê-se: Patti Smith.

Sim, ela roga por nós.
Amém.

domingo, 29 de setembro de 2013

Fighter

Levo tatuada no corpo a palavra que aquele leão em forma de soldado com um inglês disléxico e sotaque grego disse que sou. E quem me deu de presente foi meu irmão.

Ninguém mais vai partir meu coração.

Ah, o amor...

O amor mora no Rio. Sob a chuva. Lá em cima, onde tudo se pode ver - da Lagoa ao Arpoador, de Copacabana ao Leblon.

Não, não é o amor que trepa. É o amor que faz vibrar os corações e as células de colágeno dos corpos ao redor. Que chama todo mundo de "nêga", como meu avô fazia com minha avó. Que abre os braços para a vida. Para o sol. Para a lua. Para o mar. Para o vento. Para a nuvem que entra pela janela. Para o coelho. O amor que nos faz todos jovens. O amor do bem. O amor que faz o mundo ser bom. E a vida, boa.

Por coincidências da vida, ou não, o taxista era cristão carismático e pregou o caminho todo. Não me incomodou. Fiquei calma. Em paz.

Ele não mentia:

"O amor alegra as pessoas, o amor cura. O amor não é sexo, não é ter. O amor é ouvir, interagir. O amor é mais forte do que a morte. (...) Deus tem sua pedagogia, ele espera. Ele está sempre falando. Carro, apartamento, barco, dinheiro. Não serve pra nada sem o bom da vida. A gente precisa do shalom. (...) Não pode profanar o coração. Sozinho a gente não faz nada. Se a pessoa ama, vê que tem talento. Pensa: tudo posso. E sai do torpor (...)."

E eu me apaixonei três vezes nos últimos dois meses. Insana e perdidamente. O primeiro é como eu. De certa forma. E disse quando já não estava apaixonada: "menina corajosa". E eu gostei. E fiquei apaixonada mais alguns minutos. O outro, bonito de cortar os pulsos, foi pra Dublin tomar cerveja. Mas quase não foi embora do meu abraço naquele domingo. E não quis conversar sobre futebol. E eu gostei. O último, ah, o último... Dentro dele há o mundo. E tanto tempo. Há um reino encantado em que quase fui princesa ("que pena que você está indo logo agora..", sussurrou ele). O príncipe mais príncipe de todos. Um príncipe que enxerga as pessoas. E que é lindo. E alto. Lindo. Alto. Lindo. Alto. Lindo. E tatuado. E lindo. Ah, o amor...

Foi por causa do jovem príncipe que percebi. Eu, que nunca soube em que momento gostaria de mudar tudo e até disse que não gostaria de mudar nada, mudaria. Mudaria o próximo passo da fração de segundo seguinte a mão dele se abrir. Aquela mão que tentei segurar em uma madrugada de 1999. Aquela mão gelada de tanto segurar o copo de vodca que tentei segurar, mas ele esticou os dedos. Ali, ali eu mudaria tudo. Tu.Do. Porque não se pode profanar o coração.

Eu aprendi.

Ah, o amor... O amor vem. A vida vem. É só chamar.